segunda-feira, 19 de agosto de 2013

GRITARIA POR CAUSA DE PRISÃO DE MARIDO BRASILEIRO DE JORNALISTA AMERICANO É MUITO BARULHO POR NADA. A SCOTLAND YARD CUMPRIU O SEU DEVER. FICO MAIS TRANQUILO

O brasileiro David Miranda, marido do jornalista americano Glenn Greenwald, que é correspondente do jornal britânico Guardian e que mora no Brasil, foi retido pela Scotland Yard no Aeroporto de Heathrow, em Londres, neste domingo. A decisão foi tomada com base na Lei de Combate ao Terrorismo, aprovada no Reino Unido em 2000. Ela permite que as autoridades detenham um suspeito para interrogatório por até nove horas. Miranda ficou em poder das autoridades por oito horas e 55 minutos. Uma quase precisão… britânica! Já se faz por aí um barulho dos diabos. Muito barulho por nada! Vi primeiro a notícia no Fantástico, anunciada em tom de escândalo, como se Miranda tivesse sido vítima de uma arbitrariedade, da ação discricionária de algum estado ditatorial. Lá vou eu. É chato dizer, contraria as teses politicamente corretas e bate de frente com antiamericanismo rombudo que até parte da grande imprensa resolveu assumir, nesta fase em que pretende ser mais “moderninha” do que as redes sociais, mas o fato é que a polícia britânica seguiu a lei, cumpriu o seu papel e demonstrou estar atenta. Fico mais tranquilo que assim seja. Ou então vejamos. Eu mesmo, acompanhando a narrativa do Fantástico, de início, pensei: “Pô, que absurdo! Prenderam o cara só porque é marido do jornalista que divulgou os documentos de Edward Snowden, o vira-casaca americano”… Mas constatei, em seguida, que não era bem assim. O que Miranda foi fazer na Europa? Ele voltava da Alemanha. Havia passado uma semana em companhia da documentarista Laura Poitras, que estava em Hong Kong com Glenn Grenwald quando Snowden forneceu ao jornalista as “provas” da espionagem que os EUA estriam fazendo mundo afora. Segundo o próprio Greenwald, a viagem do marido foi financiado pelo Guardian. Ele havia levado documentos sobre o caso para Laura avaliar e trazia outros vazados por Snowden, que estavam, informou, em arquivo protegido por senha. Então deixem-me ver se entendi direito. Snowden é um traidor, que trabalhava no serviço de inteligência dos EUA e decidiu passar adiante informações a que só teve acesso em razão da sua condição. No momento, goza de um refúgio temporário de um ano na Rússia, aquela democracia exemplar… E tem convite para se estabelecer em outras ainda mais edificantes, como Venezuela, Bolívia, Nicarágua… Felizmente, para o bem geral do… mundo, os serviços secretos britânico e americano trocam informações. É uma boa notícia saber que essa comunicação funciona. Greenwald, certamente, já é um sujeito visado. Afinal, ele se tornou o divulgador das informações surrupiadas por Snowden (a propósito: este rapaz vive de quê? De luz?). Houve por bem, então, usar o marido para o, digamos, tráfego de documentos do Brasil para a Alemanha e da Alemanha para o Brasil, contendo, sabemos agora, novos vazamentos. Qual é o motivo do espanto? “Ah, a policia aprendeu telefone, computador, câmera, cartões de memória, DVDs e até jogos eletrônicos que estavam com David.” Bem, dada a natureza da questão, é o mínimo que se espera, não é mesmo? Snowden é um criminoso, ora. O jornalista americano tem o direito de publicar o que bem entender — e conseguir — do que está em poder daquele rapaz. Mas não deve esperar que os serviços de inteligência dos EUA ou do Reino Unido colaborem. Se puderem evitar que um traidor desse quilate seja bem-sucedido, fará isso. A gritaria é a escandalização do nada. Já disse o que penso sobre Snowden e também sobre algumas opiniões de Greenwald — embora americano, é de um antiamericanismo delirante. Escreveu, por exemplo, um texto asqueroso sobre o atentado de Boston, praticamente justificando o ocorrido — a rigor, sua cantilena justifica qualquer terror. Em recente depoimento no Senado brasileiro, pintou os EUA como um grande satã, que estaria menos interessado em combater o terror do que em cuidar de seus interesses. Ao Fantástico, o jornalista americano acusou o que seria um ato de intimidação. O Itamaraty se manifestou em nota: “Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação”. Por que não? Snowden tornou público justamente o sistema destinado ao combate ao terror. Parte do material, como é sabido, estava sendo transportando pelo marido de Greenwald. Para encerrar: só não vale acusar a polícia britânica de racismo e homofobia, né? O governo que Snowden atingiu em cheio é o do negro Barack Obama. E o país que deu abrigo ao amigão de Greenwald, a Rússia, é aquele onde proselitismo gay rende cadeia… Para fechar: não há lei que impeça o jornalista de divulgar informações repassadas por um traidor. Mas não vejo por que ele deva ficar bravo de a Scotland Yard não colaborar com ele. Só faltava isso. Ah, sim: no Brasil, que não tem uma lei de combate ao terrorismo, a coisa seria diferente. Tanto é assim que, em Banânia já libertou terrorista de verdade. Mas fica para outro post. Por Reinaldo Azevedo

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