segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Órgão dos EUA impõe multa à Deloitte de US$ 8 milhões em caso envolvendo a Gol



A agência norte-americana que regulamenta empresas de auditoria impôs à subsidiária brasileira da Deloitte uma multa recorde de US$ 8 milhões (cerca de R$ 27,4 milhões), por falsificar relatórios de auditoria, alterar documentos e prestar falsos depoimentos durante uma investigação que revelou o que a agência descreve como sua "mais grave" constatação de irregularidades. O Conselho de Fiscalização da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto (PCAOB) também impôs sanções a 12 antigos sócios da empresa, incluindo um diretor nacional, e a auditores da Deloitte Touche Tohmatsu Auditores Independentes, sediada no Brasil. O PCAOB afirma que a Deloitte estava ciente de que a companhia de aviação Gol, sua cliente, não tinha comprovação suficiente para sustentar "um montante potencialmente importante de depósitos de manutenção" que estava reportando. Os auditores seniores da Deloitte também sabiam que a contabilidade da empresa estava sendo revisada em busca de declarações incorretas, mas ainda assim divulgaram seu relatório de auditoria e autenticaram como corretas as informações financeiras prestadas pela companhia. Em 2012, inspetores da PCAOB estudaram as auditorias da Gol durante sua revisão do trabalho da Deloitte Brasil. O sócio que respondia pela conta da Gol teria instruído sua equipe a alterar os documentos de trabalho, segundo o documento de acordo extrajudicial entre a agência de fiscalização e a empresa. O sócio também disse ao pessoal que alterasse documentos de trabalho de outro cliente, cujas auditorias também estavam em revisão, afirmou o PCAOB. A agência de fiscalização de auditorias mais tarde iniciou uma investigação e afirma que esta sofreu novas obstruções de parte de auditores da Deloitte, que submeteram os documentos de trabalho alterados aos inspetores. Auditores seniores da Deloitte depuseram falsamente, sob juramento, que os documentos de trabalho alterados eram documentos originais, de acordo com os termos do acordo extrajudicial. Os investigadores compararam documentos e descobriram que algumas coisas haviam sido mudadas. "A documentação que eles geraram durante a auditoria havia sido alterada para que nossos inspetores não pudessem identificar, por exemplo, a importância daquelas deficiências em depósitos de manutenção", disse Modesti. A Deloitte conduziu uma investigação interna, depois que os fiscais revelaram suas preocupações sobre documentos alterados, e foram localizados 70 documentos de trabalho alterados nas auditorias da Gol. O PCAOB afirma que os líderes da empresa também obstruíram os investigadores quando estes tentaram estudar o caso do segundo cliente. Em janeiro, um administrador sênior que trabalhou na auditoria da Gol deu aos investigadores do PCAOB gravações que tinha feito em seu celular de conversas com um sócio sênior. Em uma das gravações, feita em 2014, já durante a investigação das autoridades regulatórias, o sócio sênior disse ao administrador que "qualquer prova que você tiver sobre isso, remova-a de sua máquina. Guarde-a — se você tiver algo desse tipo, guarde em outro lugar, mas não em sua máquina, não no escritório, ok?" "Tudo que você me contou, tudo que discutimos, nunca aconteceu", acrescentou o sócio sênior. Todos exceto um dos antigos sócios e auditores foram proibidos de trabalhar para empresas ou de intermediar negócios que estejam sob a jurisdição do PCAOB. Um dos sócios foi proibido permanentemente e os demais enfrentam suspensões que variam de um a cinco anos. Na história do PCAOB, só três auditores que sofreram suspensões conseguiram retornar a esse trabalho. O caso da Deloitte Brasil é o primeiro em que o PCAOB acusa uma das quatro grandes empresas mundiais de auditoria de fraude e de ter se recusado a cooperar com uma investigação. Ao aceitar um acordo para encerrar o caso, a Deloitte Brasil admitiu ter violado padrões de controle de qualidade e não ter cooperado com a inspeção das autoridades norte-americanas e com a investigação subsequente. "Trata-se do mais sério delito de conduta que já descobrimos. Houve acobertamento atrás de acobertamento atrás de acobertamento", disse Claudius Modesti, o diretor de fiscalização do PCAOB: "Como investidor, você teria a expectativa de que a auditoria fosse conduzida de forma apropriada e suficiente, e não é esse o caso que temos aqui". Além da multa, que é a maior já aplicada pelo PCAOB, a Deloitte aceitou ser submetida a monitoramento independente, e foi proibida de assinar com novos clientes de auditoria até que cumpra as metas corretivas. Em uma investigação separada, o PCAOB multou a Deloitte México em US$ 750 mil por alterar documentos em outro caso. Representantes da Deloitte não foram localizados até o momento para comentar. 

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