Luis Milman |
É indispensável, no ambiente de nossa
cada vez mais pobre cultura política, incentivar a compreensão apropriada do
pensamento social-conservador, oposto tanto ao liberalismo quanto ao
utilitarismo e ao socialismo. A vulgata esquerdista no Brasil, com seu
descontrole salivar, associa a tradição conservadora ao atraso e ao golpismo.
Essa perversão operada pela esquerda brasileira infestou o meio acadêmico,
político e intelectual. Apresentar-se como conservador é o primeiro passo para
ser surrado moralmente, uma consequência de 50 anos de monopólio da cultura, na
verdade do patrocínio da ignorância, por parte da esquerda no Brasil. O
conservadorismo, que poucos conhecem entre nós, é uma corrente
filosófico-política que se sustenta em princípios sólidos e compromissos com os
alicerces da civilização. Além, disso, é fonte para o desenvolvimento social e
para a condução política há mais de 200 anos. Pensadores e líderes como Edmund
Burke, Alexis de Toqueville, Joseph de Maistre, Charles Baudelaire, John Quincy
Adams, George Canning, Samuel Taylor Coleridge, Robert Pell, Thomas Babington
Macaulay, Fenimore Cooper, Benjamin Disraeli, Cardinal Newman, J. F. Stephen,
Henry Maine, W. W. H. Lecky, Henry Adams, Theodore Roosevelt, Arthur Balfour,
W. H. Mallok, Irving Babbit, Frank S. Meyer, F. A Hayek, Paul Elmer More, George
Santayana, T. S. Elliot e Winston Churchill, produziram, entre outros mais, um
corpus conceitual anti-autoritário e anti-materislista com base em valores
universais permanentes.
Uma obra muito informativa que
apresenta o pensamento conservador, escrita com grande elegância, é "The
Conservativa Mind" (“A Mente Conservadora”), de Russell Kirk, editada pela
Regnery Publishing, Inc, Wahington DC, 2001. Não há tradução para o português.
mas o livro (534 páginas) pode ser facilmente adquirido por encomenda na Livraria
Cultura. Vale a pena a leitura para quem deseja saber mais sobre quais são e
como se consolidaram as idéias conservadoras.
Para uma reflexão apenas inicial, é
possível alinhar seis pontos norteadores comuns ao conservadorismo social.
Obviamente que esta apresentação é despretensiosa, porque não se pode condensar
sistemas intelectuais profundos e intrincados, em algumas frases. Além do mais,
o conservadorismo não constitui um corpo fixo e imutável de dogmas. Feita a
ressalva, é aceitável afirmar que o conservadorismo configura-se como:
(1) Crença numa ordem transcendental,
ou corpo de leis naturais, que governa a sociedade e a consciência dos homens.
Problemas políticos, no fundo, são problemas morais e religiosos. Uma
racionalidade estreita não pode satisfazer nas demandas humanas. A verdadeira
política é a arte de apreender e aplicar a Justiça, que deve prevalecer em uma comunidade
de almas;
(2) Afeição pela variedade e mistérios
da existência humana, em oposição à estreita uniformidade, igualitarismo e
pretensões utilitárias de sistemas radicais;
(3) Convicção de que uma sociedade
civilizada requer ordens e classes, contrariamente a noção da "sociedade
sem classes". Se distinções naturais são apagadas entre os homens, os
oligarcas preenchem o vácuo. A igualdade última perante o julgamento de Deus,
assim como a igualdade perante a lei, são princípios indisputáveis. Mas a igualdade
abstrata de condições significa a igualdade em servidão, estagnação e tédio;
(4) Convicção de que a liberdade e a
propriedade estão fortemente ligadas. Se separarmos a propriedade da posse
privada, o Estado se torna mestre de tudo. O nivelamento econômico não é
progresso econômico;
(5) Fé na prescrição, com base no
ordenamento jurídico calcado na lei natural. Desconfiança dos sofistas e
calculadores, que desejam reconstruir a sociedade sobre modelos abstratos. O
costume, a convenção e as prescrições tradicionais, são impedimentos aos impulsos
anárquicos do homem (o ser humano não é bom por natureza) e à tentação de
acúmulo de poder;
(6) Reconhecimento que a mudança não
pode ser igualada à reforma radical. A inovação apressada pode ser uma
conflagração devoradora e não o caminho do progresso. A sociedade deve mudar,
mas a mudança prudente é que a preserva. O estadista sempre deve ser prudente nos
cálculos que faz. Esta é a sua maior virtude.
Esses traços são muito gerais, mas
podem ser encontrados, por exemplo, no grande clássico de Burke, Reflexões
sobre a Revolução na França (há traduções em Português). É fácil constatar que eles
se opõe frontalmente aos vários tipos de radicalismo, que têm a marca
distintiva, desde Rousseau, no ataque ao ordenamento prescritivo da sociedade.
Ao contrário do conservador, o radical defende:
(1) A perfectibilidade do homem e o
progresso ilimitado da sociedade. O radical é um “melhorista”. Ele crê que a
educação, a legislação positiva e alteração do meio podem produzir homens
assemelhados a deuses. E nega que a humanidade possua uma tendência natural
para a violência e o pecado;
(2) O desprezo pela tradição. A razão,
o impulso e o determinismo materialista são guias para a obtenção do bem estar
social, e não o costume ou a sabedoria dos ancestrais. A religião formal é
rejeitada e várias ideologias são colocadas em seu lugar;
(3) O nivelamento político. A ordem é
abolida e é estimulada a "democracia total". Desprezo pela atividade
e acordos do parlamento e desejo de centralização de poder.
(4) Nivelamento econômico. Os direitos
de propriedade são suspeitos para a quase maioria dos radicais; posse coletiva
dos meios de produção e desejo de reformas que partem desde o confisco da terra
e sua redistribuição até a sua inteira coletivização.
O ideário radical define o perfil das
esquerdas e dos utilitaristas (como Jeremy Bentham e John Stuat Mill) desde os
tempos dos jacobinos franceses. Já o conservadorismo social tem se apresentado
como uma barricada política e teórica contra o "melhorismo
ensandecido" com o qual o mundo convive desde o século XIX. É preciso que,
pelo menos, ele seja mais estudado no Brasil e que as pessoas ampliem seus
conhecimentos, libertando-se da verborragia cretina que o esquerdismo produz. Por Luis Milman, jornalista e professor universitário
(PS – dica do Editor - mesmo quem não
sabe ler em inglês pode fazê-lo, utilizando-se do tradutor do Google; apesar
das suas precariedades, com o constante exercício da leitura, é possível ir
preenchendo os vácuos e erros cometidos pela tradução, para a exata compreensão
do sentido do texto; enfim, o que vale é a tentativa de engrandecimento da
cultura de cada pessoa, a melhora de sua capacidade de entendimento da nossa
sociedade, da nossa vida, da nossa era.)
(PS
2 – dica do Editor – você também pode encomendar o livro pelo melhor site de
sebos existente no Brasil, o Estante Virtual – www.estantevirtual.com.br;
encontra-se quase tudo, e muito mais barato; você pode pagar pela Internet e
receber em casa o livro, enviado pelos Correios)
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