quarta-feira, 16 de março de 2016

Delcídio diz que Paes agiu para atrasar quebra de sigilo em CPI dos Correios

Sub-relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios em 2005, quando era deputado federal, Eduardo Paes (PMDB), atual prefeito do Rio de Janeiro, foi citado pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em sua delação, homologada nesta terça-feira (15) pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Segundo Delcídio, Eduardo Paes teria agido para postergar o pedido de quebra de sigilos do Banco Rural, atendendo a solicitação do então governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Tanto o prefeito do Rio de Janeiro quanto o senador mineiro negaram qualquer ação neste sentido. A CPMI dos Correios, então presidida por Delcídio, pediu em 2005 uma série de quebras de sigilo bancários. "Quando foi feito este pedido de quebra dos sigilos do Banco Rural, começou a surgir um certo incômodo por parte do PSDB", narrou Delcídio, segundo o documento de sua delação. "O então governador Aécio Neves era uma dessas pessoas incomodadas com essa quebra. (...) Aécio Neves enviou emissários para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados", disse o delator. Um dos emissários de Aécio Neves teria sido Eduardo Paes, então secretário-geral do PSDB e sub-relator da CPMI. Delcídio afirmou em sua delação que "foi convencido" a prorrogar o prazo para a entrega dos dados bancários solicitados. Posteriormente, ao receber o que solicitara, o senador petista afirmou ter se surpreendido ao notar "que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Rural". Segundo Delcídio, a "maquiagem" dos dados foi confirmada por Paes e por Aécio. "Os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais", afirmou Delcídio na delação. Segundo ele, os dados bancários foram adulterados porque comprovariam a gênese do chamado "mensalão mineiro". Em mensagem enviada por sua assessoria, o prefeito do Rio negou as acusações. Paes disse não ter sido procurado por Aécio ou por qualquer representante do Banco Rural para tratar do assunto. "O prefeito desconhece que tenha havido maquiagem em quaisquer dados, mesmo porque o trabalho de investigação fora acompanhado por técnicos do Tribunal de Contas da União e do Banco Central. De qualquer maneira, segundo Eduardo Paes, quem deve esclarecimentos sobre eventuais contas no Banco Rural é o senador Aécio Neves", informou a assessoria do prefeito. Ainda na nota, Paes "reitera que tem muito orgulho de ter participado da CPMI dos Correios como sub-relator e ter ajudado, com as investigações e fatos apurados, a denunciar esquema de desvio de dinheiro público". O senador Aécio Neves informou em nota que "jamais tratou com o delator Delcídio de nenhum assunto referente à CPMI dos Correios. Também jamais pediu a ninguém que o fizesse". "É fácil demonstrar que o PSDB não atuou na CPMI dos Correios com o objetivo de proteger ninguém. Pelo contrário, pode ser comprovado o posicionamento do PSDB na CPMI em favor do aprofundamento das investigações de todas as denúncias feitas durante os trabalhos da comissão, incluindo aquelas relacionadas a nomes de integrantes do partido", informou a nota na página do PSDB, na internet. A CPMI dos Correios foi criada, inicialmente, para investigar o pagamento de propina na empresa pública. Sua origem foi a divulgação, pela revista "Veja", de uma fita de vídeo em que o então funcionário dos Correios Maurício Marinho aparece recebendo propina de um grupo de empresários. Marinho diz no vídeo que recebia o dinheiro com autorização do então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Em entrevista à Folha, Jefferson revelaria o esquema do mensalão, de pagamentos regulares a deputados em troca de apoio. A partir daí, a CPMI ampliou seu foco, passando a investigar parlamentares.

Nenhum comentário: