O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, se abraçaram nesta sexta-feira, 27, e se comprometeram com a “desnuclearização completa da península coreana”, pontuando um dia de sorrisos e apertos de mão durante a primeira cúpula intercoreana em mais de uma década. Os dois líderes também determinaram que assinarão o fim da guerra ainda neste ano, após conversas com a China e os Estados Unidos. "Sul e Norte confirmaram sua meta comum de conseguir uma península livre de armas nucleares através da completa desnuclearização", diz a declaração conjunta assinada pelos dois líderes após as conversas na fronteira militarizada entre os dois países.
A declaração também incluiu promessas de buscar uma redução gradual de armas militares, cessar atos hostis, transformar sua fronteira fortificada em uma zona pacífica e realizar conversas multilaterais com outros países, incluindo os Estados Unidos. “Os dois líderes declaram diante de nosso povo de 80 milhões e do mundo inteiro que não haverá mais guerra na península coreana e que uma nova era de paz começou”, disse a declaração conjunta. Além disso, Seul reconhece no texto o peso que têm nesse sentido os gestos adotados por Pyongyang, que recentemente anunciou o congelamento de seus testes nucleares e de mísseis, e o fechamento de seu centro de testes atômicos. "As duas partes concordam em cumprir com seus papéis e responsabilidades, já que os dois países reconhecem que as medidas adotadas pela Coreia do Norte para a desnuclearização da península têm uma importância significativa e são uma medida capital", diz o documento.
Mais cedo, Kim se tornou o primeiro líder norte-coreano desde a Guerra da Coreia a pisar na Coreia do Sul depois de apertar a mão do presidente sul-coreano sobre um meio-fio de concreto que assinala a divisa na zona desmilitarizada altamente fortificada entre os dois países. Alguns analistas mantêm suas dúvidas a respeito do compromisso de Pyongyang com sua desnuclearização, dada a importância capital que o regime depositou em seu programa de armas nas três últimas décadas, algo que o regime considerava fundamental para garantir sua sobrevivência. Também jogam contra as fracassadas conversas de seis lados da última década, suspensas após anos de negociações depois que Pyongyang colocou todo tipo de impedimentos para que seu arsenal e instalações atômicas fossem inspecionados, o que foi considerado uma estratégia para ganhar tempo.
No entanto, Seul insistiu que a cúpula e a declaração desta sexta-feira supõem apenas o primeiro passo de um longo caminho para limpar a península de armas nucleares. Nesse sentido, os dois líderes se comprometeram a continuar construindo a "confiança mútua" através de reuniões e conferências telefônicas regulares, como lembrou Moon. O presidente sul-coreano também concordou em visitar Pyongyang no segundo semestre para manter a atual aproximação entre os dois países, que, por sua vez, se comprometeram a cooperar para iniciar conversas com os EUA e, assim, assinar um tratado de paz definitivo que substitua o cessar-fogo que pôs fim à Guerra da Coreia. As duas Coreias "declaram o fim dos 65 anos transcorridos desde o armistício" e apostam em substitui-lo por "um tratado de paz", segundo a declaração, em alusão à situação de enfrentamento técnico em que permanecem Norte, Sul e Estados Unidos desde 1950.
Norte e Sul concluíram a Guerra da Coreia em 27 de julho de 1953 com um armistício assinado pelas tropas norte-coreanas, o exército de voluntários da China e os EUA, em representação do comando das Nações Unidas, que nunca foi substituído por um tratado de paz definitivo. "O Sul, o Norte e os EUA avançarão ativamente com a organização de cúpulas a três ou quatro partes com vistas a estabelecer um sistema de paz permanente e estável", diz a declaração conjunta. Além disso, as partes estabelecem no texto a necessidade de retomar a cooperação econômica, congelada completamente desde 2016 por causa dos testes de armas de Pyongyang, e também a cooperação no campo humanitário, que inclui uma nova reunião das famílias separadas pela guerra em 8 de agosto, dia nacional em ambos os países.
A cúpula desta sexta-feira, a primeira realizada entre líderes das duas Coreias em 11 anos, representa uma grande reviravolta para a situação na península, marcada em 2017 pelos contínuos testes de armas do regime e as trocas de ameaças com o presidente dos EUA, Donald Trump. De fato, Kim e o próprio Trump se comprometeram a realizar outra cúpula em maio ou junho para também tratar da desnuclearização de Pyongyang. Caso esse encontro aconteça, será o primeiro entre os líderes dos dois países após quase 70 anos de conflito, que começou com a Guerra da Coreia (1950-1953), e de 25 anos de negociações fracassadas e tensões por causa do programa nuclear norte-coreano.
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