quarta-feira, 9 de maio de 2018

Testemunha envolve vereador e ex-policial no assassinato da comunista Marielle Franco, no Rio de Janeiro

Um homem que prestou serviços a uma milícia atuante na zona oeste do Rio de Janeiro procurou a polícia para acusar o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo de planejar a morte da vereadora comunista Marielle Franco (PSOL). Ela foi assassinada em 14 de março no centro do Rio de Janeiro, com o motorista Anderson Gomes. O homem disse à polícia ter testemunhado pelo menos quatro conversas entre Siciliano e Araújo, nas quais a dupla debateu o assassinato da vereadora. 


Essa testemunha narrou à polícia que as conversas sobre o assassinato de Marielle começaram em junho de 2017. O motivo: a parlamentar do PSOL passou a promover ações comunitárias em bairros da zona oeste que, embora controlados por traficantes, seriam de interesse da milícia. A testemunha relatou que a milícia chefiada por Araújo domina a Vila Sapê, favela de Curicica a partir da qual os milicianos atacam traficantes da Cidade de Deus. Marielle teria começado a realizar ações sociais na Cidade de Deus, uma das bases eleitorais de Siciliano, que segundo a testemunha temia perder votos. A intervenção de Marielle também atrapalhava os planos de Araújo de expulsar os traficantes e dominar a comunidade.

As conversas sobre o assassinato de Marielle teriam começado em junho passado, mas só em fevereiro deste ano Araújo, preso na Penitenciária Bandeira Stampa (Bangu 9) desde outubro passado, teria dado a ordem para o crime. A testemunha afirmou que o ex-PM ordenou que dois homens de sua confiança clonassem um carro (os responsáveis por esse serviço já teriam sido identificados pela Polícia Civil). O Cobalt prata clonado chegou a circular antes do crime na comunidade da Merck, na zona oeste, outra favela dominada pela mílicia de Araújo. Segundo a testemunha, um homem identificado como Thiago Macaco foi incumbido de identificar a rotina da vereadora, como os lugares que ela costumava frequentar e os trajetos que usava regularmente, inclusive ao sair da Câmara de Vereadores.

Marielle foi morta na Rua Joaquim Palhares, no Estácio (região central do Rio de Janeiro), quando seguia para casa, na Tijuca (zona norte). Ela havia saído de um evento na Lapa (centro) e estava em um Cobalt branco, dirigido por Anderson Gomes. Uma assessora a acompanhava. Na esquina da rua Joaquim Palhares e João Paulo I, um Cobalt prata emparelhou com o veículo onde a vereadora estava e foram disparados vários tiros. A vereadora e o motorista morreram na hora. A assessora sobreviveu ilesa. Os criminosos fugiram.

Depois da morte de Marielle, pelo menos dois outros assassinatos foram cometidos como “queima de arquivo”, segundo a testemunha. Uma dessas vítimas foi Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, o Alexandre Cabeça, colaborador de Siciliano, morto em 8 de abril. O corpo dele foi abandonado em um carro na Estrada Curumau, em Boiúna, na região de Jacarepaguá (zona oeste). A outra vítima seria o PM reformado Anderson Claudio da Silva, de 48 anos, atingido por vários tiros, inclusive de fuzil, ao entrar em seu carro, na Praça Miguel Osório, no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste), em 10 de abril. 

A testemunha contou à polícia que instalava equipamentos de TV a cabo em uma favela e estava regularizando o serviço quando a área foi dominada pela mílicia liderada por Araújo. A testemunha teria sido ameaçada de morte e obrigada a trabalhar para os milicianos. “Fui coagido, ou morria ou entrava para o grupo paramilitar. Virei uma espécie de segurança dele. Também ficava responsável por levar o filho para a escola; acompanhava a mulher de Orlando para compras em shoppings”, contou a testemunha à Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro. Ele teria trabalhado para a milícia por cerca de dois anos.

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