quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Para Estados Unidos, Brasil é "manso com violadores"

As votações nos organismos de direitos humanos da ONU provocaram disputas sucessivas entre o Brasil e os Estados Unidos, mostram telegramas da embaixada americana em Brasília obtidos pela organização WikiLeaks. Irritado com a relutância brasileira em apoiar moções dos Estados Unidos contra países como Cuba e Sudão, em 2008, o então embaixador Clifford Sobel diz que o Brasil "fala manso e carrega uma cenoura" quando lida com violadores. É uma analogia com "fale manso e carregue um porrete", slogan usado pelo presidente americano Theodore Roosevelt (1901-1909) para definir sua relação com os vizinhos latino-americanos. A diplomata Lisa Kubiske acusa o governo do Brasil de "hipocrisia" por não condenar países que podem "fornecer um apoio tangível a um interesse brasileiro". Em outros despachos, porém, os americanos reclamam de declarações do governo brasileiro contra a prisão de Guantánamo e do voto crítico à ofensiva de Israel contra o Hizbollah no Líbano, em 2006. Os telegramas, enviados entre 2004 e fevereiro de 2010, detalham trocas de votos na ONU. Em 2006, quando os Estados Unidos pedem o endosso a sua candidatura à Comissão de Direitos Humanos, o Itamaraty responde que já havia trocado o voto por apoio a candidatos brasileiros em outros dois órgãos. Dois anos antes, quando um enviado americano compara a Comissão a um clube de "bons, maus e feios" (alusão ao filme "Três Homens em Conflito", do italiano Sergio Leone), o hoje chanceler Antonio Patriota afirma que em todo país, "incluindo o Brasil", as três características coexistem. Patriota, na época chefe de gabinete do então ministro Celso Amorim, diz que isolar países é contraprodutivo.

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