O elevado Costa e Silva fere a sensibilidade democrática de Fernando Haddad…
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), não passa de um demagogo barato — e exerce, ora vejam, o pior tipo de demagogia, que é aquela voltada para as minorias radicalizadas que o aplaudem, pouco importa a causa que abracem. Provoca em mim aquela estranha sensação da “vergonha alheia”. Sempre que o vejo, eu me penso em seu lugar, indagando-me: “Que diabos, afinal, eu estou fazendo aqui?”. Agora ele decidiu que a cidade precisa mudar o nome de logradouros públicos que homenageiem pessoas que colaboraram com o regime militar. Vou demonstrar por que não passa de um farsante político. Antes, algumas considerações.
Haddad é ruim pra fazer creches. Haddad é ruim pra fazer casas próprias. Haddad é ruim pra fazer corredores de ônibus. Haddad é ruim pra fazer ciclofaixas — sim, elas são verdadeiros atentados ao planejamento, ao urbanismo e à segurança de eventuais ciclistas e dos pedestres.
Haddad é um discurso em busca de eficiência.
Haddad é uma militância em busca de uma causa.
Haddad é um reformador em busca do desacerto do mundo.
Haddad é um político em busca de uma política.
Haddad é um desocupado em busca de uma ocupação.
Haddad é o petismo na sua fase de esclerose.
Haddad é a minoria chique cansada do que considera vulgaridade dos pobres.
Haddad é o Pestana municipal do conto “Um Homem Célebre”, de Machado de Assis. Ele gostaria de ser o criador de uma sinfonia administrativa, mas de seu cérebro travesso não saem senão polcas: ideias mixurucas e malsucedidas.
Haddad não é nem uma inteligência em busca de um caráter nem um caráter em busca de uma inteligência. Haddad não se mede por esses critérios; tampouco devemos forçar a sintaxe para pôr em relação transitiva esses dois substantivos.
Cheguemos ao ponto. Não podendo oferecer creches, casas ou corredores de ônibus, o prefeito resolveu mudar o nome de logradouros da cidade. Quer banir homenagens a pessoas que colaboraram com a ditadura. O objetivo parece nobre e certamente cairá no gosto das minorias radicalizadas que o aplaudem. Amplos setores da imprensa babarão de satisfação.
O projeto, como tudo de sua lavra, tem um nome pomposo para uma tese cretina: “Ruas da Memória”. A primeira proposta já foi encaminhada para a Câmara Municipal e quer trocar o nome do Viaduto 31 de Março por viaduto Therezinha Zerbini, uma das pessoas que lutaram pela anistia no país.
Notem! Todos os dias surgem uma ou mais destas coisas: ruas, praças, vias, canteiros, parques, jardins, escolas, postos de saúde… Escolham aí. Não me oponho a que Therezinha Zerbini e outros possam ser homenageados. Mudar, no entanto, o nome de um logradouro frauda a história em vez de resgatá-la. Ora, é preciso que se tenha claro — e isto também faz parte da nossa trajetória — que houve um tempo em que se batizou um viaduto homenageando a data de um golpe militar.
Eu gosto disso? Eu não! Mas, até aqui, Haddad só está sendo estúpido. Ainda não provei ser um farsante político nessa questão. Vou provar já, já. Falo ainda um tanto mais da estupidez. Embora não seja da alçada municipal, pergunto: devemos lastimar todas as vezes em que lemos o nome “Fundação Getulio Vargas”? Alguém nega que tenha sido um ditador? Alguém nega que o Estado Novo tenha matado e torturado mais do que a ditadura militar? Alguém nega o caráter obviamente autoritário do seu primeiro período à frente da Presidência?
O que Haddad quer? Seguir os passos de uma escola na Bahia, que mudou o seu nome de Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Colégio Estadual Carlos Marighella, de sorte que saiu o ditador para entrar, em seu lugar, um assassino?
Reitero: à luz da história, mesmo eventos dessa natureza história são. Não se pode reinventá-la, ainda que se possa reescrevê-la com vieses distintos.
O farsante
Mas esse é só terreno da estultice teórica do professor Haddad. Há a farsa política. Na lista dos logradouros cujo nome ele quer alterar está o Elevado Costa e Silva, conhecido país afora como “Minhocão”, um monumento ao horror arquitetônico erguido na cidade por Paulo Maluf e inaugurado no dia 25 de janeiro de 1971. O nome é uma homenagem ao general ditador que governou o Brasil entre 15 de março de 1967 e 31 de agosto de 1969. O homem que assinou o AI-5 ganhou o agrado, anunciado quando ainda estava vivo, porque foi quem indicou Maluf para a Prefeitura.
Haddad, este grande amante dos direitos humanos, ora vejam, não quer um elevado com o nome de Costa Silva, mas tem justamente em Paulo Maluf, um dos políticos que colaboraram mais ativamente com a ditadura, um de seus principais aliados na cidade. Haddad quer mudar o nome do elevado, mas entregou a Maluf as chaves da companhia municipal de habitação, a Cohab, com orçamento de mais de R$ 200 milhões e mais de 100 cargos de confiança, de livre nomeação.
A aliança do bom garoto com Maluf, que deu nome ao elevado, é ética superior
Ainda agora, Maluf está empenhado em impedir que o apresentador José Luís Datena se lance candidato a prefeito pelo PP porque quer manter os cargos na Prefeitura até a undécima hora. Acha que nem Datena nem Haddad vencerão, mas não quer largar o osso antes da hora.
O prefeito que trocou afagos com Maluf nos jardins da Babilônia da casa do velho matreiro, com a mediação de outro velho matreiro, Lula, sabe que as Mafaldinhas & Remelentos de esquerda se contentam com a troca do nome de um viaduto. Que importa que a área de habitação esteja entregue àquele que batizou o elevado com o nome do general? Haddad chuta os beneficiários mortos da ditadura militar e se ajoelha diante dos beneficiários vivos. Homem corajoso!
Haddad é a fraude política mais engomadinha que São Paulo já produziu. É mais uma das heranças malditas de Lula. Mas terá vida política curta. Por seus próprios méritos. Por Reinaldo Azevedo
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