sábado, 4 de novembro de 2017

Venezuela convoca credores externos para renegociação da dívida, é a véspera do calote, declaração de falência nacional


A Venezuela convocou seus credores para uma reunião em 13 de novembro em Caracas, a fim de dar início a uma renegociação da dívida externa, estimada em cerca de US$ 150 bilhões, o que ampliou os temores de moratória. "Digo aos detentores da dívida venezuelana, tenho moral para convocá-los em 13 de novembro a Caracas para começarmos um processo de refinanciamento e renegociação da dívida", afirmou nesta sexta-feira (3) o ditador Nicolás Maduro. Ele denuncia uma "perseguição financeira" por parte dos Estados Unidos, que em agosto proibiu as negociações de novas dívidas venezuelanas.

Encabeçando a comissão encarregada do processo, o vice-presidente Tareck El Aissami explicou que a reunião vai buscar "mecanismos que garantam o cumprimento de compromissos soberanos na renegociação da dívida". "Assentaremos as bases para renegociar as quitações da dívida externa da República e da PDVSA", disse Al Aissami, que está em uma lista de sancionados pelo governo dos Estados Unidos acusado de narcotráfico. El Aissami confirmou que tiveram início as transferências de US$ 1,169 bilhão para a liquidação e juros do bônus da petroleira PDVSA em 2017.

Após a liquidação deste bônus, a Venezuela deverá quitar, até o fim do ano, entre US$ 1,4 bilhão e US$ 1,8 bilhão de juros de outros títulos. Ainda estão pendentes juros de bônus que venceram em outubro, mas têm um período de carência de 30 dias. "As opções para se manterem atualizados com os pagamentos estão diminuindo rapidamente, principalmente porque qualquer restruturação deve ser acompanhada de um plano claro de reformas econômicas confiáveis, capazes de gerar confiança e apoio aos detentores dos bônus", garantiu o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit.

Com reservas de apenas cerca de US$ 10 bilhões, a Venezuela tem compromissos para 2018 que chegam a cerca de US$ 10 bilhões, em meio a uma severa crise econômica. "O risco do default está aí", disse o analista Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica. Para ele, é preciso primeiro um plano de restruturação e saneamento para renegociar a dívida: "E esse plano não existe". Os analistas acham pouco provável que Maduro mude o modelo centralizado da economia em um país que se retraiu 36% nos últimos quatro anos, à beira da hiperinflação e com queda da produção petroleira. A falta de um plano se agrava diante das dificuldades provocadas pelas sanções de Donald Trump, "que impedem os bancos baseados nos Estados Unidos de participar de um processo de restruturação", apontou Montoya.

Se a Venezuela entrar em moratória, acrescenta Oliveros, no curto prazo as pessoas podem sentir "um fôlego", porque o que o governo deixar de pagar em dívida pode ser usado para importações ou melhorias sociais, mas isso seria temporário. No médio prazo, haverá um isolamento maior, mais complicações para as operações externas, mais incerteza, que pressiona variáveis como a inflação. A moratória aprofunda a recessão", disse Oliveros.

De acordo com consultores privados, a dívida externa inclui US$ 45 bilhões em dívida pública, US$ 45 bilhões em dívidas da PDVSA, US$ 23 bilhões em dívidas com a China e US$ 8 bilhões com a Rússia, entre outras obrigações. Segundo o regime, desde 2014 o país quitou US$ 17,7 bilhões de capital e juros de dívida.

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