segunda-feira, 26 de março de 2018

Facebook vira alvo de processos nos Estados Unidos


Enquanto autoridades americanas e europeias cobram explicações dos donos da firma sobre o desvio de dados de 50 milhões de pessoas, vários de seus acionistas e grupos de usuários já estão abrindo processos contra a rede social. Na ressaca do escândalo envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica, que teve acesso a informações pessoais de clientes do Facebook para manipular a última eleição presidencial americana a favor de Donald Trump, pelo menos quatro ações contra a empresa foram iniciadas nos últimos dias. Uma delas, movida pelo acionista Jeremiah Hallisey, reclama que a alta cúpula da rede social faltou com suas obrigações, fracassando ao evitar o mau uso de dados e não avisando os mercados e usuários sobre o problema. 

O processo em questão tem como réus Mark Zuckerberg, presidente e cofundador da empresa, a diretora de operações Sheryl Sandberg e de outros executivos no comando da gigante do Vale do Silício. Na visão dos advogados de Hallisey, diretores do Facebook tentaram “minimizar preocupações sobre o acesso a informações de seus usuários” ao continuar insistindo em comunicados a investidores que a firma tinha “controles internos e sistemas para detectar atividade suspeita”. O documento diz ainda que esses sistemas de controle e a política de privacidade de usuários da plataforma eram inadequados e que diretores da empresa sabiam que isso representava “um risco substancial para seus negócios”. 

Advogados também acusam os executivos da empresa que sabiam da gravidade do problema, entre eles Zuckerberg e Sandberg, de terem vendido parte de suas ações para evitar perdas, configurando uso ilegal de informação privilegiada – o processo diz que até R$ 5 bilhões em papéis foram vendidos semanas antes do escândalo. Outros dois acionistas, Fan Yuan e Robert Casey, abriram processos com o mesmo teor, afirmando que a empresa mentiu sobre como gerenciava dados de usuários e não explicou a real gravidade da situação a seus investidores, o que causou prejuízo com a queda no valor de suas ações.

Desde o início do escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o Facebook perdeu mais de R$ 160 bilhões em valor de mercado e sofreu dias seguidos de recuos na Bolsa de Nova York, amargando a pior retração em quatro anos. Outra ação movida por um grupo de usuários da plataforma exige reparação por terem seus dados pessoais vazados para fins indevidos – executivos do Facebook argumentam, em sua defesa, que foram enganados por um pesquisador que repassou essas informações à consultoria sem permissão da rede social.

Mas essa ação aberta por Lauren Price em nome dos 50 milhões de usuários afetados pelo problema acusa a rede social de agir com “absoluta negligência” ao permitir que ao longo das eleições americanas de 2016 os clientes da plataforma fossem “alvejados por propagandas políticas”. Tanto o Facebook quanto a Cambridge Analytica são citados como réus nessa ação.

Outro ponto que pode constranger ainda mais o Facebook é o fato de Peter Thiel, o fundador do PayPal e um dos executivos mais poderosos do Facebook, ter doado dinheiro à campanha de Donald Trump à Casa Branca, que então repassou parte do valor à Cambridge Analytica, expondo o elo entre a consultoria política e a rede social.

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