segunda-feira, 16 de julho de 2018

Banco Mundial aponta que metade dos jovens brasileiros podem ficar na pobreza


Um em cada dois jovens brasileiros com idade entre 19 e 25 anos corre sério risco de ficar fora do circuito dos bons empregos no País e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que aponta o relatório “Competências e Empregos: Uma Agenda para a Juventude”, divulgado no dia 7 pelo Banco Mundial. O documento diz que 52% da população jovem brasileira, quase 25 milhões de pessoas, está desengajada da produtividade. Nessa conta estão os 11 milhões dos chamados “nem-nem”, aqueles que não trabalham nem estudam. A eles, foram somados aqueles que estão estudando, mas com atraso em sua formação. E os que trabalham, mas estão na informalidade. “É uma população que vai ser vulnerável, vai ter mais dificuldade de achar emprego, corre maior risco de cair na pobreza”, disse o diretor da instituição para o Brasil, Martin Raiser. 

Além da ameaça ao futuro desses jovens, essa situação leva a outra consequência séria: ela põe em risco o crescimento da economia brasileira, porque o País vai depender do trabalho deles para continuar produzindo. Mais ainda, vai precisar que eles sejam mais produtivos do que seus pais para reverter uma tendência de queda na taxa de crescimento do Brasil. A urgência na adoção de uma agenda para que o Brasil produza melhor com os recursos que possui foi analisada em outro relatório: “Emprego e Crescimento: a Agenda da Produtividade”, também divulgado pelo Banco Mundial. No entendimento dos economistas do organismo, os dois temas estão profundamente relacionados. A melhora na formação de jovens e sua preparação para o mercado de trabalho é um dos itens da agenda da produtividade. 

O relatório traz evidências de que a educação no País é falha e não se traduz em aumento de produtividade. Na Malásia, por exemplo, um ano a mais na escola resulta numa elevação de US$ 3 mil no salário. Na Turquia, US$ 4 mil. Na Coreia do Sul, US$ 7 mil. No Brasil, o ganho é próximo a zero. “Precisamos de uma educação de qualidade que cumpra sua missão de dar competência aos jovens”, disse a economista Rita Almeida, do Banco Mundial. A economista avalia que a reforma do ensino médio de 2017 atacou alguns pontos críticos, mas ainda falta ver como será sua implementação. Além disso, seria necessário dar um foco político mais forte ao problema da evasão escolar. No Brasil, apenas 43% da população acima de 25 anos concluiu o ensino médio. Nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o índice é de 90%.

Mais grave do que constatar que há pouca gente com formação de nível médio é verificar que essa tendência se mantém. Hoje, um de cada três jovens de 19 anos já está fora da escola. Entre as ideias trazidas pelo relatório está a criação de programas para redução da gravidez na adolescência. Os programas de transferência de renda poderiam ser direcionados para estimular a conclusão do ensino médio. Além disso, seria necessário informar melhor os jovens sobre os benefícios do estudo. 

O Brasil vive os últimos anos de uma vantagem populacional que se esgotará, segundo o Banco Mundial, em aproximadamente três anos, em 2020. No futuro, não muito distante, a população em idade ativa (entre 15 e 64 anos) parará de crescer e, a partir daí, o número de idosos e crianças passará a subir. “O perfil demográfico do Brasil em breve começará a assemelhar-se ao de muitos países europeus, embora o país se encontre em nível muito inferior de desenvolvimento econômico". A chamada taxa de dependência (proporção de crianças até 14 anos e idosos acima de 65 anos na população) parará de cair em 2020, ficando estável em 47% até 2024, quando passa a subir. Em 2030, as pessoas fora da idade habitual para trabalhar (crianças e idosos) serão mais numerosas do que os potenciais trabalhadores. No jargão técnico, o bônus produzido pela demografia favorável, com uma crescente população trabalhadora, ficará para trás.

A previsão é alarmante porque o crescimento do Brasil, nas últimas duas décadas, se deu basicamente pela inserção de mais pessoas no mercado de trabalho. E quase nada sobre ganhos de eficiência (ou de produtividade) nas funções que estão desempenhando e na produção das empresas. A produtividade do trabalho, segundo o Banco Mundial, respondeu só por 39% do aumento da renda per capita entre 1996 e 2014. “O restante decorreu de mudanças demográficas e do aumento da taxa de participação na força de trabalho”, afirma o relatório. “À medida que a contribuição do crescimento da força de trabalho como parcela da população diminui, o Brasil precisa aumentar a produtividade do trabalho para manter, ou quiçá aumentar, a taxa de crescimento do PIB per capita". 

Segundo cálculos do Banco Mundial, o Brasil poderia crescer cerca de 4,5% ao ano de maneira sustentável se aumentasse a taxa de crescimento da produtividade para o nível anterior a essa baixa dos últimos 20 anos. Caso não consiga gerar mais eficiência, o potencial de expansão do PIB e da renda da população fica limitado. O cenário é desafiador e, por isso, o banco sugeriu ao País focar sua estratégia na juventude. Afinal, os entrantes do mercado de trabalho terão que ser mais produtivos, uma vez que serão menos numerosos no futuro.

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