O governo de Portugal autorizou a negociação para a compra de cinco cargueiros KC-390, da Embraer. Se concretizado, o negócio será a primeira venda ao exterior do avião, principal aposta da divisão de defesa da fabricante brasileira. A decisão ocorreu na semana passada. Além dos cinco aviões, há a opção por mais uma unidade e a compra de um simulador de vôo do aparelho. O valor total não é divulgado, até porque cada negócio tem sua particularidade de financiamento e configuração da aeronave — no mercado, estima-se que o KC possa custar em torno de US$ 80 milhões. Parte da fuselagem e das asas do avião são produzidas em Portugal pela OGMA, empresa controlada pela Embraer. O avião, que é montado em Gavião Peixoto (SP), tem partes produzidas também na Argentina e República Tcheca, países que compõem a lista de cerca de dez clientes potenciais do cargueiro.
O negócio português é especialmente estratégico para a Embraer porque o país é integrante da Otan, a aliança militar ocidental e reduto de material bélico americano e europeu. Extraoficialmente, outro membro da Otan, a Alemanha, já demonstrou interesse no KC-390. Uma questão, caso Lisboa desejar versões com capacidade de reabastecimento aéreo, é adaptar o sistema de mangueiras e conectores para a função. Isso porque os portugueses voam caças americanos F-16, nos quais a conexão para abastecimento fica no dorso da aeronave, e não numa sonda projetada para a frente como nas aeronaves usadas no Brasil.
O modelo será apresentado para o mercado externo no Paris Air Show, feira aeronáutica que começa na semana que vem na França. O avião voará e depois fará um tour pela Europa, Oriente Médio, Sudeste Asiático e Nova Zelândia, onde participa de uma concorrência local. Hoje o avião está na Suécia, onde também será avaliado. A Embraer é parceira da Saab, a fabricante de aviões sueca, no desenvolvimento e integração do caça Gripen em versão brasileira. Isso gerou especulações, no mercado, de algum tipo de venda casada: Estocolmo poderia comprar KC-390 e fornecer mais Gripens ao Brasil, por exemplo. A FAB encomendou 36 caças, mas deseja ao todo 108 aeronaves.
A Embraer Segurança e Defesa já completou mais da metade das 2 mil horas de vôo com dois protótipos necessárias para a chamada certificação inicial, que deverá ser obtida no fim deste ano. Os dois primeiros modelos, de uma encomenda de 28 unidades, serão entregues à FAB (Força Aérea Brasileira) em 2018. Ao fim do contrato, a FAB terá investido cerca de R$ 5 bilhões no modelo, fora a compra em si de R$ 7,2 bilhões. Parte disso retornará em forma de royalties que a Embraer pagará quando começar a receber de clientes estrangeiros. O governo criou uma linha de crédito específica para defesa pensando no KC, para facilitar justamente a exportação no momento em que havia dúvidas sobre o efeito do corte de gastos federais sobre o programa.
A Embraer mira um mercado gigante, de 728 aeronaves potenciais a serem substituídas até 2025. O nicho é dominado pelo venerando Hércules C-130, da americana Lockheed Martin. A sua versão mais moderna, a J, deverá ter o preço reduzido para enfrentar a competição, mas o fato em favor do avião brasileiro é de que se trata de um projeto do século 21, birreator, enquanto o confiável Hércules voa com quatro motores a hélice desde 1954.
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