quinta-feira, 9 de abril de 2015

Fitch reduz de estável para negativa perspectiva da nota do Brasil


A agência de classificação de risco Fitch anunciou nesta quinta-feira a revisão da perspectiva do rating do Brasil de estável para negativa. Os motivos citados pela empresa americana são a contínua fraqueza econômica no país, maior desequilíbrio macroeconômico, deterioração fiscal e um aumento significativo do endividamento do governo. Esses fatores estariam, em sua avaliação, “aumentando a pressão sobre o perfil de crédito soberano”. A Fitch manteve o rating brasileiro em “BBB”, ou seja, ainda grau de investimento — chancela dada a países considerados seguros para investir. Mas a perspectiva negativa signfica que, entre 12 e 24 meses, a chance de rebaixamento é superior a 50%. Segundo a Fitch, o governo iniciou o processo de ajuste macroeconômico “para aumentar a credibilidade e confiança política”, mas os riscos de desaceleração relacionados à aplicação das medidas persistem, “especialmente no contexto de um ambiente político e econômico desafiador”. “Choques internos e externos adicionais poderiam minar o ritmo e o alcance do processo de ajustes”, diz a agência. A nota foi mantida, afirma a Fitch, devido à diversidade econômica brasileira, às instituições civis relativamente desenvolvidas e a uma forte capacidade de absorção de choques sustentada por uma robusta posição de reservas internacionais, entre outros fatores. A agência ressalta ainda que a composição da dívida do governo tem melhorado nos últimos anos, reduzindo riscos de câmbio e de juros, com o país mantendo o acesso ao mercado. O processo de ajuste econômico também é destacado pela Fitch como um instrumento que pode melhorar a consistência e credibilidade das políticas governamentais caso seja efetivamente implementado, o que demonstraria “a capacidade dos formuladores de política econômica de responder a choques”. Além disso, a agência aponta os ajustes já realizados pelo governo, como a maior desvalorização do real frente ao dólar e o aperto nas políticas monetárias e fiscal. O relatório, no entanto, aponta como panorama negativo o crescimento de apenas 0,1% da economia em 2014 e a perspectiva dos analistas de contração de 1%, em média, em 2015. A agência aponta ainda a inflação em níveis elevados, com o IPCA acumulando em 12 meses 8,13%. A Fitch acredita que o custo de vida deve continuar a sofrer pressão neste ano, devido à desvalorização do real e aos aumentos dos preços administrados. Perguntado sobre a redução da perspectiva da nota do Brasil, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que ainda não havia visto o anúncio e que não comentaria a decisão da Fitch. Em 23 de março, outra agência de risco, a Standard & Poor's, confirmou o rating de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em "BBB-". Apesar de também apontar um cenário desafiador, a agência manteve a perspectiva estável, por conta da mudança de rumo na condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. A nota do Brasil na S&P é o último nível considerado como grau de investimento. Já a Moody's, que com a Fitch e a S&P forma o trio de agências mais importantes do mundo, colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa em setembro, a menos de um mês das eleições presidenciais. A agência manteve a nota "Baa2", ou seja, ainda grau de investimento. Segundo a Moody’s, três fatores foram levados em conta para a mudança: o baixo crescimento por um longo período; o aumento do pessimismo, com impacto sobre os investimentos; e os desafios fiscais impostos por fatores como economia lenta e inflação alta, o que dificulta a melhora em indicadores de dívida (e o abandono da contabilidade criativa, segundo analistas). Na agência, o “viés de baixa” significa que a avaliação pode ser rebaixada num prazo de 12 a 18 meses. Mesmo que essa hipótese se confirme, porém, o país ainda manteria o grau de investimento, já que ainda há um degrau antes de se tornar "nível especulativo".

Nenhum comentário: