segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A NOVA ALL, SUPER EMPRESA QUE O GOVERNO PETISTA ESTÁ MONTANDO, TERÁ DE INVESTIR R$ 8 BILHÕES ATÉ 2020, O QUE É ABSOLUTAMENTE IRRISÓRIO - É A PRIVATIZAÇÃO AO MODELO DO PT

A empresa que nascerá da fusão entre a ALL (América Latina Logística) e a Rumo Logística terá que investir algo entre R$ 8 bilhões e R$ 11 bilhões até 2020. A maior parte do investimento - cerca de R$ 8 bilhões - deverá ser feita nos primeiros quatro anos. Ou seja, serão investimentos irrisórios. Os recursos serão aplicados em ampliação e duplicação da malha ferroviária e na solução de gargalos nos dois principais trechos explorados hoje pela ALL - o que liga Estrela d'Oeste a Campinas e esta cidade a Santos, todas no Estado de São Paulo. Esses números ainda são preliminares. Nesta terça-feira, um grupo técnico com representantes de todos os sócios vai se reunir para começar a elaborar o plano de negócios da futura empresa. Tudo vai depender, entretanto, do sucesso da negociação da fusão. Nesta semana, as negociações entre os sócios privados, os controladores da ALL e a Rumo, tomam corpo, com a consultoria de fusões e aquisições Estáter, de Pérsio de Souza, contratada em novembro pela ALL. A negociação da associação envolve os sócios das duas empresas e não o governo. A discussão do plano de investimentos ocorre paralelamente à da fusão e envolve, além dos sócios, também o governo petista, por meio do BNDES, que faz parte do grupo de controle da ALL e pode vir a financiar o plano de investimento da nova companhia. Ou seja, a reprivatização petista da ALL será com uma pitada de estatização, como é tão ao gosto do PT. O governo Dilma tem interesse na fusão e gostaria que Rubens Ometto, empresário do setor sucroalcoleiro e dono de 75% do capital da Rumo, não só entrasse no capital da ALL, mas também se tornasse o principal acionista do grupo de controle. Isso só ocorrerá, porém, se os acionistas chegarem a um acordo com De Lara e Arduini, atuais acionistas de referência (uma exigência legal para empresas concessionárias de serviço público). Negociação iniciada em 2012 e concluída em agosto de 2013 fracassou porque não houve acordo entre os acionistas das duas empresas. O governo acredita que uma fusão que coloque Ometto no comando da empresa dará à ALL-Rumo maior capacidade de alavancagem e, portanto, condições de realizar os investimentos necessários para resolver gargalos importantes nos principais trechos da malha ferroviária do País. Com a fusão, Ometto teria mais de 20% do grupo de controle da ALL-Rumo. Na configuração original da ALL, a GP Investimentos era o principal acionista da ALL - o acionista de referência -, com cerca de 20% do capital de controle. Em 2009, a GP vendeu as ações. "Estamos com uma empresa sem uma liderança privada forte", comentou uma fonte a par das negociações. "Com a saída da GP, perdemos um grupo privado que ancorava a empresa. A Rumo, de Ometto, passará a ser o acionista de referência privado para liderar a companhia", observou a mesma fonte. Todos os sócios atuais - além de De Lara e Arduini, o BNDES, o fundo BRZ ALL e os fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal) - pretendem permanecer na nova companhia, embora com participações menores. O fundo canadense CPP (Canada Pension Plan Investment Board), que negociou com a Cosan para entrar como sócio da nova empresa, não participará do negócio neste momento. O governo está interessado na fusão por razões específicas. A avaliação em Brasília é que a ferrovia Norte-Sul, cuja construção foi retomada há alguns anos, só se viabiliza se tiver saída para a região Sudeste e Sul - o trecho que a liga a essas regiões está sendo construído entre Anápolis (GO) e Estrela d'Oeste. "A Norte-Sul precisa de saída para o Porto de Santos. Se sair apenas para o Norte, a ferrovia se deprecia", explicou um técnico. A ligação da Norte-Sul com a malha do Sudeste depende da superação de gargalos existentes no corredor que liga Estrela d'Oeste a Campinas e daí até Santos. Os desafios são consideráveis. No trecho Estrela d'Oeste-Campinas, a ferrovia da ALL passa por dentro de várias cidades, como Limeira, São José do Rio Preto, Americana e Rio Claro, trazendo riscos para os moradores e tornando a operação pouco eficiente, uma vez que os trens, ao trafegarem por áreas urbanas, são obrigados a reduzir drasticamente a velocidade. No trecho entre Campinas e Santos, há ainda problemas como uma faixa de 40 quilômetros onde vive uma tribo indígena, o que tem impedido a duplicação da ferrovia. A solução passa pela oferta de compensações aos índios que forem deslocados dos locais onde ocorrerá a duplicação. Além da questão fundiária, há impactos ambientais que terão que ser negociados com o Ibama. O governo pressiona para que a ALL aumente os investimentos. A presidente petista  Dilma Rousseff quer que a fusão entre ALL e Rumo se concretize, mas deseja que a nova liderança privada "tenha clareza" de que o corredor Estrela d'Oeste-Santos, o mais importante do País, precisa receber investimentos e "funcione bem". Na semana passada, quando esteve em Brasília, Ometto ouviu do Planalto um pedido para que apresente um plano de investimento em 15 dias. O governo quer a certeza de que a chegada do empresário vai resolver, de fato, a situação de 'sub-investimento' da ALL. O governo vê com bons olhos o interesse de Ometto de entrar no capital da ALL porque tem tido dificuldade de atrair outros empresários para as privatizações de ferrovias. Não há restrição aos atuais controladores Wilson De Lara e Ricardo Arduini, mas eles são vistos como investidores "pessoa física", com capacidade limitada de alavancar empréstimos e, portanto, de expandir os investimentos necessários. Para facilitar a realização dos investimentos previstos em tempo exíguo - o prazo de concessão da ALL termina em menos de 15 anos -, o governo petista está disposto, inclusive, a oferecer compensações. Uma das possibilidades é estender o prazo de concessão. Na atual estrutura da ALL, os acionistas estão fragmentados. A maior participação é do BNDES, com 12,1% do capital. Por causa de um acordo de acionistas, que vence em outubro de 2015, De Lara e Arduini têm o controle da empresa. O acordo vincula apenas 10% do capital da ALL, mas acaba tendo influência sobre 38% das suas ações. Este é um aspecto fundamental da negociação da fusão: embora os dois tenham participações no controle cujo valor não difere das dos fundos e do BNDES, os dois são os principais controladores. Um dos pontos já acertados é que, com a fusão, a ALL passará por uma capitalização. Os fundos minoritários da Rumo, Gávea e TPG, donos de 25% da empresa, já teriam demonstrado disposição de pôr R$ 1 bilhão, no lugar que antes seria do CPP.

Nenhum comentário: