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Comissão Estadual da Verdade de São Paulo ouviu na sexta-feira os depoimentos
de parentes de desaparecidos políticos que participaram da Guerrilha do
Araguaia, grupo armado organizado pelo PCdoB que comandou uma operação
terrorista no Pará, na década de 1970. Foram discutidos os casos de nove
militantes nascidos em São Paulo ou que tiveram atuação no Estado. O caso dos
irmãos Jaime e Lúcio Petit da Silva foi relembrado por Laura Petit, irmã dos terroristas
ex-militantes do PCdoB. "Eu tive três irmãos desaparecidos no Araguaia. O desaparecimento
de Maria Lúcia Petit foi analisado no mês passado. A minha família foi dizimada
pela ditadura. Espero que o Estado brasileiro faça jus ao resultado da Comissão
da Verdade e responsabilize as pessoas que praticaram esses atos", disse
ela. De acordo com o histórico dos desaparecidos, organizado pela comissão,
Jaime desapareceu em 28 ou 29 de novembro de 1973, após um cerco militar à
região da guerrilha terrorista do PCdoB. Lúcio está desaparecido desde 21 de
abril de 1974, e sumiu também depois de ataque dos militares no Araguaia. Os
dados constam no Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB, Ângelo
Arroyo, que sobreviveu às investidas militares na região. Laura Petit está
confiante no trabalho feito pelas Comissões da Verdade, mas acredita que os
familiares apresentaram todos os dados que deveriam e agora é preciso escutar
os agentes da repressão. "Existe um arquivo vivo da ditadura militar que
precisa ser ouvido. Gostaria de ver sentado naquela mesa as pessoas que
praticaram esses atos", disse ela. Outro depoimento de sexta-feira foi de Rosana
de Moura Momente, filha do militante Orlando Momente. "Tenho poucas
lembranças do meu pai. Na verdade, nunca convivi com ele. Acabei sabendo um
pouco mais sobre ele a partir do contato com a Criméia Almeida, também
participante da Guerrilha do Araguaia. Até hoje enfrento dificuldades
relacionadas ao meu pai, porque nós não temos a data exata da morte e minha mãe
não pode receber pensão por isso", disse ela. Orlando foi visto pela
última vez em 30 de dezembro de 1973, no sul do Pará. A escritora Liniane Brum,
sobrinha de Cilon Brum, morto em 27 de fevereiro de 1974, relatou durante a
audiência o resultado das entrevistas feitas por ela na região do Araguaia.
"A ausência do meu tio tem exatamente a minha idade. Eu vivi esse vácuo,
esse silêncio. A espera da minha avó durante todo esse tempo. Movida por essa
dor, em 2000, decidi ir ao Araguaia e ouvir das pessoas que lá viveram o que
aconteceu", disse. O material desse trabalho foi reunido no livro “Antes
do Passado - o Silêncio Que Vem do Araguaia”. "Fiz três viagens
independentes ao Araguaia. A primeira em dezembro de 2009. Fui com o foco
familiar, mas chegando pude encontrar pessoas que me falaram principalmente do
fim da vida do Cilon. Ele já abatido, preso, a fase de extermínio mesmo. Acho
que essas pessoas da região deveriam ser ouvidas em espaços como esses. Eles
têm a memória desse pedaço da história", disse. Também participaram da
audiência Maristela Nurchis, irmã do guerrilheiro Manoel José Nurchis; José
Dalmo Ribas, irmão Antônio Guilherme Ribeiro Ribas; Igor Grabois, filho de
Gilberto Olímpio Maria. Parentes de Pedro Alexandrino de Oliveira Filho e
Miguel Pereira dos Santos foram convidados, mas não compareceram à reunião.
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