Petistas disfarçados de cientistas resolvem aparelhar reunião da entidade; nisso resulta a mediocridade intelectual com a convicção sectária
Por Reinaldo Azevedo - O ensino brasileiro, como se sabe, é um lixo em todos os níveis, havendo em cada um deles, ilhas de excelência, histórias episódicas de qualidade. Feliz e infelizmente, quase nunca faltam recursos. O país está na trilha errada. Vamos ficar no topo da cadeia: a única universidade que aparece relativamente bem em rankings de respeito é a USP. Não obstante, o Brasil deve ter aquela que é a maior rede de universidades estatais do mundo. Reitero: não são fundações; não são entidades de utilidade pública convertidas ao ensino; não são associações profissionais ou confessionais que decidem se dedicar a esse mister. Não! São repartições do Estado mesmo. É fácil saber por que somos essa coisa triste, melancólica, sem importância, condenada à irrelevância. Um professor de química da Universidade Federal de Pernambuco, nascido em São Paulo, explica tudo. O nome dele é um emblema e uma contradição em termos: Antônio Carlos Pavão. Como os pavões, ele é amostrado. À diferença dos pavões, ele nem chega a ser vistoso.
Explico
A presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Helena Nader, anunciou, na reunião anual da entidade, que, desta vez, se dá em Porto Seguro, que decidiu entregar o cargo. E ela optou por isso depois de ter sido agredida pela patrulha ideológica disfarçada de amor à ciência que lá estava. Parte dos presentes se mostrava contrária à fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações. A pasta foi criada em 1985. Como se sabe, de lá pra cá, descobrimos a pólvora verde-amarela, certo??? Até aí, muito bem! As pessoas podem ter a opinião que lhes der na telha. A professora Helena Nader apenas opinou que à SBPC não cabe entrar em embates políticos que digam respeito a Dilma Rousseff, a Michel Temer, às miudezas político-partidárias. E está certa. Ah, mas não é o que pensa o Pavão pouco convincente. Ele tomou a palavra e mandou ver: “Fora Temer e seu bando! Aqui a unanimidade é fora Temer! Estou ouvindo coisas que eu não gostaria de ouvir da SBPC. A SBPC está em cima do muro. Negociou com golpistas, fez reunião com golpistas”. Isso não é ciência. Isso nada tem a ver com química, que é a especialidade do valente; isso nada tem a ver com ensino; isso nada tem a ver com o progresso. O pavão depenado do bom senso só demonstra ignorância específica. Não sabe o que dizem a Constituição e as leis do Brasil. Não fala como cientista, mas como militante político — e, pior, como burocrata do atual velho regime. Depois de Pavão excitar as massas com sua estupidez orgânica e sua cultura política inorgânica, alguém da platéia — algum outro petralha — gritou contra Helena Nades: “Pelega!” Irritada, ela anunciou que entregaria o cargo. E desabafou mais tarde: “No ato, houve várias manifestações em relação a diferentes posições, inclusive político-partidárias. Até que, de forma agressiva e não democrática, me acusaram de pelega, de chapa-branca e uma série de coisas. Amanhã estou entregando ao conselho da SBPC meu cargo porque não concordo com isso. Não estou aqui em um trabalho pro bono para ser agredida”. De fato, não é todo mundo que tem paciência com esses delinquentes.
E ela acrescenta:
“Fui colocada como pró-Temer quando nunca me posicionei nem pró-Dilma nem pró-Temer. Eu tenho a minha posição, mas a SBPC, não. Por isso que a SBPC, de forma sábia, não tomou posição. Não que ela não acredite na política e na política partidária, mas ela representa um todo. Não posso opinar em favor de um grupo ou de outro”. A professora está certa. É o que se exige numa democracia. Ela emenda ainda: “A SBPC só sobreviveu 68 anos por causa disto: a gente conseguia discutir, brigar. Hoje, não tem mais isso. O que eu espero de verdade é que esses conflitos parem de existir, ainda mais no meio acadêmico". Como se nota, lemos aí a voz da tolerância. Notem: ela não faz questão de ser nem pró-Dilma nem pró-Temer. Com Pavão, o papo é outro: “Considerando toda sua história de luta política, a SBPC não poderia ficar com a posição indefinida em relação ao que eu e vários outros colegas classificamos de golpe. Eles alegam que não é unanimidade (ser contra o governo Temer), mas a sociedade só decide coisas por unanimidade?” É verdade! A sociedade nem sempre decide as coisas por unanimidade. Pavão aprendeu com seus colegas petistas a resolver as coisas no berro. Tentei saber quem é Pavão. Na sua área, não produziu, como ele mesmo sabe, nada digno de nota. Estabeleceu-se como burocrata do “Espaço Ciência”, que era bancado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Não importa! Ele poderia até ser um gênio. O fato é que não tem o direito de cobrar, nesses termos, que a SBC adote uma posição que é principalmente política, ideológica mesmo. Eis aí a ciência sob a era petista: ocupação dos aparelhos pela mediocridade satisfeita de sei.
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