quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Banco Central termina reunião do Copom e reduz a taxa Selic para 6,75% ao ano


O Banco Central reduziu a taxa básica de juros do País para 6,75%, em votação unânime. O corte de apenas 0,25 p.p. era amplamente aguardado pelo mercado e marcou nova diminuição no ritmo de redução da Selic. Em seu comunicado após a reunião de dois dias do Copom iniciada ontem, os diretores do Banco Central sinalizam que essa poderá ser a última redução dos juros neste ciclo. Nas últimas semanas, parte do mercado já levantava dúvidas se o banco faria mais uma redução, para 6,5%, ou se encerraria o ciclo nos 6,75% definidos hoje. "Caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária", disse o banco. A decisão de hoje foi a 11ª do atual ciclo de cortes, iniciado em outubro de 2016, quando a taxa básica era de 14,25%. Ao todo, o Copom cortou 7,5 p.p. da Selic, acompanhando o surpreendente processo de desinflação da economia nos últimos 18 meses. Desde o pico de 10,71% no acumulado de 12 meses alcançado em janeiro de 2016, o IPCA tem mantido uma trajetória de queda até ficar abaixo do piso de 3% na leitura de 2017.

Em relatório enviado a clientes, analistas do Credit Suisse apontam que a recuperação da atividade e a melhora do crédito doméstico sugerem que não é necessário cortes adicionais. Na visão do banco, a curva dos juros futuros (DI – Depósitos interfinanceiros) de fato precifica a redução de hoje, uma pequena chance de um novo movimento para baixo em março, mas também a estimativa de reversão da política monetária a partir do segundo semestre.

Para a consultoria Roubini Global Economics, a Selic deve chegar ao final de 2018 com o juro a 7,5%. Para 2019, o próprio relatório Focus projeta o juro a 8%. “Enquanto a maior parte dos mercados concorda em grande parte que este será o fim da flexibilização do Banco Central, há um debate sobre quando ele começará a reverter o ciclo aumentando as taxas”, ressalta o economista sênior Pedro Tuesta em um relatório. Segundo ele, a reversão começará no último trimestre de 2018, embora a maioria não a aguarde até 2019.

O banco voltou a alertar para o risco do descontrole das contas públicas, prejudicial para a sequência do processo desinflacionário e de corte da Selic. “Uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”, disse o Copom em seu comunicado. O comentário do Banco Central vem em meio a reta final das discussões sobre a reforma da Previdência, que poderá ser votada em 20 de fevereiro após uma sequência de adiamentos. O governo, contudo, segue sem conseguir os 308 votos necessários para sua aprovação, que já é dada como praticamente descartada pelos analistas políticos e econômicos.

O cenário externo com um possível superaquecimento da economia dos Estados Unidos também é citado como um risco para a trajetória da inflação - e dos juros - do País. Uma aceleração norte-americana poderia estimular a inflação acima da meta de 2% do Federal Reserve, o que implicaria em um aperto da política monetária. Essa dinâmica contribuiria para a rotação de capital para títulos do Tesouro dos Estados Unidos em busca de uma rentabilidade maior, retirando, assim, liquidez do mercado e os investimentos em países de maior risco como o Brasil. Segundo o Banco Central, a falta de reformas tem risco intensificado em caso de “reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes”.

A taxa de juros de 6,75% é a menor da série histórica iniciada com a adoção do tripé econômico em 1999. Antes dos 7% da última reunião, o recorde anterior de 7,5% havia sido alcançado em outubro de 2012, quando o Banco Central, na época comandado por Alexandre Tombini, sofreu pressão política para seguir cortando juros, apesar da tendência desfavorável da inflação oficial, pressionada pelo consumo e, a seguir, pelos reajustes após anos de repressão dos preços controlados, a seca que pressionou o preço de energia elétrica e provocou quebra de safras.

Neste período de metas de inflação, a Selic chegou ao seu ponto máximo de 26,5% ao ano entre fevereiro e maio de 2003, como consequência da forte inflação. Na época, o IPCA disparou pressionado pela desvalorização do real frente ao dólar, com investidores reagindo à eleição de Lula à presidência da República.

Desde o início do Plano Real, contudo, a Selic chegou aos 45% em março de 1999, em uma tentativa quase desesperada do governo Fernando Henrique Cardoso de manter a entrada de dólar no Brasil, enquanto o País migrava do câmbio fixo para o atual câmbio flutuante, em meio às crises russa e asiática do fim dos anos 1990.

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