quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Suecos da Saab, fabricante do caça Gripen, estão muito preocupados com as negociações da Embraer com a Boeing


A empresa sueca Saab, fabricante do novo caça da FAB, o Gripen, disse ao governo brasileiro estar "muito preocupada" com a negociação entre Boeing e Embraer –empresa que participará da produção do seu avião no Brasil. O contrato pode ser revisto se a Saab entender que segredos industriais seus podem cair na mão da concorrente americana. Uma comitiva de executivos suecos encabeçada pelo presidente da Saab, Hakan Buskhe, transmitiu a preocupação ao ministro Raul Jungmann (Defesa) e a autoridades que monitoram as conversas. Buskhe evitou falar explicitamente em risco ao contrato de 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 15,7 bilhões) na reunião, mas o recado ficou implícito aos presentes. "Essa discussão criou uma preocupação muito grande na Suécia, pois a Saab é tão estratégica para o país quanto a Embraer é para o Brasil", disse Buskhe a jornalistas ao fim do encontro. 

Segundo Jungmann, um comitê composto pela Defesa, pela FAB e pelo Ministério da Fazenda irá informar os suecos de quaisquer implicações ao programa do caça Gripen e usará seu poder de veto sobre negócios da Embraer para assegurar que "todas as salvaguardas sejam respeitadas, se houver acordo". O presidente da Saab se disse satisfeito com as conversas. "Queremos continuar essa parceria de qualquer forma. Nunca fizemos uma transferência tecnológica tão completa quanto a oferecida no Brasil", afirmou Buskhe. Dos 36 caças Gripen comprados pelo Brasil em acordo de 2013 e operacionalizado em 2015, 23 serão feitos parcialmente ou integralmente no Brasil. A FAB escolheu a Embraer como principal beneficiada da absorção de tecnologias do caça supersônico, que podem no futuro ser aplicadas a aviões civis. 

A preocupação dos suecos é óbvia. A Boeing é sua rival no mercado de caças, tanto que o F-18 da americana foi preterido na disputa com o Gripen e ambos os aparelhos estão em diversas concorrências mundo afora. Embora boa parte do Gripen seja composta por peças americanas, todo o seu "cérebro" eletrônico e sistemas de fusão de dados essenciais para garantir seu desempenho são produtos suecos –e a Saab quer proteger seus segredos industriais. A primeira proposta da Boeing, extraoficial pois não foi formalizada junto ao Conselho de Administração da Embraer, previa a compra de 100% do controle acionário da empresa brasileira, que vale aproximadamente US$ 6 bilhões. O governo brasileiro negou a possibilidade, acenando com o uso de sua "golden share" –uma ação especial herdada do processo de privatização da Embraer em 1994. 

Uma segunda alternativa apresentada sugeria a cisão da divisão comercial da Embraer, seu principal interesse, e a área de defesa, que hoje responde por cerca de 20% do lucro líquido da brasileira. O governo novamente disse não. O problema é que a fonte da inovação tecnológica da área civil da Embraer é o setor militar. Ele recebe investimento público em pesquisa e desenvolvimento sem as restrições que divisão civil tem sob regras da Organização Mundial do Comércio. Além disso, a Boeing apresentou como exemplos de salvaguarda de soberania nacional de terceiros sua operação na Austrália e no Reino Unido. "São coisas incomparáveis. Lá há linhas de manutenção e suprimento, aqui a Embraer é peça central da indústria", disse Flavio Basilio, secretário de Produtos de Defesa brasileiro. Além disso, ressaltou, a área militar não pode ficar sob gestão americana porque a legislação dos Estados Unidos determina amplo controle sobre esse tipo de produção. 

"Novos desenvolvimentos não poderiam ser feitos no Brasil sem autorização do Congresso americano", diz. Tanto ele quanto Jungmann e o representante da Fazenda, Mansueto Almeida, disseram que o Brasil não é contra a parceria Boeing-Embraer, mas que ainda esperam novas propostas para avaliar que negócio poderá ser feito. A Embraer precisa da Boeing para ampliar a sua penetração de vendas. Os americanos querem a brasileira porque ela tem pronta uma família nova de jatos regionais que eles não produzem, e a concorrente europeia Airbus acaba de adquirir uma linha desse tipo da canadense Bombardier. Além disso, os brasileiros têm uma geração nova e eficaz de engenheiros, algo que falta hoje à Boeing –empresa gigantesca, que vale quase US$ 200 bilhões.

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