domingo, 20 de janeiro de 2019

Antonio Palocci contou na sua delação premiada que Dilma pressionou para tirar a Sete Brasil de Lula

Antonio Palocci contou na delação premiada que, durante a gestão de Graça Foster na Petrobras, a partir de 2012, Dilma Rousseff pressionou a Sete Brasil — criada para gerir o pré-sal — para retirá-la do controle de Lula. O presidente da empresa, João Ferraz, era apadrinhado de Lula, e procurou Palocci “assustado” por entender que Graça iria demiti-lo, para “defender os interesses de Dilma e preterir as vontades de Lula”. “Naquele momento, iniciam-se frequentes encontros do colaborador com João Ferraz, com Luiz Inácio Lula da Silva, com André Esteves (dono do BTG e sócio da Sete Brasil) e com João Vaccari (ex-tesoureiro do PT); que os encontros tinham por temática a pressão de Dilma na Sete Brasil para retirá-la do controle de Lula; que se recorda que, naquele primeiro momento, Lula chamou o colaborador e solicitou que ele resolvesse o problema, tendo respondido que aquilo era uma briga com Dilma, na qual o colaborador não se envolveria; que se tratava dos momentos iniciais da tomada de controle da Sete Brasil por Luiz Inácio Lula da Silva; que também se recorda que Lula teve sucessivas reuniões com Graça, em 2012, para pressioná-la a dar andamento no processo de contratação dos navios-sonda do pré-sal, uma vez que ela havia suspendido o processo licitatório para efeitos de auditoria interna". Segundo Palocci, a venda de navios-sonda da Sete Brasil para a Petrobras teve dinheiro desviado para bancar a campanha de Dilma em 2010 e era objeto de desejo de Lula por propina.

No novo termo da delação de Antonio Palocci, Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, é personagem recorrente nos relatos do “italiano”. Em reunião no Centro Cultural de Brasília — sede do governo quando o Palácio do Planalto estava em reforma –, por exemplo, Erenice, segundo Palocci, confirmou a Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, que o governo sabia do cartel das empreiteiras e do interesse da Andrade em vencer o processo de licitação de Belo Monte. Erenice confirmou que sabia dos “compromissos político-financeiros” prometidos pela Andrade em contrapartida da obra da usina e garantiu que “nenhuma porta do governo seria fechada” para a empresa. “QUE indagado se ERENICE GUERRA sabia dos compromissos político-financeiros prometidos pelo ANDRADE, respondeu que sim, que o próprio COLABORADOR afirma que repetiu para a então Ministra a existência dos acertos de propina envolvendo a obra; QUE, inclusive, na reunião com OTÁVIO, recorda-se que ele asseverou que por conta daquele contrato da USINA DE BELO MONTE, havia compromisso de pagamento de 1% referente aos valores que seriam recebidos por sua execução ao PARTIDO DOS TRABALHADORES e ao PMDB; QUE OTÁVIO confirmou junto com o COLABORADOR aquele compromisso; QUE posteriormente COLABORADOR veio a saber que tal orientação era seguida a partir de acordo que havia sido estabelecido com RICARDO BERZOINI e o próprio OTÁVIO; QUE, embora comunicando a ERENICE GUERRA a existência de grande doação ao PT por parte da ANDRADE GUTIERREZ, em virtude da obra, que ainda seria mantido o consórcio alternativo e que, no futuro, poderiam se discutir os envolvidos na construção da obra; QUE nenhuma porta do Governo, narrou ERENICE, seria fechada.”

No novo termo da delação premiada Antonio Palocci confirma que a doação de R$ 4 milhões da Odebrecht para o Instituto Lula saiu da propina acertada na obra de Belo Monte. Palocci diz ainda que, além de Bumlai, Paulo Okamoto também solicitava constantemente recursos – entre R$ 100 mil a R$ 200 mil – para quitar despesas pessoais de Lula e sua família. E fazia questão de não formalizar esses gastos. Sobre as constantes entregas de propina a Lula, Palocci diz que levou dinheiro até no avião presidencial. “QUE também se recorda que, dos recursos em espécie recebidos da ODEBRECHT e retirados por BRANISLAV KONTIC, levou em oportunidades diversas cerca de trinta, quarenta, cinqüenta e oitenta mil reais em espécie para o próprio LULA; QUE esses valores eram demandados pelo próprio LULA com a orientação dada por ele de que não devia o COLABORADOR comentar os pedidos com PAULO OKAMOTO nem com ninguém; QUE o COLABORADOR sempre atendia aos pedidos de LULA; QUE, posteriormente, já no curso da OPERAÇÃO LAVA JATO, o próprio BRANISLAV informou ao COLABORADOR que recebia recursos em espécie da ODEBRECHT de FERNANDO MIGLIACCIO; QUE FERNANDO era vizinho de bairro de BRANISLAV KONTIC; QUE BRANISLAV assim agia a pedido do COLABORADOR; QUE os valores eram utilizados para pagamento de contas do INSTITUTO, de contas extras da entidade, contas do próprio COLABORADOR, de pedidos que o próprio LULA fazia, como em oportunidade que solicitou que efetuasse pagamentos na ordem de 30 mil reais em determinada conta; QUE não indagou a LULA o motivo dos depósitos solicitados; QUE acreditava que LULA pediu ao COLABORADOR cerca de oito a nove vezes valores em espécie; em média, os valores chegavam a 50 mil reais; QUE LULA pedia ao COLABORADOR que não informasse os pedidos a ninguém; QUE se recorda que levou valores a LULA em Brasília/DF; QUE levou valores em espécie a LULA em diversas vezes em São Paulo/SP; QUE já levou valores em espécie para LULA dentro da aeronave presidencial; QUE era apenas o COLABORADOR a levar pessoalmente recursos a LULA, entregues em suas mãos; QUE indagado se existem testemunhas dessas entregas, respondeu que em determinada oportunidade levou 50 mil reais em espécies a LULA no Terminal da Aeronáutica em Brasília/DF, durante a campanha de 2010, dentro de uma caixa de celular na frente do motorista do COLABORADOR, cujo nome era CLÁUDIO GOUVEIA; QUE, em São Paulo, recorda-se de episódio de quando levou dinheiro em espécie a LULA dentro de caixa de whisky até o Aeroporto de Congonhas, sendo que no caminho até o local recebeu constantes chamadas telefônicas de LULA cobrando a entrega, momentos que eram testemunhados pelo motorista CARLOS POCENTE, o qual, inclusive, teria brincado com o COLABORADOR perguntando se toda aquela cobrança de LULA se dava apenas por uma garrafa de whisky, sendo que o COLABORADOR respondeu ao motorista que era óbvio que a insistência de LULA não era por bebida, e sim pelo dinheiro; QUE o motorista afirmou ao COLABORADOR que estava brincando e que sabia que se tratava de dinheiro em espécie; QUE isso também ocorreu em 2010.”

Antonio Palocci também conta que Giles Azevedo, então assessor especial de Dilma Rousseff, lhe pediu R$ 6 milhões para pagar a agência Pepper – responsável pela guerrilha virtual da campanha petista. O dinheiro saiu do caixa da propina de Belo Monte, assim como o utilizado no pagamento de pesquisas eleitorais do Vox Populi. “Ao COLABORADOR, especificamente as condutas impostas a ANTONIO PALOCCI, respondeu que de fato tratou com OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO acerca de arrecadação de valores para campanha eleitoral de 2010 do PT; QUE a respeito da afirmação de que o COLABORADOR teria solicitado o pagamento de R$ 6.000.000,00 à agência PEPPER, esclarece que o pedido específico provavelmente partiu de GILES DE AZEVEDO, tendo o COLABORADOR possivelmente recebido de OTÁVIO a informação a respeito do pagamento, já que o assunto integrava os temas tratados pelo COLABORADOR a respeito de pagamentos visando financiamento da campanha eleitoral; QUE o próprio OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO afirmou que as supostas conversas com o COLABORADOR sobre os pagamentos à PEPPER se davam no contexto das discussões de propina relativa a BELO MONTE, sendo correto afirmar que os assuntos PEPPER e BELO MONTE podem ter sido eventualmente tratados no mesmo momento; QUE o próprio OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO também relatou que GILES DE AZEVEDO era personagem que participou dos fatos relativos aos pagamentos para a agência PEPPER; QUE esclarece que tratava com OTÁVIO, nas reuniões, de todos os temas ilícitos; QUE nunca havia reunião específica e limitada a BELO MONTE, ou ao VOX POPULI, à PEPPER, ou à campanha de 2010; QUE todos os assuntos eram tratados conjuntamente; QUE afirmava a OTÁVIO que pagar VOX POPULI efetivamente beneficiava o PT.”

Antonio Palocci afirma que José Carlos Bumlai e João Vacari Netto cobraram R$ 30 milhões da Andrade Gutierrez para pagar Delfim Netto, mas o economista só recebeu R$ 4 milhões. Palocci diz também que “os trabalhos de Bumlai eram feitos, muitas das vezes, para a sustentação da família de Lula”. “Que em várias oportunidades, Bumlai solicitava recursos para atender aos projetos dos filhos de Lula". “QUE pela presença de BUMLAI na reunião, confirmava-se o que posteriormente LULA confidenciou ao COLABORADOR de que também BUMLAI pretendia receber parte dos 30 milhões; QUE os trabalhos de BUMLAI eram feitos, muitas das vezes, para a sustentação da família de LULA; QUE em várias oportunidades, BUMLAI solicitava ao COLABORADOR recursos para atender aos projetos dos filhos de LULA; QUE não achava adequado que BUMLAI desempenhasse atividade em prol de LULA, tendo inclusive exposto sua preocupação ao ex-Presidente; QUE soube posteriormente, por JOAO VACCARI NETO em um novo encontro, dentre os muitos que tiveram, que havia sido autorizado pelo PT que se abatessem quinze milhões dos valores devidos ao PARTIDO para pagamentos devidos a ANTONIO DELFIM NETO; QUE o COLABORADOR soube posteriormente que dos trinta milhões devidos, apenas quinze milhões foram quitados; QUE, posteriormente, em conversa com DELFIM, este informou ao COLABORADOR que havia recebido cerca de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) pela sua atuação na obra da USINA DE BELO MONTE; QUE os valores, segundo DELFIM NETO, eram inferiores ao montante devido; QUE DELFIM NETO não solicitou nenhum auxílio ao COLABORADOR para o recebimento de novos valores.”

No termo 5 de sua delação, Antonio Palocci diz que Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, insistiu em pagar propina ao PT, para ter garantia da execução da obra de Belo Monte. Palocci sugeriu que o empreiteiro fizesse futuras doações ao Instituto Lula e pagamentos de palestras, mas Azevedo optou por arcar com custos de pesquisas do Vox Populi. “Insistia que gostaria de remunerar a agremiação política pela execução daquela obra; Que a ANDRADE GUTIERREZ, com pagamentos, gostaria de ter uma garantia junto ao PT para a execução do contrato de construção da UME BELO MONTE; QUE, em razão disso, o COLABORADOR sugeriu que se destinassem recursos a LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, indicando que ele poderia ser beneficiado por futuras doações ao INSTITUTO LULA e pagamentos de palestras; QUE OTÁVIO indagou se poderia arcar com custos do VOX POPULI em pesquisas de interesse de LULA, tendo o COLABORADOR respondido que sim; QUE a ANDRADE GUTIERREZ efetivamente havia realizado diversos pagamentos ao VOX POPULI no interesse do PT durante a campanha de 2010". 


Antonio Palocci confirmou entregas de dinheiro em espécie de propina paga pela Odebrecht a Lula. “[Palocci] também se recorda que, dos recursos em espécie recebidos da Odebrecht e retirados por Branislav Kontic, levou em oportunidades diversas cerca de trinta, quarenta, cinquenta e oitenta mil reais em espécie para o próprio Lula”, diz um trecho da delação. 


Antonio Palocci contou na delação premiada que o banqueiro André Esteves, dono do BTG e sócio da Sete Brasil, atuava nos dois lados da “briga política” entre Lula e Dilma Rousseff pelo controle da empresa, geradora de propina na venda de navios-sondas para a Petrobras. “Em 2012, após a nomeação de Graça Foster, André Esteves adotava uma postura bastante dissimulada junto aos dois grupos políticos do PT que se formavam, encabeçados por Lula e Dilma; que, junto a Graça Foster, André Esteves tinha a conduta de aceitar sua posição de demitir João Ferraz da presidência da Sete Brasil; que, ao mesmo tempo que André Esteves buscava se aliar aos interesses da Petrobras e, assim, controlar conjuntamente a Sete Brasil, André Esteves também desejava agradar os interesses de Luiz Inácio Lula da Silva; que, por tal motivo, junto a Lula, André Esteves defendia a permanência e o fortalecimento de Ferraz no controle da Sete Brasil”. Ferraz permaneceu no comando da Sete Brasil por mais dois anos; foi demitido em 2014 por Graça Foster logo após Palocci dizer a Esteves que não operaria mais o repasse de propina da empresa para Lula, segundo o relato da delação premiada.

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