quarta-feira, 21 de março de 2018

Indício muito forte de corrupção na gestão Doria, ele demite Denise Abreu e ainda vem bomba por aí na licitação do lixo


O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), escolhido pelo partido para concorrer ao governo de São Paulo, no último fim de semana, foi obrigado nesta quarta-feira (21) a demitir a "charuteira" Denise Abreu do cargo de diretora do Departamento de Iluminação Pública da prefeitura da capital paulista. Isso aconteceu porque a rádio CBN divulgou gravações de conversa da "charuteira" Denise Abreu com uma secretária dela, com a repartição de suposta propina entre as duas, paga por empresa que participou da licitação para a substituição da iluminação da cidade. O áudio indica que a "charuteira" Denise Abreu recebia propina para favorecer o consórcio FM Rodrigues, que venceu a disputa, e prejudicar o concorrente, o consórcio Walks. A PPP da Iluminação era um contrato de R$ 7 bilhões. A conversa aconteceu presencialmente em dezembro de 2017 no gabinete de Denise Abreu, diretora do departamento de Iluminação da Prefeitura, o Ilume. 

Denise diz à secretária que vai lhe dar R$ 3.000,00 relativos ao mês de novembro. O dinheiro, segundo ela, foi repassado pelo consórcio FM Rodrigues. A "charuteira" Denise afirma que aquele seria o último pagamento porque o consórcio deixaria de mandar dinheiro a ela. O motivo seria porque o grupo iria perder os contratos com a prefeitura. A FM Rodrigues é a atual responsável pela manutenção dos postes da cidade

DENISE ABREU - Eu vou te dar os seus três (R$ 3 mil)... Mas a empresa (FM Rodrigues) não tem mais contrato e eu não vou ter como arcar daqui pra frente com isso. É o último mês. Simplesmente não tem como. 

SECRETÁRIA - Nem em dezembro?

DENISE ABREU - Tô te dando agora.

SECRETÁRIA - Então, [o pagamento] que era de novembro?

DENISE ABREU - Não tem como [pagar em dezembro]. Você não tá vendo os movimentos? E ninguém faz nada, querida. Entendeu?

SECRETÁRIA - Uhum

DENISE ABREU - É um escândalo o que tá acontecendo em São Paulo e não tem um jornalista para empurrar isso. Então, querida, dançou. Não tem mais PPP, não tem mais nada, pode esquecer. Não tem fonte. Não tem fonte.

SECRETÁRIA - Tá bom, doutora. Tudo bem.

O dinheiro seria uma mesada paga pela FM Rodrigues para a "charuteira" Denise Abreu em troca do favorecimento. Parte do montante seria repassado para a secretária. Denise Abreu ficou conhecida na época do caos aéreo brasileiro, durante o regime da organização criminosa petista, do qual ela foi fiel servidora. Nesse período, Denise Abreu pediu exoneração de seu emprego estável como procuradora do Estado de S. Paulo e ser assessora da Casa Civil, para trabalhar com seu amigo José Dirceu, que tinha sido seu colega de curso de Direito na PUC paulista. Na Casa Civil ela trabalhava na assessoria jurídica, subordinada a Dias Toffoli, Nesse período, recebeu o encargo para buscar uma solução para as dificuldades da Varig. Não houve solução e o regime petralha liquidou com a empresa. Surgiram acusações de que o irmão dela trabalhava para a TAM na Europa. Depois da queda de José Dirceu da Casa Civil, no estouro do escândalo do Mensalão do PT, ela conseguiu o cargo de diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Em seu período como diretora no órgão, aconteceram os dois maiores desastres da avião aérea brasileira, com o Boeing que caiu na Amazônia após choque no ar com o jatinho da Embraer que cortou sua asa, e a explosão do Airbus da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Nesse dia, ela estava no aeroporto. Tem mais, ele voou de Brasília para São Paulo nesse mesmo avião, que seguiu a Porto Alegre, encheu os tanques de querosene até as tampas, e voltou a São Paulo. Nessa aterrissagem, com um reverso "pinado" (reverso é freio de aeronave), em pista molhada, encharcarda pela chuva (sem o "grooving" no piso, para escoar a água). O desastre da Tam resultou em 200 mortos. Ela foi processada por isso, mas absolvida, Seu advogado foi Roberto Podval, atual defensor do bandido petista mensaleiro José Dirceu nos processos da Operação Lava Jato. Quando Podval se casou, fechou um luxuoso hotel da ilha de Capri, na Itália, para receber apenas seus convidados, com tudo pago por ele. Consta que a "charuteira" teria estado entre os convidados desta grande festa. Enquanto diretora da Anac, na noite em que foi registrado o "apagão aeronáutico" no Brasil, com a greve dos controladores de võo, ela estava em um casamento de luxo em Salvador, quando foi flagrada fumando um charuto. 

Também corre a versão de que o bandido petista mensaleiro José Dirceu teria conhecido Evanise Santos, sua ex-mulher, no apartamento de Denise Abreu em Brasília. O processo do julgamento do desastre do Airbus da TAM em São Paulo gerou dificuldades nos movimentos políticos da "charuteira". Mas, tão logo ela se viu livre do processo, tratou de fomentar uma candidatura à Presidência da República que não se consolidou, pelo PEN. E também fomentou uma pré-candidatura à prefeitura de São Paulo, que abandonou para apoiar João Doria, conhecido no meio empresarial brasileiro como "João Dollar". O resultado desse apoio foi ganhar o cargo de diretora do Departamento de Iluminação Público, do qual foi agora defenestrada em um caso que tende a se ampliar muito em ano eleitoral. Com muita possibilidade, a rádio CBN pode ter mais gravações e mais documentos.

Na gravação divulgada pela rádio CBN, em outro trecho, a "charuteira" Denise Abreu reclama que ninguém na prefeitura defende a FM Rodrigues. E se queixa também de reportagens na imprensa que, na visão dela, são negativas ao consórcio: "Não há como. A empresa não vai continuar aqui. Não vai por conta dessa palhaçada. Acabou de protocolar, a FM Rodrigues, a saída dela. Ninguém quer defender a FM Rodrigues, é porque ninguém tá precisando, né? Eu não tô culpando ninguém. Só estou te dando uma satisfação. Eu tenho como (te fazer os pagamentos) porque chegou nesse ponto e eu não tenho ninguém que faça o contraponto. Vai acabar o contrato mesmo porque eu não tenho ninguém pra fazer o contraponto".

A reportagem da rádio CBN apurou que a secretária da "charuteira" é mulher de um jornalista que possui um blog independente. Com a conversa, Denise Abreu tentou pressionar a subordinada a convencer o marido a publicar matérias contra o consórcio Walks. 

A PPP da Iluminação é um dos maiores contratos do País e prevê a instalação de lâmpadas de LED em todos os postes da cidade. Há dois anos, os consórcios travam uma batalha na Justiça. O Walks é formado pela WPR, do grupo WTorre; a KS Brasil; e a Quaatro Participações, que é a controladora de outra empresa, chamada Alumni. Esta última foi considerada inidônea pelo Ministério da Transparência por envolvimento na Lava-jato.

Por isso, a FM Rodrigues pediu a desclassificação de todo o consórcio Walks. Com o mesmo argumento, a gestão de João Doria (o "João Dollar" do empresariado nacional) tentou barrar a participação do grupo na licitação. O Walks, por sua vez, diz que o fato de uma das empresas ser inidônea não pode eliminar o consórcio inteiro. O tema é motivo de controvérsia jurídica. Os tribunais ainda não têm um entendimento firmado.

Enquanto isso, a Justiça, por várias vezes, manteve Walks na licitação da PPP e mandou a prefeitura prosseguir com o processo. Quando finalmente os envelopes foram abertos, a proposta da Walks era melhor, com um custo de R$ 23 milhões por mês contra R$ 30 milhões do FM Rodrigues. 

Ainda assim, a Comissão de Licitação da prefeitura desclassificou o Walks e escolheu o FM Rodrigues. No dia 8 de março, João Doria assinou a PPP da Iluminação com o grupo. A Comissão de Licitação que eliminou o Walks foi nomeada pelo secretário de Obras, Marcos Penido. O Departamento de Iluminação, onde a "charuteira" Denise Abreu era diretora até ser defenestrada nesta quarta-feira, é subordinado à mesma secretaria. Dos nove integrantes da comissão, quatro são do departamento dela e três são da Secretaria de Obras. 

Em outro momento da gravação, Denise Abreu diz que é inimiga de Walter Torre, dono da WTorre, integrante do consórcio Walks. E que a empresa não pode ganhar a PPP porque está na Lava Jato. Diz ainda que Marcelo Rodrigues, dono da FM Rodrigues, avisou que estava saindo. 

DENISE ABREU: eu não tenho nenhum contato, nem vou me mexer com a Walter Torre. Nem vou. Ao contrário. Eu sou inimiga deles.

SECRETÁRIA: Mas a PPP você não vai ganhar?

DENISE ABREU: Não. A PPP existem dois concorrentes (pega papel e mostra)

SECRETÁRIA: Tá, me explica.

DENISE ABREU: FM Rodrigues e Walter Torre, que está na Lava Jato, denunciado (...) E com isso tudo nós estamos perdendo aqui (...) O Marcelo [Rodrigues, da FM Rodrigues] disse. 'Se eles são os santos, então vocês vão assinar [o contrato] com os santos. Eu estou partindo'. Ele tá de saco cheio, cara.

SECRETÁRIA: O sr. Marcelo?

DENISE ABREU: Opa! Especialmente da imprensa (...) Eles estão afundando, afundando a PPP. 

SECRETÁRIA: Quem?

DENISE ABREU: A imprensa.

Em outra gravação, sem conexão aparente com a anterior, a "charuteira" Denise Abreu acusa o superior dela, Marcos Penido, e o secretário de Governo, Julio Semeghini, de receberem propina da Eletropaulo, companhia de energia de São Paulo. "Por que? Porque os que ganham propina da Eletropaulo devem estar já assim: "Ai meu Deus do céu ela falou do meu propineiro e agora? Penido, Julio Semeghini, tudo mundo sabe que eles levam uma 'bola' da Eletropaulo."

PPPs são uma grande patifaria que existem para eliminar a concorrência prevista e garantida pela lei das licitações, e visam a dar direitos exclusivo para uma só empresa, ou grupo de empresa, durante décadas, assegurando mercado para elas e eliminando concorrência. Essas empresas aumentam brutalmente o valor de seus ativos e seus donos as passam adiante com valor superfaturado, com base nos contratos longuíssimos que elas detêm. As PPPs se prestam a grossas patifarias. Os Ministérios Públicos federal e estaduais precisam abrir uma grande linha de investigação desse mecanismo vigarista. Mas, como políticos são como drogados, que não podem viver sem sua constante dose de droga, tão logo passam os efeitos da ingestão anterior, eles também não passam sem os riscos de nomeações perigosas. Essas nomeações são necessárias porque encaminham conhecem os meandros dos "negócios" no setor público. E tudo dá sempre no que dá. 

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