segunda-feira, 28 de maio de 2018

Agentes do mercado relatam ao Banco Central o medo de contágio da greve dos caminhoneiros na cadeia econômica


A atividade grevista dominou a reunião de analistas do Rio de Janeiro com o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, realizada nesta segunda-feira. A despeito de o controle da inflação ser o mandado do Banco Central, os presentes demonstraram ainda mais cautela em relação à dinâmica frágil da retomada econômica, em meio a greve dos caminhoneiros, que paralisou o País nos últimos dias. As reuniões trimestrais da diretoria do Banco Central com os analistas são usadas pela autoridade monetária para colher do mercado as percepções sobre inflação, atividade e economia internacional. As informações são usadas como subsídios para a confecção do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). 

Apesar do ruído provocado na comunicação do Banco Central logo após a entrevista concedida pelo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, dias antes do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, os analistas afirmaram que o tema não foi discutido no Rio de Janeiro na tarde de hoje. "Na ata, o Banco Central já havia esclarecido o mal entendido", disse um participante: "O que ficou foi mais incerteza com o efeito da greve na atividade". Além do cenário já incerto em relação às eleições, que vem minguando os investimentos, a paralisação nas estradas deve mitigar ainda mais o crescimento, disse um interlocutor. Segundo ele, na média a expectativa é de que as projeções para o PIB deste ano sofram queda em torno de meio ponto. "Se alguém que está com 2,5%, deve ir para 2%, enquanto quem está com 1,50%, tende a caminhar para 1%. O problema é que ninguém sabe o tamanho do estrago", acrescentou. "Houve consenso na reunião de que as estimativas para o PIB devem cair mais. Muitos estão estimando alta entre 1,5% e 2%", contou outra fonte.

Diante do ambiente de fraqueza econômica, os agentes teriam dito a Viana que por ora a inflação não deve ser preocupação para o Banco Central. "A inflação pode acelerar no curto prazo em função do choque, mas a atividade esta sendo revisada para baixo de novo. Por isso não deve ser problema para o Banco Central", avaliou um outro participante da única reunião no Rio de Janeiro nesta tarde. 

Para outro economista, da mesma forma que a inflação pode acelerar, também tende a diminuir, caso a greve tenha um desfecho. "Da mesma forma que veio, vai. O efeito deve ser pequeno. Agora, com a atividade é diferente. A economia já está muito fraca", afirmou outro analista, citando que as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2018 estão subindo para perto de 4%, mas ainda abaixo do centro da meta de 4,50%.

No levantamento Focus desta semana, a projeção mediana para o IPCA subiu para 3,60%, enquanto para o PIB de 2018 é de alta de 2,37%. Mas, no mercado, já há quem veja viés de baixa até a faixa de 1% este ano. A intenção dos economistas é aguardar o resultado do PIB do primeiro trimestre para depois ajustar as estimativas para o crescimento econômico de 2018. A despeito das dúvidas em relação ao quadro internacional, o economista disse que alguns participantes demonstraram certa tranquilidade. "Mesmo com o dólar subindo, a inflação não deve disparar. A maior preocupação foi com a atividade", disse. Já outros, completou, se mostraram mais apreensivos com os efeitos externos no câmbio e, consequentemente, na inflação.

Os economistas ouvidos disseram que Viana não teceu comentários durante o encontro no Rio de Janeiro. Nesta terça-feira (29), o diretor tem dois encontros na capital paulista: um pela manhã e outro à tarde. A próxima divulgação do RTI será no dia 28 de junho.

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