terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Dono da Havan diz por que não está no Rio Grande do Sul, e ele tem toda razão

O empresário catarinense Luciano Hang deu uma entrevista muito firme e direta, em um estilo desconhecido pelos gaúchos, muito enroladores, e disse porque ainda não conseguiu colocar empreendimento seu no Rio Grande do Sul. Ele reclama que espera há dez anos pela aprovação de projetos seus, tudo emperrado pela burocracia estatal, ciosa dos seus carimbos e das suas assinaturas. Veja no video abaixo:


Luciano Hang pretende disputar a eleição de outubro deste ano para "consertar a bagunça que virou esse País”. E ele já tem uma “solução” para o Brasil, que pode ser sintetizada pelas estátuas que são marca registrada de suas lojas: liberdade, mais liberdade


Eram 36 minutos do segundo tempo do jogo entre Brusque e Marcílio Dias, clássico do Vale do Itajaí, válido pelo quadrangular final da segunda divisão do Campeonato Catarinense de 2013. O Brusque, dono da casa, vencia por 2 a 1. Mas tinha dois jogadores a menos, expulsos por reclamarem de marcações polêmicas do juiz. O árbitro então marca um pênalti questionável para o Marcílio Dias. Foi a gota d’água. A torcida se enfurece com o que considera ser um “roubo”. Integrantes da comissão técnica e da diretoria do Brusque invadem o gramado. Há tentativa de agressão do juiz. Logo depois, entra em campo um sujeito careca vestindo a camisa do time local. Ele comanda a retirada de seu time para os vestiários. É ovacionado pelos torcedores, aos gritos de “Luciano! Luciano!”. Sem o time mandante, a partida não termina. O torcedor careca era o catarinense Luciano Hang, de 55 anos, dono da patrocinadora do Brusque, a Havan – empresa da cidade que se tornou a 27.ª maior rede de comércio varejista do País, com 107 lojas de departamentos espalhadas de Norte a Sul, 12 mil funcionários e uma marca registradíssima: as amadas e odiadas réplicas da Estátua da Liberdade.

A confusão em que Luciano Hang se meteu no jogo resume o perfil do empresário catarinense: arrojado nos atitudes e nas opiniões, voluntarista, defensor ardoroso daquilo que acredita, “pop star” em Brusque. E, como não podia deixar de ser, envolvido em polêmicas. Depois do futebol, Hang quer “invadir” outro campo: a política. Mas ainda esconde o jogo

O objetivo é tentar consertar o que ele considera estar errado, como as injustiças e “roubos” cometidos por aqueles que ditam as regras da partida que transcorre no imenso gramado chamado Brasil. “Ainda não sou candidato, mas estou no jogo”, disse o empresário no último dia 5. Por enquanto, Hang ainda esconde o jogo. Não decidiu para qual partido vai migrar; no dia 5 ele anunciou que estava deixando o PMDB, sigla da qual era filiado desde 1985.


Também faz mistério sobre a cadeira que pretende disputar. “Posso pleitear qualquer cargo, como também posso apoiar alguém e também posso, com minha voz, minha vontade, ser um incentivador ou ser alguém que possa ajudar esse país a ir para o caminho que eu acho que tem que seguir”, afirmou. A indefinição só alimenta especulações do que ele quer: governo de Santa Catarina, Senado e até mesmo a vice-presidência. Há um rumor espalhado nas redes sociais de que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) considera o nome de Hang uma possibilidade para compor sua chapa presidencial. 

O dono da Havan e Bolsonaro, aliás, compartilham algumas semelhanças no discurso sem papas na língua, contra “a bagunça que está por aí” e avesso ao politicamente correto. Por exemplo: ambos defenderam o general Antonio Hamilton Mourão, que em setembro pregou que os militares deveriam intervir no País se a Justiça não resolver o problema da corrupção. Mais ou menos como se o Exército invadisse o campo para tirar o juiz que está roubando o jogo.

“Eu apoio o general Mourão. Estamos cansados – a população, nós empresários – da bagunça que virou esse País. Parabéns, general Mourão! A população está do seu lado; continue assim. Chega desse negócio do politicamente correto, de falar o que só alguns querem falar”, disse Hang num vídeo divulgado na internet. No jogo eleitoral, a camisa que Hang vai vestir é a do antipolítico

No discurso, ele já é assim. O que atrapalha o crescimento do País? “A burocracia e o grande número de políticos”, disse em entrevista ao programa do Ratinho, do SBT, em dezembro de 2016. “Ninguém mais quer saber do político que rouba mas faz, do bonzinho incompetente ou daquele que fica em cima do muro. Precisamos de políticos que não dependam daquele cargo. A maioria dos maus políticos só fez política a vida toda. Se perderem o cargo, não sabem fazer nada. Precisamos mudar esse cenário”, disse no último dia 5.

Hang diz: “Este 2018 é o ano do fato novo, é o ano do empreendedor, do empresário, o ano de as pessoas votarem em quem tem disciplina, sabe administrar e quer fazer”. Ninguém pode acusar Hang de não saber fazer. Dinheiro, pelo menos. Ele encarna o self made man. Filho de dois operários de uma indústria têxtil de Brusque, ele seguiu os passos dos pais e, aos 17 anos, começou a trabalhar no chão da mesma fábrica. Em sua biografia divulgada no site da Havan, Hang relata que uma de suas recordações daquele tempo era ir trabalhar com um sapato furado, que ele forrava com papelão para não pisar no chão frio. Não tinha condições de comprar um novo par de calçado.

Mas sua situação logo mudou. Com tino para os negócios, comprou aos 21 anos uma pequena tecelagem. Aos 24, em 1986, deu aquele que seria um pequeno passo mas um grande salto: abriu uma acanhada loja de tecidos juntamente com um sócio, Vanderlei de Limas. Da junção das primeiras letras do sobrenome de Hang com as do nome do sócio surgiu a denominação da nova empresa: Havan. Vanderlei vendeu para o sócio sua participação na Havan no início dos anos 90 e montou outra loja de tecidos. Ele queria manter os pés no chão. Hang tinha planos mais ousados: importar não só materiais têxteis, mas também produtos para vender por R$ 1,99. 


É dessa época que a Havan ganharia o visual pela qual viria a ficar conhecida. Por causa da admiração de Hang pelo espírito empreendedor dos norte-americanos: “Me perguntam: ‘Por que você gosta tanto dos Estados Unidos?’ Porque é um país que deixa você fazer”, explicou certa vez. Hang então passou a adotar nos prédios de sua loja uma fachada inspirada nas colunas neoclássicas da Casa Branca. Logo depois, vieram as réplicas da Estátua da Liberdade – uma polêmica estética: cafonas para muitos, atrativo turístico para outros . Foram sugeridas por um garoto. Hang gostou da idéia e a adotou como marca definitiva da loja. “É o símbolo da liberdade, liberdade de compra, de escolher o produto que o consumidor quer”, justificou Hang.

E elas tinham de ser grandes, como os sonhos de expansão de Hang. Aliás, a maior estátua do Brasil, com 57 metros de altura, é um dos colossos da Havan: fica na megaloja de Barra Velha, em Santa Catarina. À sombra das gigantescas estátuas, a Havan cresceu. E também se tornou uma gigante, com 107 lojas em 15 Estados. A meta para 2018 é chegar a 120 lojas. E Hang sonha ainda mais alto: quer 200 unidades até 2022. 

A rapidez do crescimento – que chega a ser de mais de uma loja inaugurada por mês – levantou rumores de quem seria o verdadeiro dono da Havan: coreanos, chineses, norte-americanos (dada a inspiração de seus símbolos) Silvio Santos, o bispo Edir Macedo, Lula (ou um de seus filhos), Dilma (ou a sua filha). A desconfiança por trás do boato era de que só uma empresa que tivesse um político ou um figurão por trás poderia ter tanto sucesso no Brasil. 

Quem é de Brusque e imediações sempre soube quem não era nada disso. Mas não o resto do Brasil. “Nunca me incomodei. Sempre pensei que quem tinha que aparecer era a empresa, não o dono”, disse Hang em dezembro de 2016. Ainda assim, foi naquela época que Hang decidiu desfazer o mal-entendido. Saiu dos escritórios e foi para a frente das câmeras. Estrelou comerciais publicitários para dizer claramente quem mandava na Havan. “Fiz a campanha para dizer que é possível, com trabalho, ter sucesso empresarial.”, complementou ele, numa declaração que deixava claro seu entendimento de que não é preciso estar ligado a políticos para crescer.

Na verdade, para Hang, os políticos e as amarras que eles impõem à sociedade são os principais problemas do Brasil. Agora que Hang planeja entrar na política, todo o seu discurso pode ser sintetizado pelo símbolo maior de sua empresa: as estátuas da liberdade. A liberdade de empreender e fazer o Brasil crescer sem que o governo, os burocratas ou quem quer que seja atrapalhe.

O que mais, para Hang, atrapalha o crescimento além de políticos e a burocracia? Uma resposta: sindicalistas intransigentes. Quando um sindicato conseguiu, no ano passado, fechar a loja da Havan em Cacoal (Rondônia), no feriado do Sete de Setembro, o empresário gravou um vídeo e o divulgou nas redes sociais para reclamar da falta de sensibilidade dos sindicalistas diante do momento do País: “O Brasil tem 14 milhões de desempregados; as pessoas querem trabalhar”.

Outra resposta: restrições urbanísticas e ambientais. No dia 8 de janeiro, ele gravou mais um de seus vídeos (Hang parece ter gostado da ideia de ir para a frente das câmeras). Desta vez para defender a construção de arranha-céus em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, por gerar “milhares e milhares de empregos”. Era uma manifestação contra, em suas palavras, “uma reportagem esdrúxula” de um dia antes do programa Fantástico, da Rede Globo. O Fantástico havia mostrado que o paredão de prédios da cidade faz com que a sombra projetada pelos edifícios tire o sol da praia durante a maior parte da tarde, além de o adensamento urbano provocado pelos espigões ameaçar a cidade de ter escassez de água no futuro.

Defensor de Balneário Camboriú, que fica próxima de Brusque, Hang não apenas reclamou da Globo, que segundo ele “está sempre do lado errado”, como viu uma vantagem adicional dos arranha-céus e de suas sombras: “Excesso de sol faz mal para a pele”. Mas o buraco da política é mais embaixo. O ardor com que Hang defende sua terra e sua gente, desde o episódio da invasão de campo em Brusque até o caso dos espigões de Balneário Camboriú, faz dele ser uma espécie de pop star em sua região. E com certeza será um importante capital eleitoral caso realmente seja candidato.

Moradores de Brusque relatam com admiração que, embora seja rico e famoso, Hang continua a frequentar os mesmos lugares, restaurantes, etc., que os demais conterrâneos. Não é incomum que ele esteja na entrada da Havan da cidade cumprimentando os clientes. O empresário também é reconhecido por investir na região, recuperar imóveis históricos, patrocinar projetos sociais, culturais e de entretenimento. Sua popularidade pode ser medida tanto nos gritos da torcida do Brusque como nos pedidos para tirar selfies nas ruas da cidade. 

Mas o jogo político no qual o empresário pretende entrar é pesado e só simpatia não ganha eleição. Hang sabe disso. E já armou seu time para contra-atacar. No último dia 5, quando anunciou sua intenção de ser candidato, sacou uma certidão negativa da Justiça para dizer que está limpo para concorrer. Hang já respondeu a processos, inclusive criminais, por sonegação e lavagem de dinheiro. “Está aqui o processo, nada consta, fomos inocentados. Temos muitos processos, sim, e vamos continuar sendo processados. O que importa é não ser condenado. Aqui está a minha certidão para as pessoas que ficam falando mal de mim. Sou transparente". 

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