quinta-feira, 7 de novembro de 2013

HADDAD, O "MORALIZADOR" TRAPALHÃO DO IPTU ESCORCHANTE

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, finalmente está fazendo política por sua própria conta, sem a sombra de Lula, que o elegeu. E o homem é um desastre ambulante. Não entro em minudências para não desviar o foco, mas a sua atuação durante os protestos de junho já evidenciava um trapalhão, tanto ao endurecer como ao amolecer. Dez meses depois de ser incensado como o homem novo, o que se cercava de técnicos e conduziria a capital a um patamar superior de civilização, o que se vê é um político atabalhoado, que mete os pés pelas mãos, que confunde arrogância com competência. Pesquisas encomendadas pelos petistas apontam um desgaste brutal de sua imagem. E ele faz por merecer. 

A vitrine da campanha de Haddad, o tal Arco do Futuro, já era. Foi aposentado. Dele não se tem mais notícia. Saudado como uma revolução do urbanismo e do desenvolvimento planejado, descobriu-se que tudo não passava de conversa mole. Mas ainda faltava o prefeito dar o seu melhor. E ele veio com o reajuste do IPTU. Chegado ao populismo chique, engomadinho, o prefeito resolveu brincar de arranca-rabo de classes. Conseguiu aprovar na Câmara, recorrendo a manobras regimentais, um reajuste escorchante do IPTU. A proposta poderia ser chamada de um plano de vingança. Nas áreas da cidade em que o PT perdeu a eleição, o imposto vai nas alturas; naquelas em que ganhou, o reajuste é bem menor — chegando a haver redução. O prefeito justificou: estava enfiando a mão no bolso dos munícipes para manter congelada a tarifa de ônibus.
Notável! O “não” aos 20 centavos — ainda que eu considere tanto a reivindicação como a capitulação absurdas — uniu quase toda a cidade. Vocês se lembram. Boa parte dos que devem arcar com um aumento espetacular do IPTU apoiava o congelamento da tarifa. Com seu ar sereno e sábio, Haddad olhou nos olhos dos munícipes e disse: “Sabem essa medida que vocês aprovam? Então! Vocês pagarão a conta!”. Alguém poderia dizer: “Ora, ele foi realista. É assim mesmo; não existe almoço grátis…”. Eu, que não sou petista, também acho que ele fez bem, se é que vocês me entendem… Um político prudente não atrelaria o reajuste do IPTU, que é impopular, ao congelamento das tarifas, que é popular. Alegaria as necessidades que tem a Prefeitura e pronto!
Temendo protestos, os homens do prefeito na Câmara operaram manobras regimentais para aprovar a correção do imposto a toque de caixa. Conseguiriam. O Ministério Público obteve uma liminar suspendo os efeitos daquela sessão — e, pois, a aprovação do IPTU. Haddad se fez de surdo, disse não ter recebido a notificação, sancionou a lei, mesmo sabendo da existência da liminar, e mandou publicar no Diário Oficial. A reação da Justiça não tardou: tornou sem efeito a própria sanção — a Prefeitura vai recorrer. Desgaste após desgaste.
A “máfia dos fiscais”Em meio a esse tumulto, a Prefeitura deflagrou uma operação para caçar fiscais corruptos. Poderia ter sido feita há mais tempo ou, então, um pouco mais adiante. Mas não! Haddad não se preocupou com disfarces. Ficou evidente que tentou usar o caso como cortina de fumaça, como manobra diversionista. “Quem sabe esqueçam do IPTU…”
Atenção! Os elementos que vieram até agora a público são estarrecedores. Tudo indica que uma gangue operava dentro da Prefeitura, e ela tem de ser desbaratada, com as consequentes punições administrativas e sanções penais. Dito isso, consideremos: o aparato de comunicação da Prefeitura não economizou. Logo no primeiro dia, jogou o pacote de corruptos no colo de Gilberto Kassab e deixou claro que o prefeito se arvorava em paladino da moralidade. Havia chegado a hora da “faxina Haddad”.
Ocorre que o caso acabou estourando também no colo de pelo menos dois de seus principais auxiliares. Um dos acusados é sócio da mulher de Jilmar Tatto, secretário dos Transportes. Em ligação telefônica, uma mulher, que a polícia diz ser amante de Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos quatro presos na semana passada, acusa o agora secretário de governo, Antônio Donato, de receber propina do esquema. Ao Ministério Público, Paula Sayuri Nagamati, supervisora técnica da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, também o acusa. E o que a Prefeitura fez com ela? Exonerou-a!
O prefeito foi ainda mais longe: acusou Paula de fazer parte da quadrilha. Se faz ou não, isso não sei. O fato é que o Ministério Público desautorizou a acusação do petista: “A Paula Sayuri sempre foi e está sendo tratada como testemunha. Não existe qualquer acusação formal, qualquer fato imputado a ela que a coloque como investigada”, disse o promotor Roberto Bodini. Haddad e o PT saíram em defesa de Donato. O resumo que fica: “Não ouse tocar no nome de um petista, ou haverá consequências”.
Haddad está lutando desesperadamente para botar a cabeça fora d’água e se livrar do ciclo de notícias negativas. Mas está difícil. O escândalo dos fiscais não amenizou  em nada a reação negativa ao brutal aumento que ele pretende aplicar ao IPTU. Se a Prefeitura perder na Justiça, uma nova votação terá de ser feita. O desgaste será gigantesco porque ou Haddad recua e propõe um aumento menor ou insiste na proposta ora suspensa. Se a Prefeitura, como até acho provável que aconteça, conseguir derrubar a liminar, será como aprovar o aumento pela segunda vez. ATENÇÃO! ISSO TUDO SE PASSA ANTES DA CHEGADA DOS CARNÊS. A FACADA AINDA NÃO ACONTECEU.
O caso dos fiscais, queira-se ou não, detonou uma bomba no quintal de Gilberto Kassab (PSD), um aliado do PT, e acabou respingando em cabeças coroadas da própria gestão Haddad, o que forçou o prefeito a sair em defesa de um secretário. Os petistas estão tentando chamar os tucanos para a briga. Há um esforço para envolver o nome de Mauro Ricardo, ex-secretário de Finanças, na lambança. Até agora ao menos, não há um só indício a respeito.
Por enquanto, Haddad está se enrolando nas próprias espertezas. O caso da máfia dos fiscais não foi eficiente para tirar o IPTU do noticiário. Os paulistanos estão injuriados com o reajuste que o prefeito quer aplicar. Em certa medida, fazer estardalhaço com o esquema de roubalheira deixa os pagantes ainda mais furiosos: “Querem pegar o meu dinheiro para dar a ladrões”. Buliçoso, meio sem noção, o prefeito tenta envergar as vestes de polícia, denunciador e juiz. O truque, até agora, não funcionou.
O Palácio do Planalto está preocupado com as trapalhadas de Haddad. Mais insatisfeito ainda está Alexandre Padilha, que vai disputar o governo de São Paulo pelo PT. Com um cabo eleitoral como o prefeito, ele não precisa de muitos inimigos. Por Reinaldo Azevedo

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