sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quando filhinhos de papai perdem a noção de convívio social e se bestializam

Leiam este artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, mas primeiro vejam as imagens da agressão bestial e profundamente covarde promovida por jovens de classe média sem qualquer motivação a um outro jovem em plena Avenida Paulista, em São Paulo: "Civilização neles! É chocante ver a cena em que aqueles cinco chimpanzés, disfarçados de gente, agridem um rapaz na avenida Paulista, em São Paulo. Agressão gratuita, do nada, sem motivo. Vendo o filme, percebe-se claramente que o delinqüente que caminha com duas lâmpadas na mão — para quê? — diminui o ritmo, pára e desfere um golpe. Achando pouco, repete a dose. A vítima reage e, segundo testemunhos, foi socada pelos demais. Covardia, brutalidade, aposta na impunidade. Vejam o filme. Volto em seguida. É preciso tomar cuidado com o “sociologismo”. Nessas horas, a sempre surrada classe média apanha um pouco mais: não sabe educar os filhos, os rapazes e as moças crescem sem valores, todos são vítimas de uma sociedade egoísta e consumista etc. Besteira! Existem bandidos desse tipo em qualquer grupo social. A mesma “classe média” que dá à luz esses monstros também gera intelectuais, artistas, pensadores — como em qualquer classe. Aliás, é a classe média que mantém aceso o archote da democracia! Não há uma deformação de origem coletiva. Sim, talvez fosse prudente que rapazes menores, com um perfil escolar que soma expulsões, não estivessem “soltos” às 6 da manhã. Mas também a liberalidade familiar não é privilégio desse ou daquele grupos. Nada disso explica o crime cometido. O nosso senso de justiça, de moral e de ética tenta nos impedir de ver o óbvio: FIZERAM AQUILO PORQUE FICARAM COM VONTADE E PORQUE ESTAVAM CERTOS DE QUE NÃO HAVERIA CONSEQÜÊNCIA NENHUMA, A NÃO SER PARA AS SUAS VÍTIMAS. Somos todos presas de um idealismo persistente e bocó: tendemos a achar que os humanos, por natureza, são bons e fazem sempre as melhores escolhas, a menos que essa generosidade inata sofra a ação perversa da família ou da sociedade. Besteira! Somos originalmente amorais como qualquer bicho. Educamo-nos, aprendendo O VALOR CIVILIZADOR DO “NÃO”, DA REPRESSÃO E DO LIMITE. A sociedade é que nos arruma! Esses valores são construções sociais, sim. Podemos decidir segui-los ou não. E há quem decida não seguir. É simples assim.

O crime não é uma patologia individual ou social (não considero aqui os doidos clínicos). Trata-se de uma escolha, como qualquer outra, felizmente minoritária, ou nem o Leviatã daria conta do horror. Alguém diria que aquele brucutu que quebra a lâmpada no rosto do outro não sabia que aquele é um comportamento inaceitável? Ora, ELE SÓ FEZ O QUE FEZ PORQUE SABE SER INACEITÁVEL, ENTENDERAM? ELE ESCOLHEU PRATICAR O CRIME. E, agora sim, temos de apelar aos usos, costumes e privilégios, matéria que concerne à sociologia e até à política. Garotos de rua, desses que perambulam por aí fumando crack, que tivessem comportamento idêntico talvez continuassem recolhidos à Fundação Casa  — o maior de idade, é bem possível, estaria em cana ainda. Não quero especular sobre a decisão do juiz que mandou soltá-los, mas intuo que há rapazes e moças recolhidos por ações menos graves. A vítima não está cega agora não foi por falta de esforço do seu agressor. Ele não ignora que pode cegar alguém quebrando uma lâmpada no seu rosto. Ele não é doente. Ele só decidiu ser mau.
E a sociedade precisa lhe dizer que ser mau não compensa. Para que ele aprenda? Para que descubra em si os bons sentimentos? Para que se regenere? Eu dou uma nada solene banana para os problemas de consciência dos criminosos e sua regeneração. Exceção feita aos doentes, todos eles fizeram uma escolha. E têm de arcar com as conseqüências para que aqueles que decidiram aceitar o pacto da civilização sejam protegidos. Valentões como eles têm um ambiente adequado: não é a rua, não é o passeio público, não é a praça, lugares em que justamente celebramos aquele acordo. Uma coisa é ter vontade de quebrar a cabeça de alguém; outra, bem diferente, é  quebrar. Li que um deles já foi expulso de duas escolas, levou seis suspensões, fez xixi na classe, pegou um colega na porrada… Escolhas, escolhas, escolhas. Ou é doido e precisa de remédio — não parece ser o caso — ou precisa de Estado para coibir suas paixões. Reitero: eu não quero mudar suas escolhas. Quero que ele pague por elas. Homofobia - A agressão poderia ter sido motivada por homofobia — embora seja visível, reitero, que o covarde valentão tomou a decisão de quebrar a lâmpada na cara do outro sem mais nem aquela. Dá para ver o momento em que ele fez a “escolha”. Estava a alguns metros da vítima. Só queria se divertir um pouco. O viés politicamente correto do noticiário dá destaque para esse particular, alimentando, de algum modo, o roteiro de boçalidades. Tenta-se, assim, encarecer a fealdade do ato, como se a agressão a um suposto homossexual — nem sei se é o caso, e isso não importa — fosse mais grave do que, sei lá, a um rapaz mais inteligente do que ele, mais bonito do que ele, mais rico do que ele — a alguém, em suma, de quem ele decidisse não gostar por qualquer motivo. Fossem os agressores uns pobretões, o crime não seria menos feio. Fosse a vítima um heterossexual mixuruca qualquer, o crime não seria menos grave. Inaceitável é o fato em si, pouco importa a categoria a que pertençam uns e outros. É preciso tomar certos cuidados. Se descaracterizada a acusação de homofobia, vai parecer que a ocorrência, afinal, não foi assim tão séria, coisa típica da idade, numa fase em que os rapazes estariam com os hormônios em ebulição etc. Uma ova! O problema desses caras não é eventualmente desrespeitar homossexuais. Eles não respeitam é o pacto de civilidade. E precisam saber que isso tem conseqüências. Por Reinaldo Azevedo

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