quarta-feira, 27 de abril de 2016

Um texto contra a nomeação de um homem honesto para o ministério do governo Temer

Antônio Cláudio Mariz de Oliveira reúne todas as condições técnicas e morais para ser ministro da Justiça, mas acho que não pode ser nomeado

Por Reinaldo Azevedo - Todo mundo dá opinião sobre futuros ministros, não é mesmo? Então eu vou fazer o mesmo. O criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira pertence à categoria dos criminalistas de primeira linha do País. É um homem inteligente, capaz, ponderado. Seria um bom ministro? Acho que sim. Ocorre que a mulher de César passa por um momento delicadíssimo. Não basta ser honesta. Tem de parecer também. E não me refiro àquela honestidade que revela caráter. Os tempos têm o seu espírito. E o espírito dos tempos em curso tem uma tolerância muito curta com a corrupção — e isso é bom — e entendimento nem sempre amplo das sinuosidades do direito: e isso não é bom. Mariz tem clientes envolvidos na patranha do petrolão. Até aí, ok. Criminalistas não costumam ser contratados por santos — embora, obviamente, os inocentes também precisem deles. Ocorre que ele assinou um manifesto de juristas contra a Lava Jato, que já cometeu, sim arbitrariedades. Mas ela não caiu no gosto da população por causa disso. E sim porque se experimenta a sensação de que esta é uma das raras vezes no País em que a corrupção está sendo combatida com o devido rigor. Não tenho nada contra o doutor Mariz. Já falei com ele ao telefone umas três vezes. É inteligente e agradável. Mas acho que Temer estará cometendo um erro se o nomear para a Justiça. Com as suas mesmas qualidades, há outros. Que, no entanto, não carregam a pecha de adversários do que os brasileiros entendem como um divisor de águas na luta contra os larápios. Temer sabe que existe um movimento organizado e poderoso para deslegitimar a sua posse e o exercício da Presidência. Usarão contra ele o que existe e o que não existe; distorcerão fatos; reescreverão a história; transformarão, como diz o povo, um mosquito num boi. Manter coesa a sociedade brasileira, reunificá-la, como Temer diz que pretende fazer, é tarefa imperiosa. Então para que gerar marola desnecessária? Mariz também é um adversário conhecido da delação premiada, instrumento sem dúvida central na Operação Lava Jato. Eu mesmo acho que ela tem de ser disciplinada para que, sob o pretexto de se caçarem bandidos, a gente não acabar protegendo… bandidos. Mas que essas coisas todas mereçam o devido tratamento no foro adequado. Num momento de transição como o que vivemos, não pode haver espaço para ambiguidades. Sempre notando que, assim como José Eduardo Cardozo nada pôde contra a Lava Jato, nada poderia Mariz. Não importa. Um presidente também tem de pensar nos simbolismos, o que Dilma nunca fez. É justo eu escrever um texto contra a nomeação para o Ministério da Justiça de um homem capaz, inteligente e honesto? Infelizmente, é justo, sim!

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