quinta-feira, 17 de abril de 2014

MORRE O PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA GABO, GABRIEL GARCIA MARQUEZ, AOS 87 ANOS

Morreu nesta quinta-feira na Cidade do México, aos 87 anos, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1982 e um dos criadores da corrente literária conhecida como realismo mágico. Márquez estava com a saúde debilitada e com um com câncer em fase de metástase no pulmão, gânglios e fígado. A idade avançada e a condição frágil do autor levaram a família a abrir mão de um tratamento oncológico para optar por cuidados paliativos em casa. Casado há 56 anos com Mercedes Barcha, o escritor deixa dois filhos, Rodrigo e Gonzalo. Márquez nasceu em 6 de março de 1927, em Aracataca, na Colômbia. Autor de obras como "Cem Anos de Solidão" e "O Amor nos Tempos de Cólera", Gabo diz que começou a escrever a força. No livro "Eu Não Vim Fazer Um Discurso", de 2010, publicado no Brasil pela editora Record, o autor relembra que, ainda estudante, viu um texto desafiador do jornalista Eduardo Zalamea Borda, no suplemento El Espectador, de Bogotá. Segundo Borda, o futuro literário estaria em perigo, já que não conhecia nenhum bom jovem escritor. Gabriel Garcia Márquez topou o desafio em um sentimento de “solidariedade com os companheiros de geração”. Escreveu um conto e mandou para o jornal. Para sua surpresa, no domingo seguinte, o texto estava publicado juntamente com um pedido de desculpas de Borda que, enfim, retomou sua fé em talentos da juventude. O mais velho entre onze irmãos, Márquez foi criado pelos avós, enquanto seus pais, Luisa Santiaga Márquez e Gabriel Eligio García, se mudam para a cidade de Barranquilha para administrar uma farmácia. Os esforços do pai em economizar para investir na educação do filho, sonhando com um futuro advogado, são frustrados. Em 1949, aos 22 anos, Gabo deixa a faculdade de Direito após cursar seis semestres. A atitude faz com que o pai corte relações com ele por um tempo. “Havia desertado da universidade, com a ilusão temerária de viver do jornalismo e da literatura sem necessidade de aprendê-los, animado por uma frase que creio ter lido em Bernard Shaw: ‘Desde pequeno tive que interromper minha educação para ir à escola’”, diz Márquez em um trecho do livro "Viver para Contar" (Editora Record),  em que o escritor narra o período da saída da Universidade até o início do seu fazer literário, permeado por lembranças da infância e da adolescência. A ilusão da vida de jornalista faz com que Márquez viva, inicialmente, no limiar da pobreza. Endividado, ele tem poucos pertences, contrapostos às suas muitas aspirações. Uma viagem com sua mãe até Aracataca, narrada no início de "Viver para Contar", em 1950, é destacada por ele como o marco que o fez entender que, sim, seria um escritor e como escreveria. O retorno ao cenário da infância lhe revela que seus esforços literários deveriam ser calcados “em uma verdade poética”, fagulha que inicia o movimento realismo mágico, em que a realidade se funde com elementos fabulosos. A viagem também é uma influência para o nascimento de um dos povoados mais famosos da ficção: Macondo. A aldeia descrita em "Cem Anos de Solidão" e seus integrantes apresentam elementos autobiográficos e fazem uma referência direta a Aracataca. Em 1955, Márquez publica seu primeiro livro, "A Revoada - O Enterro do Diabo" (Editora Record), que, apesar da pouca visibilidade, recebe boas críticas. Alguns anos depois, vai para a Europa trabalhar como correspondente internacional. Na época, chega a pensar em ficar em definitivo no velho continente, não fosse sua grande paixão da adolescência, Mercedes Barcha, com quem se casa em 1958 e permanece até o final da vida. Um ano após o casamento, nasce seu primeiro filho, Rodrigo. No início dos anos 1960, Márquez vai para Nova York trabalhar como correspondente nos Estados Unidos. Contudo, sua amizade com o ditador Fidel Castro, de Cuba, o torna persona non grata no país. De lá, parte para o México, onde publica o livro "Ninguém Escreve ao Coronel", em 1961. Três anos depois, nasce seu segundo filho, Gonzalo. É também neste período que a necessidade de escrever sobre suas origens volta a incomodar o escritor. Em 1968, sua obra-prima, o livro "Cem Anos de Solidão". Márquez diz que a obra demorou dezenove anos para ser feita, entre o idealizar da história e sua concretização. Para se dedicar inteiramente à idéia, o escritor empenhou seu carro, esperando que o dinheiro durasse seis meses, período calculado por ele para escrever o livro. No fim, ele demorou um ano e meio escrevendo. Enquanto isso, sua esposa segurou as pontas das finanças na família e se encarregava até mesmo de trazer com frequência as folhas de papel em que o marido trabalhava. Segundo a biografia "Gabriel García Márquez - Uma Vida", de Gerald Martin, publicada no Brasil pela Ediouro, o casal foi até o correio com o calhamaço de 490 páginas datilografadas, porém a taxa de envio ficava acima do valor que possuíam. Por isso, começaram a tirar páginas do pacote, até atingir o peso que eles poderiam pagar. Acabaram mandando só metade. Depois, penhoraram alguns objetos domésticos, e enviaram o restante. "Ei, Gabo, tudo o que nos falta agora é o livro fracassar", diz Mercedes após o esforço. O livro se torna um dos maiores sucessos da literatura latina-americana e rende ao seu autor status de grande escritor. Em 1982, ele ganha o prêmio de Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra.

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