terça-feira, 19 de junho de 2018

Ministro Blairo Maggi diz que embargo da União Européia ao frango brasileiro é só disputa comercial

As restrições sanitárias impostas pela Europa ao frango brasileiro são, na verdade, reflexos de uma disputa de mercado. A opinião é do ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Nesta terça-feira, 19, ele disse que ele "rechaça com veemência" a alegação de que o produto brasileiro pode trazer riscos para a saúde do consumidor europeu. "A alegação é de saúde, mas eu rechaço isso com toda veemência", afirmou. "A discussão que estamos tendo com a Europa é essa: eles estão usando de números, travestidos de questão de saúde pública, para tirar o Brasil do processo de vender carne", disse o ministro. 


Blairo Maggi acrescentou que, para vender carne de frango in natura para o mercado europeu, é exigido o controle de mais de 2.600 tipos de salmonela. Porém, se o produtor brasileiro pagar um pedágio de 1.024 euros por tonelada, essa exigência deixa de existir. "Então não estamos falando de saúde pública", afirmou: "Se é questão de saúde, não tem preço que libere isso, porque em primeiro lugar estão as pessoas". Segundo o ministro, é impossível calcular o prejuízo provocado pela suspensão, pela União Europeia, da importação de frango produzido em 20 frigoríficos brasileiros. Maggi afirmou que a possibilidade de exportar toda essa quantidade para outros mercados não está consolidada. Por isso, o produto que os europeus deixaram de importar foi direcionado para o mercado interno, causando uma "inundação" da proteína no País. Com isso, o preço do frango caiu. Na esteira, também houve redução no preço das carnes bovina e suína.

"O setor de carnes vive um momento crítico", afirmou o ministro. Há cerca de um mês, o preço da soja e do milho para ração estava muito elevado. Essas cotações registraram queda nos últimos dias no mercado internacional. Mas, no Brasil, esse movimento foi anulado pela elevação do custo do frete, em decorrência da greve dos caminhoneiros. "O momento é muito preocupante. Precisamos de ações bastante rápidas para não deixar que o setor entre em dificuldade", disse o ministro. 

A ideia de questionar as restrições europeias na Organização Mundial do Comércio (OMC) continua em estudos pelo Itamaraty e pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Segundo Maggi, o caso vem sendo estudado com muita cautela. "É preciso ter certeza absoluta do que está sendo pedido, para não haver revés", comentou. 

Outro desafio enfrentado pela carne de frango brasileira, a medida antidumping provisória imposta pela China teve pouco impacto nas exportações nacionais, informou nesta terça-feira uma fonte da área técnica do governo. Levantamento preliminar feito pelo Ministério da Agricultura indicou que, mesmo com a sobretaxa, os produtores brasileiros continuam vendendo para aquele mercado. No último dia 7, a China anunciou taxação provisória adicional de 18,8% a 38,4% nas importações de frango do Brasil. Na visão do governo brasileiro, trata-se de uma medida sem consistência técnica. Isso porque não está comprovado que as importações feitas pela China prejudicam as empresas locais. Pelo contrário, elas têm crescido. A demonstração de dano à economia local é um requisito básico para a aplicação do direito antidumping. 

Outro tema avaliado por Blairo Maggi é a atual disputa comercial entre Estados Unidos e China. Segundo ele, o embate apenas traz prejuízos ao agronegócio brasileiro. "Só atrapalha", afirmou o ministro, que também é empresário do ramo. Ele explicou que, com a escalada na guerra comercial, os preços dos grãos na Bolsa de Chicago recuaram, o que é ruim para o Brasil. Em contrapartida, a saída dos Estados Unidos do mercado chinês eleva o prêmio dos grãos brasileiros, o que de certa forma "equipara" os dois efeitos. "Mas isso tem efeitos colaterais muito ruins", avaliou.

O primeiro deles é o encarecimento da produção de proteína animal, pois a soja brasileira tenderá a ficar mais cara do que a norte-americana. "Nossa produção de frangos e de suínos fica mais cara e vamos perder esse mercado para os Estados Unidos ou qualquer outro", afirmou. O risco, segundo avaliou, é o Brasil perder espaço no mercado de soja e no de proteína animal. Outro efeito é a perda de competitividade das esmagadoras de soja do Brasil, uma vez que os chineses só compram soja em grão. "Nossas fábricas vão perder para a Europa", disse. 

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