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Arte Folha de São Paulo |
A construção da usina de Belo Monte, no Pará, pode viabilizar (após a formação do reservatório) a expansão da hidrovia do baixo para o médio Xingu. O lago da usina criará um desvio do maior obstáculo para a navegação na região, os cem quilômetros de rio com leito rochoso chamado de "os pedrais". A formação do reservatório dentro da Volta Grande do Xingu, onde atualmente existem só propriedades rurais, permitirá a navegação. A viabilidade da transposição foi incluída nos estudos de impacto ambiental apresentados ao Ibama. O trabalho não chegou a ser discutido nas audiências públicas. A Eletronorte, subsidiária da Eletrobras que assina o estudo, aponta três arranjos diferentes para a construção das eclusas (espécie de elevador que permite às embarcações transpor barragens). Caso seja construído, o conjunto viabiliza a transposição das embarcações no degrau de 95 metros que passará a existir entre o canal de navegação do baixo Xingu e o reservatório da usina. A profundidade do canal será de 3 metros, suficiente para o trânsito de comboios com até 2,5 metros de calado (parte submersa das embarcações). O trecho navegável no baixo Xingu tem 298 quilômetros (de 1.815 quilômetros de extensão) e conecta Belo Monte (onde há um terminal da Petrobras) ao rio Amazonas. Os estudos feitos pela Eletronorte são preliminares. Não informam, por exemplo, quantos quilômetros seriam adicionados à hidrovia, tampouco o potencial de carga. A inclusão de estudos prévios de eclusas em projetos hidrelétricos virou cobrança do setor hidroviário. Todos os construtores de usinas precisam apresentar à ANA (Agência Nacional de Águas) pelo menos um pré-estudo do aproveitamento hidroviário do rio que será barrado. É condição para que o empreendedor obtenha a outorga de uso da água. A expansão da hidrovia do Xingu pode conectar a região centro-norte de Mato Grosso a uma nova opção de escoamento agrícola. Boa parte da safra de um dos maiores Estados produtores do País sai por caminhões para Santos (SP) e para Paranaguá (PR). A região do Xingu não é produtora de grãos, mas tem potencial mineral. No entorno de Altamira, por exemplo, já foram identificados potenciais reservas de bauxita (matéria-prima do alumínio), indústria só viável com grande oferta de energia. A Nesa (Norte Energia S.A.), responsável por Belo Monte, refuta a idéia da hidrovia devido aos obstáculos, mas o Ministério dos Transportes diz que o rio Xingu integrará o Plano Hidroviário Estratégico do governo. As prioridades agora são as hidrovias do Teles Pires/ Tapajós e do Tocantins.
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