Não é possível! Como os leitores estão cansados de saber, acho que o melhor lugar para Dilma Rousseff é o conforto do lar, lendo seus livrinhos de antropologia, deixando esse papo de governo para quem tem mais vocação, mais talento, mais paciência para ouvir. Mas não sou inimigo da presidente, obviamente. A inimizade é uma expressão da intimidade, ainda que vivida pelo avesso. A inimizade é o amor negativo, né? Na origem, podem procurar, está a inveja, o afeto não correspondido, a traição, o ressentimento… Notem que todos eles são expressões de uma admiração destrambelhada. O que eu sinto por Dilma? Nada. Mas há, certamente, quem a odeie por um daqueles motivos acima elencados. Quem? Bem, não sei o nome da pessoa. Mas sei que ela existe e o que ela quer: no caso, sugeriu à presidente que deixasse correr a ideia de que o governo planeja recriar a CPMF — e não com alíquota pequena, não: 0,38% sobre qualquer transação bancária. Desta feita, já escrevi aqui, nem mesmo se pretexta a necessidade meritória de dar verba para a saúde. É que o governo está com um rombo no caixa, está fabricando déficit primário e precisa dar um jeito de tapar o buraco. Então, o tal inimigo íntimo pensou: “Por que a gente não tunga de novo o contribuinte?” É espantoso! Bem, tão logo a notícia começou a circular, os protestos pipocaram de todo lado. Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, mesmo na sua condição de neoconvertido, advertiu que será difícil a proposta passar pelo Senado. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não se converteu, fez advertência idêntica. A Folha ouviu algumas opiniões. Robson Andrade, da Confederação Nacional da Indústria, classificou a ideia de “absurda”: “Mais um imposto para a sociedade pagar, enquanto o caminho ideal seria o governo promover uma redução de gastos públicos para deixar a economia se recuperar”. “É um total retrocesso na economia do país. Os gastos do governo é que devem ser reduzidos e mais bem-administrados, enxugando a máquina pública”, disse Kelly Carvalho, assessora econômica da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo). Não é diferente a estupefação do presidente da CNS (Confederação Nacional de Serviços), Luigi Nesse: “É uma loucura criar novo imposto no Brasil em um momento de crise e fragilidade das empresas”.
Só tubarões?
Já andei nas ruas hoje. A revolta é imensa — e não creio que seja só em São Paulo, onde, com efeito, o PT não é um partido muito popular. Cada vez mais, experimenta-se a sensação de um governo contra a sociedade. Foi tal o desarvoramento que o vice-presidente, Michel Temer, mesmo fora da coordenação política, tachou a ideia, por enquanto, de “burburinho”. Neste momento, ele participa de um jantar com empresários na Fiesp, onde um novo imposto não deve ser, assim, uma ideia muito popular… Não! Eu não sou inimigo de Dilma porque, reitero, a inimizade é uma forma de intimidade desde, ao menos, a Ilíada, de Homero. Vejam lá o confronto entre Heitor e Aquiles. Sou apenas um duro crítico do governo. Mas não tenho dúvida de que Dilma vive cercada de pessoas que querem vê-la pelas costas. CPMF agora? A esta altura do campeonato? Talvez alguém lhe tenha proposto algo, assim, toscamente maquiavélico: “Presidente, arranque o couro do povaréu enquanto a senhora está com 7% de popularidade e use o dinheiro da brasileirada para tentar melhorar a sua reputação”. É um jeito de ver o mundo. Eu tendo a achar que o novo imposto esgarçaria a já frágil sustentação que o governo conseguiu junto ao empresariado. Já disse aqui: essa gente do PT não tem cura porque tem uma natureza. Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário