domingo, 9 de dezembro de 2012

Nicolás Maduro, ex-motorista de ônibus que pode suceder Chávez


Após anunciar a necessidade de uma nova cirurgia para tratar um câncer, o ditador da Venezuela, Hugo Chávez, falou pela primeira vez em sucessão e indicou seu vice, o chanceler Nicolás Maduro, como sucessor. Ex-motorista de ônibus, ele pode vir a ser o encarregado de dar continuidade ao projeto chavista no país. Portando quase sempre um sorriso por trás de seu farto bigode, o ministro das Relações Exteriores parece ser imbuído de uma calma constante, o que pode estar relacionado com suas crenças hinduístas. Amigo leal de Chávez desde os tempos em que o atual mandatário esteve preso pela tentativa de golpe de Estado de 1992, Maduro é considerado o político mais próximo ao presidente desde que o câncer foi diagnosticado, em maio de 2011. Em seu período como chanceler, Maduro ganhou fama de amável nos círculos diplomáticos latino-americanos, mas isso não impediu que fosse também um duro crítico do "império" e o co-artífice de uma política externa que deu tantos desgostos a Washington. Como chefe da diplomacia venezuelana, Maduro seguiu a linha chavista de buscar abertamente "a construção de um mundo multipolar livre da hegemonia do 'imperialismo norte-americano'". Ele foi considerado uma peça-chave na aplicação da política externa do país além das fronteiras latino-americanas, para se aproximar de qualquer governo que pudesse rivalizar com os Estados Unidos por uma questão ou outra. Socialista e sindicalista de longa data, Maduro fez parte da Assembléia Constituinte que redigiu a Constituição Bolivariana proposta por Chávez, em 1999. Posteriormente foi eleito deputado e chegou ao posto de presidente do Legislativo em 2005. Em 2006, atendeu a um pedido de Chávez para assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, nomeação que foi muito criticada pelos opositores, já que o chanceler não tem formação universitária: ele é um ex-motorista de ônibus que nunca concluiu os estudos formais. Como para demonstrar pouco caso das críticas que recebe entre os círculos opositores, Maduro chegou a dirigir o caminhão sobre o qual Chávez fazia campanha para as eleições presidenciais de 7 de outubro. O chanceler é citado por Chávez como exemplo de gente do povo que exerce o poder diretamente e não por meio de representantes provenientes das classes mais abastadas. "Olha onde vai Nicolás, de motorista de ônibus a vice-presidente. E como ri da burguesia por isso", afirmou o presidente pouco depois de ganhar as eleições de outubro. "Tremendo chanceler", afirmou Chávez em um ato solene durante o 201º aniversário da independência. Entretanto, o chanceler também teve momentos "pouco diplomáticos" nos quais pareceu perder sua compostura tranquila, como quando chamou de "funcionariozinho" o subsecretário de Estado dos Estados Unidos John Negroponte. E apesar de ser considerado como um dos menos radicais no governo em política interna, Maduro chegou a chamar o adversário de Chávez na disputa pela Presidência, Henrique Capriles, de "bichona e fascista". Posteriormente, Maduro se desculpou pela expressão, dizendo que ela "tinha outra conotação" e que "não especularia com a opção sexual de Capriles nem de ninguém". A última vez que Maduro havia sido destaque na imprensa latino-americana, antes de ter sido nomeado vice-presidente, foi por sua intervenção na crise política paraguaia que terminou com a destituição do então presidente Fernando Lugo. Maduro foi parte da comitiva de chanceleres organizada por diferentes governos da região logo após a informação de que Lugo estava a ponto de ser destituído. O venezuelano terminou sendo acusado pelo novo governo paraguaio de atiçar os militares para que se revoltassem e defendessem Lugo, o que o levou a ser considerado persona non grata no país. Chávez aproveitou para voltar a expressar seu mais firme apoio ao seu número dois no governo ao dizer que o invejava por ter recebido tal distinção por parte de quem acusou de serem golpistas por terem tirado Lugo do poder. A proximidade entre Chávez e Maduro é de longa data. Remonta aos tempos em que o mandatário cumpriu pena na prisão de Yare pela tentativa de golpe de Estado que comandou em 1992. Na ocasião, Maduro se converteu em um ativista a favor da libertação de Chávez. Nessa época conheceu a mulher, a advogada Cilia Flores, que fazia a defesa do então coronel Chávez. A amizade permaneceu forte ao longo dos anos. Nas imagens de Chávez em Cuba durante seu tratamento contra o câncer, seus acompanhantes mais recorrentes eram suas filhas e Maduro. De fato, o chanceler é considerado um dos poucos confidentes do presidente que teve acesso aos detalhes do diagnóstico, que recebeu tratamento de segredo de Estado.

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