domingo, 10 de agosto de 2014

ESTUDO COMPROVA QUE, SEM PT, O BRASIL PODERIA ESTAR 15% MAIS RICO; DÉCADA DE 2003-2012 FOI TEMP PERDIDO

Vinicius Carrasco (PUC-RJ), João Manuel de Pinho Mello (Insper) e Isabela Duarte (PUC-RJ) fizeram o primeiro estudo para avaliar o Brasil no período Lula e nos dois primeiros anos do governo Dilma. Os autores construíram um país "gêmeo" para cada variável a ser cotejada e extraíram dos dados a comparação entre qual poderia ter sido e qual foi o desempenho do Brasil entre 2003 e 2012. O método, segundo Carrasco e Mello, "é agnóstico". Ou seja, independe das preferências dos autores. Para confrontar a performance do PIB per capita do Brasil, por exemplo, o estudo buscou nos dados ponderados dos países da América do Sul, da Tailândia, da Turquia e da Ucrânia a síntese do "melhor grupo de comparação" ou "grupo de controle sintético". O estudo estabelece o comparativo de 85 variáveis macro e microeconômicas e setoriais. Abarca do PIB à mineração, da taxa de homicídios aos termos de troca. Os resultados são: o Brasil cresceu, investiu e poupou menos; recebeu menos investimento estrangeiro direto, adicionou menos valor na indústria, teve inflação mais alta, perdeu competitividade e produtividade e piorou a qualidade regulatória. Isso ocorreu mesmo tendo recebido "um maná externo", dado pelo boom das commodities e outro "maná interno", da demografia. "Se tivéssemos crescido em linha com os melhores grupos de comparação, estaríamos pelo menos 10% a 15% mais ricos atualmente", sugerem os autores. Por ter o Brasil ficado aquém das suas possibilidades, eles ousaram no título do trabalho - "A Década Perdida - 2003 a 2012" -, que traduz um julgamento político do período considerado. O estudo não se estendeu a 2013 por ausência de dados sobre os países dos grupos de comparação, informam os autores. Como a economia brasileira se deteriorou em termos relativos, os indicadores devem ter piorado em 2013 e 2014, sublinha Mello. É inegável, porém, que o Brasil avançou nas questões sociais e andou em linha com seu "irmão gêmeo" na distribuição da renda, no combate à subnutrição e na saúde. Na educação, ficou aquém mesmo elevando o gasto. E foi substancialmente melhor no mercado de trabalho. "Nesse caso, porém, colhemos as frutas que estavam baixas na árvore, colocamos as pessoas para trabalhar, o que aumentou a massa salarial e a renda dos trabalhadores", salientam os autores. Esse avanço, no entanto, não foi acompanhado de aumentos da produtividade e dos investimentos em capital físico e humano. Uma das constatações mais importantes, destacam, é a piora na qualidade regulatória do Brasil de 2003 para cá. "Nesse quesito, pioramos em termos absolutos", informa Carrasco: "Comprometemos inutilmente as bases da prosperidade futura piorando o arcabouço institucional do país, enquanto o melhor grupo de comparação melhorou ao longo da década". A qualidade regulatória, identifica Carrasco, começou a se deteriorar em 2003, quando o governo Lula abriu uma polêmica com a Anatel por causa da autorização de aumentos nas tarifas telefônicas de até 41,7%. Desde então a autonomia das agências reguladoras foi comprometida. O risco regulatório seria uma das razões para o aumento do custo do capital e suas consequências, como a redução dos investimentos e prejuízos para o crescimento do PIB per capita e da distribuição da renda, indica o estudo. A intermediação financeira, telecomunicações e a produção de petróleo andaram em linha com o melhor grupo de comparação ou foram além. Desenvolvida na década passada, essa metodologia foi aplicada na avaliação da performance, antes e depois, de países que entraram na União Européia, mas seu uso não é pacífico entre economistas. E vem se disseminando na medição dos mais distintos objetivos, seja dos efeitos do uso da maconha nos índices de criminalidade no Colorado (EUA) ou dos danos do terrorismo para a economia dos países bascos.

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