quarta-feira, 17 de abril de 2013

Haddad, caricatura de ministro, prefeito e intelectual, baba de ódio quando alguém fala o meu nome e diz que faço bem à esquerda. Então por que o Supercoxinha está bravo? Ou: Vá trabalhar! Agora!


O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o Supercoxinha, concedeu uma entrevista à revista “Poder”, comandada por Joyce Pascowitch. Falou lá as suas enormidades, como bem quis. Já andei comentando boa parte da paralogem haddadiana e seu fácil falar difícil. Aprendi, lendo a entrevista, que ele gosta muito de usar a palavra “clivagem”, e, segundo o testemunho em off de um assessor, ninguém entende o que quer dizer. Agora as coisas começam a fazer mais sentido para mim… Haddad está mal acostumado. Há a subimprensa alugada por estatais que fala bem dele para cumprir tarefa — faz parte do contrato informal. Se não é assim, o capilé (capilezão!) para de pingar na conta. E há o que já chegou a ser chamado de “grande imprensa” paulistana que o adotou como uma espécie, assim, de norte espiritual. Vejo coisas inéditas na história do jornalismo destepaiz… Dia desses, o editorial de um jornalão dava conselhos ao prefeito, numa espécie de instrução didática “a um dos nossos (deles)”. Muito bem! Lá pelas tantas, a entrevistadora resolveu fazer esta pergunta: Notório por suas críticas ao PT, o colunista da Veja, Reinaldo Azevedo, tem chamado você de Supercoxinha, como um sujeito bom moço que quer ser super-herói. Que acha disso? Ah, você não vai me perguntar dele, vai? [Irritado.] Não frequento o ambiente virtual dele. Ele é uma caricatura de jornalista, né? Mas acho que para a esquerda é funcional a existência dessa figura. Faz muito bem pro nosso projeto! As pessoas veem o quão patética é a alternativa nesse momento. É como o pastor Silas Malafaia. Os ataques dele à minha campanha foram tão ridículos que acabaram me ajudando.
Voltei
Xiii… Ele ficou irritado comigo, é? Como dizem os jovens, “tipo assim” babar mesmo, é??? Ui!!! De saída, achei engraçado esse negócio de “Reinaldo Azevedo, notório por suas críticas ao PT”… Quando FHC era presidente, também fiz críticas severas ao PSDB, como evidenciam os muitos exemplares da revista que eu dirigia, “Primeira Leitura”. Eu não era um “notório” porque os tucanos não tinham ânimo persecutório; tampouco, que se saiba, alimentavam com dinheiro público uma súcia de caluniadores para atacar o PT, que era oposição, a própria imprensa, que lhe era crítica, e os adversários políticos. Em regimes democráticos, jornalistas não costumam ser “notórios” por criticar o poder. Ao contrário: tornam-se notórios os que se apresentam para ser seus esbirros. No Brasil, como é evidente, há um óbvio processo de demonização da crítica até na imprensa. Nem acho que a entrevistadora fez por mal, não. Mas eu fui mais “notório” quando corrigi uma tradução errada do Vaticano de uma fala de Bento 16 do que por ser crítico da vulgaridade petista… Agora comento a resposta do Supercoxinha. Ele não frequenta meu “ambiente virtual”, mas me acha uma “caricatura de jornalista”? Como sabe? Isso me remete a uma resposta fabulosa que ele deu quando tentou justificar a distribuição de um livro didático que fazia a apologia do erro — aquele do “nós pega os peixe”, lembram-se? Haddad afirmou, então, que estavam criticando o livro sem lê-lo. Para dar força à sua avaliação, ele resolveu ser didático e se saiu com essa pérola: “Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stálin lia os livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença. Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução, estamos saindo de uma situação stalinista e agora adotando uma postura mais de viés fascista, que é criticar um livro sem ler”. A ignorância militante e influente não se deu conta da enormidade que disse, mas este escriba não deixou barato, não é? Escrevi a respeito. Demonstrei que Haddad considerava, por óbvio, uma “evolução” matar as pessoas depois de ler o que elas escreveram, já que, segundo ele próprio, fuzilar sem ler era uma “involução”. Como bom esquerdista, ele consegue ser judicioso sobre a qualidade dos homicídios e reconhece a superioridade moral de alguns homicidas. Em qualquer país democrático do mundo, um raciocínio vagabundo como esse condenaria o autor à lata de lixo do pensamento. Por aqui, a muitos pareceu até razoável e sensato. Afinal, há quem realmente considere Stálin um sujeito dotado de virtudes — o próprio Haddad deixou entrever isso em livro. Já chego lá. Noto, no entanto, que no caso em espécie ele decidiu abandonar a perspectiva stalinista e adotar a hitleriana: não me lê, não frequenta o “meu ambiente virtual” (é um estouvadinho, esse rapaz!), mas decidiu me fuzilar mesmo assim. Sou uma caricatura? Ainda volto à palavra. O que estranho é a irritação. Se sou isso, se sou essa coisa tão desprezível, se ele não me lê, então qual é a razão do ódio? Não o ofendo! Não o calunio! Não lhe atribuo nada que não tenha feito! Não o difamo! Não o injurio. Se ele quiser me processar, por exemplo, não encontrará o caminho. Não faço nada daquilo que seus bate-paus na rede fazem com seus adversários. Então qual é a treta? Por que o nervosismo? Volto já a esse ponto. Quero me ater ao bem que ele disse que faço à esquerda. É curioso! Dia desses, um tucano disse a mesma coisa, sabiam? Como o bicudo não queria sair da sua zona de conforto; como se compraz em ficar puxando o saco de petistas; como gosta de ser considerado um “oposicionista de confiança”, então se saiu com esta: “Esse Reinaldo só ajuda a esquerda…”. Haddad afirma a mesma coisa. Mais uma dúvida: sendo assim, está reclamando, então, do quê? Se eu faço bem à sua causa, deveria me chamar para tomar um café para a gente combinar os próximos passos da tomada do poder pelas esquerdas. Como? Eu evidenciaria “quão patéticas são as alternativas”? Desde quando eu disputo o poder, Zé Mané? Isso é só mais uma tentativa de me colocar como parte de projetos de poder, a exemplo daquela corriola que lhe puxa o saco na Internet, muito bem calçada com o dinheiro das estatais. A fala também revela uma concepção obviamente autoritária da política. Leiam esta pergunta e esta resposta:
Por falar em paradoxos, sua famosa foto com Lula e Maluf equivaleu a uma queda do muro de Berlim. Ainda faz sentido falar em esquerda e direita?
Nossa! Totalmente. Mas você tem que ver quem está apoiando quem pra entender o movimento que está sendo feito. Não abdiquei de princípios em nome do apoio de Maluf. Recebemos pouco investimento do PAC nesses anos, e muitas coisas dependem do ministério de Cidades, que é o do Maluf.
Ah, deixem-me ver se entendi. A direita que Haddad está ocupado em combater, então, é o Reinaldo Azevedo. Já o Maluf é parte do seu pragmatismo. Perfeitamente! Se o PT estiver no comando, todos os apoios são aceitáveis. Assim, os tucanos só são figuras malvadas porque não aceitam fazer parte da base petista. Se, amanhã, as oposições fossem extintas no país, e todos decidissem ser governo, o Mal estaria extinto. Releiam a sua resposta: ele trata o Ministério das Cidades como propriedade privada do PP de Maluf. Assim, para o bem de São Paulo, claro!, ele fez o acordo. E Maluf, como é de seu feitio, não pediu nada em troca. E sou eu a caricatura?
– Caricatura de político é um prefeito que faz 628 promessas na campanha eleitoral e depois elabora um plano de metas com apenas 100.
– Caricatura de político é um prefeito que, quando chove, fica escondido debaixo da cama para não ver seu nome associado a notícias negativas.
– Caricatura de político é um prefeito que promove uma limpeza urbana que antes tachava de “higienista”, tirando os pobres de circulação, a exemplo do que fez no bairro de Belém.
– Caricatura de político é um prefeito que quer pôr a Guarda Municipal para brincar de fazer ginástica com os endinheirados nos parques e reivindica que o governo do estado mobilize a Polícia Militar contra os pobres, como fez no Belém.
– Caricatura de político é um prefeito que, na prática, tornou irrelevante, para o meio ambiente, a inspeção veicular e que só vai cobrar dos pobres, que têm carro velho.
– Caricatura de político é um prefeito que apela à mendicância para supostamente equipar a CET.
- Caricatura de político é um prefeito que tem a cara-de-pau de anunciar na televisão a doação de dois terrenos para campi da Universidade Federal de São Paulo, como se os ditos-cujos pudessem funcionar amanhã.
– Caricatura de político é um prefeito que anuncia um “Arco do Futuro” feito num escritório privado de arquitetura. E mais caricatura será se tudo sair conforme o planejado, e se elegerem alguns felizardos para serem os beneficiários da especulação imobiliária.
– Caricatura de político é um prefeito que mobiliza seus secretários para desmoralizar a administração que o antecedeu, mas troca abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim com o antecessor porque, afinal, ele é um “aliado de Dilma”.
– Caricatura de político é um prefeito que leva um ex-presidente da República para dar “aula” a seu secretariado, mal escondendo a sua condição de boneco de mamulengo.
– Caricatura de político é um ministro de estado que anuncia que vai pôr fim aos vestibulares das universidades federais e cria o maior vestibular do planeta.
- Caricatura de político é um ministro de estado que permite que se criem os tais kits gays em que tudo está errado: a ética, a didática, a pedagogia, a moral e a matemática, torrando dinheiro público inutilmente.
– Caricatura de político é um ministro que comandou a maior transferência de recursos públicos de que se tem notícia na história para as mantenedoras privadas de faculdades e universidades. Se os bananas não têm coragem de fazer a crítica porque temem cair na boca de sapo do petismo, com medo do eleitorado, eu faço. Não sou candidato a zorra nenhuma, muito menos a ter a aprovação de políticos! Escrevo para os leitores.
– Caricatura de político é um ministro em cuja gestão os universitários não totalmente alfabetizados saltam de 12% para 25% do total.
– Caricatura de político é um ministro em cuja gestão os universitários analfabetos propriamente saltam de 2% para 4% do total.
– Caricatura de político é um ministro em cuja gestão exames públicos que deveriam primar pelo rigor técnico são escandalosamente fraudados.
– Caricatura de intelectual é um sujeito capaz de escrever, em 2004, a seguinte bobagem em livro: “O sistema soviético nada tinha de reacionário. Trata-se de uma manifestação absolutamente moderna frente à expansão do império do capital”. Foi uma pena a burocracia soviética não saber que havia aqui em Banânia um pensador dessa envergadura. Ou a história do socialismo teria sido outra. Dá para entender por que ele proclamava a superioridade de Stálin. Como se vê, o sistema em que, primeiro, liam-se os livros para depois fuzilar os inimigos nada tinha de reacionário. São palavras de Haddad.
– Caricatura de intelectual é um sujeito capaz de escrever este pastiche mequetrefe de um texto de Karl Marx, que só seduz os idiotas que não conhecem a fonte cuja água ele nem bebeu, mas roubou (sim, eu bebi mesmo, mas estava morna e vomitei):
“Sob o capital, os vermes do passado, por vezes prenhes de falsas promessas, e os germes de um futuro que não vinga concorrem para convalidar o presente, enredado numa eterna reprodução ampliada de si mesmo, e que, ao se tornar finalmente onipresente, pretende arrogantemente anular a própria história. Esse é o desafio que se põe aos socialistas. A tarefa, 150 anos atrás, parecia bem mais fácil”.
– Caricatura de intelectual é um sujeito formado em direito que se torna mestre em economia em 1990 com uma monografia cujo título é “O caráter socioeconômico do sistema soviético”. O sistema soviético, no caso, é aquele mesmo que ele considerava uma “alternativa” ao capitalismo ainda em 2004. Haddad estava convencendo seus mestres uspianos sobre o tal “caráter” do sistema soviético, mas o dito-cujo estava acabando. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev renuncia, e a URSS chega ao fim. Mais um pouco, ele é colhido pelo evento no meio da monografia. A caricatura, no entanto, não gostou, não. Treze anos depois, lá estava ele proclamando a “modernidade” do modelo que antes lia para depois matar…
Concluindo
Haddad não gosta de mim e fica irritado quando alguém pronuncia o meu nome, embora, segundo ele, eu faça bem à esquerda, ainda que diga que não me lê? É só uma taticazinha mixuruca para mobilizar os cães de aluguel. Este senhor deveria deixar a torre de marfim e andar um pouco mais pela cidade. Os sinais de abandono, especialmente na região central, são evidentes. No domingo, os baixos do viaduto que vão dar na Radial Leste pareciam um Vale dos Caídos, com os viciados tomando as calçadas e se espalhando nas pistas, pondo a própria vida e a de terceiros em risco. Como todo esquerdista caricato, Haddad é bom de papo e ruim de serviço. Como se tornou moda no petismo, ele não quer ser um bom governante; só quer vencer a guerra da mídia. Como todo sujeito de alma totalitária, o fato de a maioria da imprensa lhe puxar o saco não é suficiente. Ele quer a unanimidade. Relendo música famosa de Chico Buarque, encerro: “Vá trabalhar…”. Dedique-se, Supercoxinha, a administrar a cidade, não a administrar a imprensa e a fazer fofoca de jornalista, como uma Dona Maroca! Por Reinaldo Azevedo

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