domingo, 2 de dezembro de 2012

Fux vira alvo da artilharia pesada de Dirceu e admite que levou seu currículo para aquele que o STF, inclusive o próprio ministro, considerou corruptor e quadrilheiro


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Se querem saber por que o Brasil ainda está longe de ser uma República, leiam o vasto material que há hoje da Folha sobre a indicação do ministro Luiz Fux para o Supremo Tribunal Federal. Ele próprio fala longamente e diz coisas constrangedoras. Patéticas até. Fux decidiu falar porque os petistas estão fazendo a sua caveira nos bastidores, especialmente junto à imprensa. O mínimo que dizem é que ele foi nomeado porque havia prometido inocentar os mensaleiros. Uma vez no cargo, fez o contrário: é o único membro da corte que praticamente não divergiu do relator e agora presidente do Supremo, Joaquim Barbosa.  Fux esteve com José Dirceu e com João Paulo Cunha, dois dos condenados à cadeia, à época apenas réus. Admite que a sua possível nomeação foi debatida. Mais: encontrou-se também com a mulher de Dirceu, que é diretora do jornal “Brasil Econômico”. Agendou-se uma entrevista de cinco páginas… Vou criticar as falas de Fux, mas, antes, vai um elogio. Se os petistas estavam absolutamente certos de que Fux votaria com eles e se só pressionaram por sua nomeação com esse objetivo, impõem-se duas conclusões ditadas pela lógica: a - dado que ele era considerado um dos candidatos possíveis para o cargo e que tinha currículo para tanto, não teria sido nomeado se não tivesse feito, então, a cena; b - se nomeado foi e se não está votando conforme os petistas esperavam, deve-se concluir, ao menos, que os companheiros não têm como chantageá-lo, o que não deixa de ser um boa notícia. Alertei aqui, outro dia, que os ministros do STF tinham de se cuidar porque teria início uma onda de desqualificação. Luiz Fux é só primeiro. Outros virão. O que é mais espantoso nessa história toda é que petistas afirmam ou sugerem que o mensalão foi, sim, tema do encontro com Fux. Vale dizer: antes mesmo que o ministro fosse indicado, já se cuidava de tentar fraudar a Justiça. Reproduzo trechos da entrevista que Fux concede a Mônica Bergamo na Folha de hoje. Tudo é bastante vexatório para ele, para o STF, para a Justiça brasileira, para o País. Leiam. Volto em seguida.
(…)
ANTÔNIO PALOCCI
“Na primeira vez que concorri, havia um problema muito sério do crédito-prêmio do IPI que era um rombo imenso no caixa do governo. Ele era ministro da Fazenda e foi ao meu gabinete [no STJ]. Eu vi que a União estava levando um calote. E fui o voto líder desse caso. Você poupar 20 bilhões de dólares para o governo, o governo vai achar você o máximo. Aí toda vez que eu concorria, ligava para ele.”
DELFIM NETTO
“Em 2009, participei com ele de um debate sobre ética, sociedade e Justiça. Fizemos uma amizade, batemos um papo. E aí comecei a estreitar. Porque, claro, alguém me disse: “Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo”. Aí eu colei no pé dele [risos].”
STEDILE
“Ele me apoia pelo seguinte: houve um grave confronto no Pontal do Paranapanema e eu fiz uma mesa de conciliação no STJ entre o proprietário e os sem-terra. Depois pedi a ele para mandar um fax me recomendando e tal. Ele mandou.”
SERGIO CABRAL
“Eu sou amigo dele e também da mulher dele. E ele levou meus currículos [para Dilma]. Você tem que ter uma pessoa para levar seu perfil e seu currículo a quem vai te nomear. Senão, não adianta. Agora, também não posso me desmerecer a esse ponto: eu tinha um tremendo currículo, 17 livros publicados.”
Voltei
É patético ter de ler um ministro do Supremo a confessar que ficou cabalando votos junto a pessoas influentes para que, afinal, seu currículo fosse considerado. É evidente que jamais deveria ter pedido o auxílio de Dirceu. É evidente que jamais deveria ter se reunido com João Paulo… O dado mais espantoso dessa história toda é que os próprios petistas admitem, por linhas tortas, que estavam tentando fraudar a independência do STF. A assessoria de Dirceu vaza que houve mais de um encontro. O deputado Cândido Vaccarezza, presente ao encontro do agora ministro com João Paulo, dá a entender que se tratou, sim, do mensalão! Os petistas estão num operação para desmoralizar Fux e pespegar nele a pecha de traidor. E não têm nenhum receio de confessar que estavam armando uma conspirata para fraudar a evidência dos autos e dos fatos.

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