quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Operação da Lava Jato leva Polícia Federal a prender dez deputados fluminenses de uma só tacada, corrupção generalizada no Rio de Janeiro



A Polícia Federal prendeu 20 pessoas nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, em um desdobramento da Operação Lava Jato. Dos 22 mandados de prisão, 10 são contra deputados estaduais do Rio de Janeiro. As investigações apontam que os envolvidos recebiam propinas mensais que variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil - além de cargos - para votar de acordo com o interesse do governo. O esquema movimentou pelo menos R$ 54 milhões, segundo a Polícia Federal. 

O deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PSC), presidente da escola de samba, foi preso por volta das 7h25 desta quinta-feira; André Corrêa (DEM), seu colega de Assembléia Legislativa e ex-secretário de Meio Ambiente, às 8h10. Três dos parlamentares foram presos no ano passado: Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do MDB. As prisões desta quinta-feira são temporárias e não afetam o mandato - cinco dos pegos foram reeleitos. A Justiça, no entanto, pode convertê-las para preventivas e afastá-los, o que abriria a vaga para suplentes. Em um dos endereços, agentes apreenderam joias e dinheiro em espécie.


Alguns dos alvos são:

Affonso Monnerat, secretário estadual de Governo;
André Correa (DEM), deputado estadual reeleito e ex-secretário estadual de Meio Ambiente, preso na Barra;
Chiquinho da Mangueira (PSC), deputado estadual reeleito e presidente da escola de samba, preso na Barra;
Coronel Jairo (MDB), deputado estadual não reeleito;
Edson Albertassi (MDB), deputado afastado - já preso em Bangu;
Jorge Picciani (MDB), deputado afastado - já em prisão domiciliar;
Leonardo Jacob, presidente do Detran;
Luiz Martins (PDT), deputado estadual reeleito;
Marcelo Simão (PP), deputado estadual não reeleito;
Marcos Abrahão (Avante), deputado estadual reeleito;
Marcus Vinícius Neskau (PTB), deputado estadual reeleito;
Paulo Melo (MDB), deputado afastado - já preso em Bangu;
Vinícius Farah (MDB), ex-presidente do Detran, eleito deputado federal.

A investida, desta vez, mira esquema de compra de apoio político de parlamentares. O alvo é o grupo político da base do MDB do ex-governador Sérgio Cabral, que comanda o Estado há mais de 10 anos. O nome da operação é referência a uma sala localizada ao lado do plenário da Alerj onde deputados se reúnem para rápidas discussões antes das votações. 


De acordo com as investigações, a organização criminosa, chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral, pagava propina a vários deputados estaduais, a fim de que patrocinassem interesses do grupo criminoso na Assembléia Legislativa. O “mensalinho” era resultado de sobrepreço de contratos estaduais e federais. De forma ilícita, os parlamentares eram beneficiados ainda com o loteamento de cargos em diversos órgãos públicos do Estado, como o Detran, onde poderiam alocar mão de obra comissionada ou terceirizada. A força-tarefa afirma que o esquema continuou mesmo após as operações do ano passado. Os investigados devem responder, na medida de suas participações, pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. Policiais federais cumprem mandados de busca e apreensão no Palácio Guanabara, sede do Executivo Fluminense, e no prédio anexo da Assembléia Legislativa.


A operação desta quinta-feira é baseada na delação de Carlos Miranda, gerente financeiro do esquema organizado por Sérgio Cabral. Miranda diz que o dinheiro do ex-governador ia para as mãos dos presidentes da Casa, Jorge Picciani ou Paulo Melo. Cabia a eles repartir a propina com outros integrantes do Legislativo. Segundo Miranda, no entanto, alguns dos parlamentares também recebiam prêmios de Sérgio Cabral para atender os interesses da quadrilha na Assembleia. As verbas vinham de recursos desviados pelo Executivo estadual, inclusive de obras federais como o PAC. A investigação também descobriu que os deputados recebiam como contrapartida, além da propina, a disponibilização de postos de trabalho em empresas como o Detran, por exemplo. Os parlamentares indicavam pessoas próximas, como parentes, para os cargos que eram "separados" pelo Poder Executivo.


A operação foi determinada por desembargadores da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e se debruça também sobre a atual gestão do governo estadual, apesar de não haver citação direta ao governador Luiz Fernando Pezão. Deflagrada em novembro de 2017, a operação levou para a cadeia os deputados Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi e investigou esquema de corrupção em que os deputados usavam da sua influência para aprovar projetos na Assembléia Legislativa para favorecer as empresas de ônibus e também as empreiteiras.  Atualmente, Jorge Picciani está em prisão domiciliar por causa de sua saúde e Paulo Mello e Albertassi seguem presos em Bangu. Audios revelados esta semana mostram trechos de escutas gravadas com autorização da Justiça na época da Operação Cadeia Velha, os quais trazem Picciani articulando para sair da prisão, horas antes de se entregar, e o braço direito do então presidente da Assembléia negociando recolhimento de propina.

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