quinta-feira, 19 de junho de 2008

Uma demonstração cabal de como futebol e política se misturam, e ainda os negócios no meio

Nesta quinta-feira, 19 de junho de 2008, às 17h30, começará o julgamento, no Tribunal de Justiça da Federação Gaúcha de Futebol, de recurso do Riograndense Futebol Clube, contra decisão que lhe cassou 6 pontos no campeonato da Segunda Divisão do futebol gaúcho, no grupo 6, no qual ele foi campeão no segundo turno, com 23 pontos. Com a penalização, o Riograndense caiu para 17 pontos, e assim ficaria fora do octogonal final do campeonato. No seu lugar entrou o Guarani de Venâncio Aires, que é treinado por Mazzaropi, ex-goleiro do Grêmio, campeão mundial interclubes em novembro de 1983, jogando pelo Grêmio. Ocorre que Mazzaropi é conhecido nas rodas do futebol gaúcho como “peixe” do presidente da Federação de Futebol do Estado, Francisco Noveletto. A punição que atingiu o Riograndense foi baseada no artigo 214 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), por ter usado irregularmente o jogador André Tereza, a grande revelação da “segundona” Gaúcha como primeiro volante. Esse jogador foi profissionalizado pelo Riograndense e tem seu vínculo com o clube, em um contrato no qual está prevista multa de um milhão de reais em caso de rescisão. O que aconteceu foi que o Riograndense escalou o atleta em três jogos em que ele deveria cumprir suspensão, porque tinha sofrido expulsão e mantido os cartões amarelos, sendo que em três jogos ele foi utilizado sem que pudesse. Mas, a punição adveio do fato de que as súmulas deficientes e rasuradas dos jogos em que foi punido o atleta não eram conclusivas. Sempre houve confirmação dos cartões no site da Federação. Como não havia clareza nas cópias rasuradas das súmulas, a presidente do Riograndense, Norma Rolim, procurou obter confirmação com o radialista Flávio Fiorin (também faz parte da equipe esportiva da Rádio Guaíba), que é assessor de Francisco Noveletto na Federação Gaúcha de Futebol. Flávio Fiorin recomendou à presidente do Riograndense, Norma Rolim, que aguardasse a atualização do site da entidade. Porém, esta atualização só ocorreu depois de terem sido disputados os três jogos nos quais o jogador André Tereza foi escalado irregularmente. E ainda mais: depois de ter passado o prazo para que os clubes apresentassem qualquer protesto. Mas, Flávio Fiorin denunciou o Riograndense. Pela primeira vez na história do futebol gaúcho, um assessor da presidência da Federação foi o autor da denúncia que levou à perda de seis pontos pelo clube no primeiro julgamento. Francisco Noveletto patrocina outro clube que disputa o campeonato, o Pelotas, por meios de suas empresas, uma delas a Multisom. E o Pelotas, clube da predileção do presidente da Federação, é candidato a subir para a primeira divisão do futebol gaúcho desde o ano passado, quando perdeu a vaga para o Inter de Santa Maria, na última rodada do Octogonal. A informação corrente no meio esportivo é de que Francisco Noveletto tem interesse nos passes de jogadores. Um desses exemplos é o centroavante Valter, que hoje está Internacional de Porto Alegre. Com o Riograndense fora do páreo no campeonato gaúcho da Segunda Divisão, o Pelotas teria uma garantia. E, ainda mais uma coisa: o jogador-revelação André Teresa estaria pronto para ser negociado para o futebol internacional, até porque ficaria com seu passe liberado, devido à desclassificação do Riograndense. Diante do julgamento desta quinta-feira, providencialmente, Francisco Noveletto deu uma entrevista para o jornal Diário de Santa Maria, dizendo uma vitória no recurso do Riograndense representaria uma vergonha nacional. Ora, Senhor Noveletto, vergonha nacional foi o avião da Varig que trazia a seleção brasileira ter chegado carregado de muamba no Aeroporto do Galeão, e ter sido liberado sem passagem pela alfândega. Inclusive os postes do Maracanã sabem que dentro daquele avião veio até emissora de rádio desmontada. A entrevista de Francisco Noveletto é um evidente condicionamento do julgamento do Tribunal da Federação que ele preside. Agora a parte política: como as eleições está próximas, o julgamento será acompanhado pessoalmente pelo vice-presidente do TRT4, Carlos Alberto Robinson; pelo prefeito de Santa Maria, o petista Valdeci Oliveira; pelos deputados federais federais Cesar Schrimer (PMDB) e Paulo Pimenta (PT), ambos candidatos à prefeitura; e pelo deputado estadual petista Fabiano Pereira. Para completar, o advogado Alexandre Borba, que defenderá o Riograndense, já atuou no escritório do peremptório ministro da Justiça, Tarso Genro. É a República de Santa Maria em ação. Só faltou chamar o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Tutti tutti santamariense.

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