sábado, 27 de janeiro de 2018

Derrota da Boeing nos Estados Unidos deverá acelerar negociação com a Embraer


Principal concorrente da Embraer, a canadense Bombardier teve uma importante vitória comercial em disputa com a Boeing nos Estados Unidos. O resultado deverá acelerar as negociações para a associação entre a fabricante brasileira e a americana. A agência federal americana que regula regras de importação do país derrubou uma taxa de 292% que o governo Donald Trump havia imposto em dezembro sobre aviões da linha CSeries, modelo regional da Bombardier. O aparelho é o principal competidor da linha E2, da Embraer. Ambos são integrantes da nova geração de aeronaves dessa categoria. A Boeing havia feito uma queixa após sua rival européia, a Airbus, comprar o controle da linha CSeries da Bombardier em outubro.

Alegava que um dos modelos da CSeries competia diretamente com versões novas do Boeing-737, mas que seria vendido a preços baixos por ser muito subsidiado. O governo canadense chegou a ser sócio da linha de produção, algo inédito no mundo. A empresa aérea americana Delta havia encomendado 75 aviões do modelo nessas condições em 2016. Trump comprou a briga e determinou a sobretaxa, que visa compensar os subsídios maciços. 

Agora, a Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos derrubou a medida de forma unânime, por quatro votos a zero. Em sua argumentação, a Bombardier disse que seu produto não é um competidor direto do avião da Boeing. Tentou provar seu ponto pedindo que a agência analisasse no mesmo caso os maiores modelos da nova linha de aeronaves regionais da Embraer, o que não ocorreu. Mas sua posição venceu ao fim. Com isso, as negociações para a associação da Embraer com a Boeing deverão ser aceleradas para fazer frente à previsível demanda pelos aviões da CSeries nos Estados Unidos.

A Boeing não tem um aparelho regional para ofertar e enfrentar a Airbus, e a Embraer não tem a estrutura de vendas da gigante europeia. Além disso, chineses, russos e japoneses estão entrando no setor, acirrando a competição. A CSeries e a E2 são o futuro do nicho de aparelhos para 70 a 130 passageiros, dominado hoje pela atual geração de jatos regionais da Embraer (46% das vendas mundiais). A Bombardier tem, por sua vez, 34%. As duas empresas têm longo histórico de contenciosos, com vantagem para a brasileira, em fóruns internacionais.

O governo brasileiro, que possui poder de veto nos negócios da Embraer como herança de seu processo de privatização, rejeita a venda do controle para os americanos. Está sendo estudada uma associação, que tem arestas sendo trabalhadas sobre composição acionária e questões de soberania de programas militares. 

A disputa entre Boeing e Bombardier evidencia como governos atuam nesse mercado e teve outras consequências. A premiê britânica, Theresa May, queixou-se a Trump que 4.000 empregos que a Bombardier mantém numa fábrica na Irlanda do Norte estavam ameaçados. Além disso, a disputa fez com que o governo canadense suspendesse a negociação para adquirir 18 unidades novas de caças F/A-18, fabricados pela Boeing.

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