terça-feira, 18 de abril de 2017

Delator diz que Odebrecht e OAS pagaram propina de R$ 90 milhões em Abreu e Lima

O ex-executivo da Odebrecht, Márcio Faria, relatou em depoimento que o consórcio formado pela empreiteira e pela OAS pagaram propina de R$ 90 milhões para garantir dois contratos em obras da refinaria de Abreu e Lima, localizada em Suape, no litoral sul de Pernambuco. O depoimento de Faria faz parte dos mais de mil arquivos de vídeos com as delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht. Os depoimentos se tornaram públicos na semana passada, quando também saiu a lista do ministro Édson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, com pedidos de inquéritos para investigar os políticos citados. Durante o depoimento, o ex-executivo relatou que as duas empresas pagaram propina ao ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014; ao ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa; ao ex-deputado e ex-presidente do PP José Janene, morto em 2010; ao ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco; e a Glauco Colepicolo, gerente do empreendimento na refinaria. Na delação, Márcio Faria relata que a propina paga a Eduardo Campos foi solicitada por Aldo Guedes, que se identificou como emissário do então governador de Pernambuco. Segundo o delator, o emissário pediu propina de 2% do valor dos contratos que, segundo Faria, representaria R$ 90 milhões. De acordo com o ex-executivo da Odebrecht, Guedes disse que a contrapartida pelo pagamento era o “apoio incondicional” do governo de Pernambuco ao trabalho da Odebrecht. "(Ele) Disse que o governo de Pernambuco ia dar um apoio incondicional na condução do contrato e com ênfase muito forte nas relações sindicais, uma vez que você ia ter 50 mil pessoas de todas as contratistas e que ele poderia ajudar", relatou. No depoimento, Faria relatou que disse ao suposto emissário de Campos que não havia possibilidade do pagamento de R$ 90 milhões, e disse que cada empresa do consórcio pagaria R$ 7,5 milhões, o que totalizaria R$ 15 milhões. "Ele (Guedes) chiou, reclamou. Falei: 'olha, é o que nós temos'", disse o ex-executivo. Ele afirmou ainda que o pagamento da parte da Odebrecht foi operacionalizado por Hilbero Mascarenhas, outro dirigente da empreiteira. Segundo Márcio Faria, os R$ 7,5 milhões foram pagos a Aldo Guedes por meio de uma agência de Turismo de Recife. "Eu soube pelo Hilberto que foram feitas algumas tentativas de mandar esse dinheiro para uma conta na China, acho que mais precisamente em Hong Kong. E não sei por que esse dinheiro foi e voltou várias vezes. Não sei se era dado equivocado na conta ou algum coisa e ele não conseguiu fazer o deposito em Hong Kong", explicou. "O plano B foi o seguinte: ele (Aldo Guedes) indicou uma agência de turismo que funcionava no fundo de um restaurante. (...) E essa empresa viabilizou o pagamento de alguma maneira, que nós entregamos os reais para eles e ele converteu de uma maneira que achou mais conveniente. (...) É uma agência chamada Mônaco", disse Faria. Sobre os outros R$ 7,5 milhões, que caberiam à OAS, Márcio Faria disse não saber como o pagamento foi operacionalizado. No depoimento, o ex-dirigente da Odebrecht também relatou pagamento de R$ 30 milhões em propina ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e ao ex-deputado federal José Janene. Márcio Faria afirmou que a negociação sobre o valor do pagamento aos dois foi "muito difícil" porque eles queriam "valores excessivos". Segundo ele, a pedida era de 1% do valor dos contratos, que chegaria a R$ 45 milhões. O valor, segundo o delator, seria repartido entre Costa e Janene. O ex-deputado federal, morto em 2010, foi, de acordo com Faria, o responsável pela indicação de Paulo Roberto Costa para a Petrobras porque era o presidente do PP à época. Segundo Faria, a negociação sobre o valor da propina a ser paga foi feita em uma reunião na casa de José Janene. "(Eles) Me chamaram para uma salinha pequena dentro do apartamento e ficou presente Janene, Paulo e eu. E, sem muito rodeios, Janene tomou a palavra e disse: 'Olha, vocês então aí com um contrato na área do Paulo, como você sabe o Paulo é indicado pelo PP' - aquela conversa toda - 'e eu entendo que vocês vão pagar R$ 45 milhões'", relatou o ex-executivo. Ele disse que, após ouvir o então deputado, respondeu que a Odebrecht não teria condição de pagar o valor porque o contrato não permitia. Ele, então, disse que o valor que seria pago a Janene era de R$ 15 milhões. "E o Janene era uma pessoa muito difícil, muito arrogante, arrogante mesmo. Ele se indignou, falou que não assinava contrato. Assim, fez um carnaval. Que não, não era, a expectativa não era essa. Falei: 'Olha, o que tem vai ser isso e nós vamos pagar somente R$ 15 milhões'", narrou Faria. "O Paulo, muito político, entrou na conversa. Falou: 'Gente, calma', botou panos quentes, falou: 'vamos, vai ter mais negócios'. Falei: 'Janene, tenho que ir embora, não adianta ficar discutindo muito. É pegar ou largar, é o que tem'", disse o ex-executivo. Ele relatou que, mesmo contrariado, Janene decidiu aceitar o valor sugerido. Questionado sobre se o valor acertado com Janene seria destinado a bancar alguma campanha política, Márcio Faria respondeu: "Era pro Janene. Ele dizia, como presidente do partido, que esse dinheiro era para acomodar o partido, ele representava o Partido Progressista. Não tinha mais ninguém que a gente conversava. O dinheiro era encaminhado para ele, o destino a gente já não sabe". Márcio Faria disse, porém, que Paulo Roberto Costa recebeu outros R$ 15 milhões pelos contratos porque, segundo ele, o ex-diretor da Petrobras "trabalhava numa propina só para ele". Ele afirmou ainda que Costa pediu a ele que "escondesse" os valores de José Janene, para que ele não soubesse do pagamento por fora. O pagamento dos valores a José Janene foi feito pela OAS, segundo o ex-executivo. Mas, como o ex-deputado havia falecido no momento do repasse, o dinheiro foi pago ao doleiro Alberto Youssef. No caso de Paulo Roberto Costa, o valor foi pago pela Odebrecht, de acordo com Faria. Ainda de acordo com Márcio Faria, houve pagamento de R$ 30 milhões ao então gerente da Diretoria de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco. O valor foi autorizado pelo ex-executivo em acordo com a OAS, segundo o depoimento. Faria narra que o valor era menor do que o que era solicitado normalmente à Diretoria de Serviços, que era de 1% do valor dos contratos. Ainda segundo o ex-executivo, o pagamento foi feito em várias parcelas durante "um ano e meio ou dois". "O Barusco recebia tanto em efetivo no Rio de Janeiro com a apresentação de senha, ou contas bancárias no Exterior que ele indicava. Agora daí para frente, como ele repartia esse dinheiro, não sei porque as contas ele informava e a gente não sabia quem era o dono das contas", explicou. De acordo com Márcio Faria, Barusco aparece nas planilhas da Odebrecht com o codinome "Morcego". Ainda de acordo com a delação de Márcio Faria, o último beneficiário do pagamento de propina nos contratos foi Glauco Colepicolo, gerente de implantação dos empreendimentos na refinaria. De acordo com o ex-dirigente da Odebrecht, foi acertado o pagamento de R$ 15 milhões. O delator explica que o valor foi pago porque ele seria a "relação direta" do empreendimento com o consórcio e teria prometido "ajuda" para viabilizar pedidos das empreiteiras durante as obras. "Ele era o gerente de implantação do empreendimento. Talvez fosse a figura mais importante dentro do projeto. Então ele prometeu ajudas, rapidez e celeridade às aprovações dos nossos direitos - o que, infelizmente, não ocorreu", comentou Faria.

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