domingo, 11 de fevereiro de 2018

Aliança de ruralistas com Bolsonaro já causa grande preocupação ao tucano Geraldo Alckmin


A consolidação da pré-candidatura ao Planalto do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) no agronegócio acendeu um alerta no entorno de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e presidenciável pelo PSDB, partido que historicamente recebe o apoio do setor. "Hoje o agro é 95% Bolsonaro", garante Frederico D'Ávila. Vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, ele é o principal consultor da área de Geraldo Alckmin. "Como novo líder do PSDB na Câmara, é difícil, mas posso atestar o mesmo. É um fenômeno claro", completa o tucano Nilson Leitão (MT), que preside a Frente Parlamentar da Agropecuária, maior grupo por afinidade da Casa, com 220 integrantes de diversas legendas. 

Na avaliação deles, Bolsonaro hoje ocupa um vácuo deixado pela centro-direita junto a produtores rurais. "Se o Geraldo continuar nessa toada, sem correr o País, fazendo só eventos 'nós-com-nós' montados pelo ITV (instituto do PSDB), dando sinais dúbios, eu digo com toda segurança, como seu amigo, que seria melhor ele concorrer ao Senado, porque ganha a eleição com facilidade e seria excelente presidente do Congresso", diz DÁvila. 

Produtor de grãos filiado ao PP, ele é irmão do pré-candidato tucano à sucessão de Alckmin, Luiz Felipe D'Ávila, que hoje tende a ser tratorado em prévias pelo prefeito paulistano, João Doria. De 2011 a 2013, ele foi assessor especial do governador. O sucesso de Bolsonaro está no discurso. "Ele fala o que o nosso pessoal quer ouvir", diz Leitão. De fato, Bolsonaro foi na quarta-feira (7) à primeira das quatro grandes feiras agropecuárias do ano, o Show Rural de Cascavel (PR). O evento recebeu também João Amoêdo (Novo) e Alvaro Dias (Podemos). Falando à platéia, ele prometeu criminalizar ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e ajudar na concessão de crédito rural. Foi interrompido por gritos de "mito". Na quinta-feira, voou a Dourados (MS), onde falou de índios para produtores locais. 

O impacto potencial do apoio do agronegócio a qualquer candidato é grande. O setor estima ter 5,5 milhões de pessoas empregadas diretamente em sua cadeia produtiva no Brasil, o que pode parecer pouco, mas cada uma delas tem família e grande capilaridade regional, o que pode amplificar tal influência para talvez quatro ou cinco vezes mais eleitores. 

Um estrategista de Bolsonaro afirmou que o trabalho de guerrilha do deputado, que viaja acompanhado do filho Eduardo e de um assessor, será mais bem estruturado. O marqueteiro Chico Mendez foi convidado a integrar sua equipe, mas declinou. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que não apoia nenhum candidato, irá chamar os nomes no páreo no começo da campanha para apresentar demandas: concessão de crédito para safra, seguro rural e infraestrutura de escoamento de produção. 

D'Ávila acrescenta como fator favorável a Bolsonaro a questão da segurança. "O produtor está com medo. Há furto de gado, de carga", diz. A CNA já identificou até a presença de "pedágios do tráfico" em hidrovias que levam soja e milho a portos do Arco Norte (AM, PA e BA). Como o deputado é incisivo em seus discursos contra a criminalidade, encontra ressonância. "Depois de abril, Alckmin terá de engrossar o discurso", afirma Leitão, que vê chances de o tucano recuperar terreno perdido. "O brasileiro não gosta tanto de agressividade, mas precisa ter segurança jurídica para trabalhar." Ele reputa a "30 anos de leis socialistas" o que chama de "preconceito contra ruralista". D'Ávila concorda e aponta erros em São Paulo que afastaram a simpatia da área. A concessão de áreas a sem-terra, a demora em anunciar o veto ao projeto da "segunda sem carne" e a inação na polêmica sobre a exportação de bois vivos pelo porto de Santos estão nessa lista.

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