quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Ministros chavistas ladrões roubaram dois bilhões de euros da PDVSA


Um grupo de ex-ministros e líderes políticos do governo da Venezuela durante a presidência do ditador bolivariano Hugo Chávez (1999-2013) extorquiu mais de 2 bilhões de euros em propinas para intermediar contratos entre companhias estrangeiras e a principal empresa estatal, Petróleos de Venezuela SA (PDVSA). O sistema de cobrança de comissões ilegais, que chegava a até 15%, se estende a pelo menos dez pessoas de acordo com relatórios da Polícia de Andorra, pequeno Principado europeu entre Espanha e França, onde o dinheiro foi ocultado. Entre eles, estão ex-dirigentes chavistas, empresários e parentes.

O jornal esquerdista espanhol El Pais teve acesso às informações das contes correntes das autoridades e das sociedades utilizadas para manejar o dinheiro no esquema. A rede estava formada pelos ex-vice-ministros venezuelanos de Energia, Nervis Villalobos e Javier Alvarado, um primo do ex-presidente da petroleira e embaixador da Venezuela na ONU, Rafael Ramírez, além de diretores da companhia. O grupo ainda inclui um empresário do ramo de seguros e seus testas de ferro.

Os subornos foram depositados entre 2007 e 2012 em uma rede de 37 contas correntes do Banco Privado de Andorra (BPA), em nome de sociedades panamenhas. Em seguida, o dinheiro foi aplicado em paraísos fiscais como Suíça ou Belize através de um sistema para mascarar os fundos, de acordo com o inquérito, liderado pela juíza espanhola Canòlic Mingoranca.

Para o banco espanhol, os envolvidos justificaram os depósitos milionários como pagamento por consultoria a empresas, de acordo com departamento de compliance da instituição, que fiscaliza para prevenir a evasão de capitais e evitar que fundos ligados a corrupção e tráficos de droga e arma sejam depositados sob aparência legal. Os investigadores responsáveis defendem que a assessoria nunca existiu. De acordo com o "El País", existe a suspeita de que cobrou comissões entre 10% e 15% de empresas estrangeiras, sobretudo chinesas, que receberam depois contratos de extração de petróleo gerenciados pela PDSVA e suas subsidiárias. O governo venezuelano reagiu com prisões na semana passada, dois anos depois do início da investigação. A Procuradoria do país aumenta o montante desviado para € 4,2 bilhões.


Apesar das dúvidas, o BPA abriu as contas sob suspeita e a unidade de fiscalização interna chegou a advertir a condição dos clientes de "Pessoas politicamente expostas" (PEP), que são aqueles que devem se submeter a um controle especial para prevenir lavagem de dinheiro diante da ocupação de um cargo público.

As autoridades de Andorra, que até ano passado atuavam em sigilo bancário, começaram a intervir em março de 2015 na entidade escolhida pela rede para limpar o dinheiro sujo. A maior parte do dinheiro foi sacada antes do início da investigação judicial, em julho daquele ano. O governo dos Estados Unidos já havia denunciado anteriormente que o BPA tinha sido usado por grupos de criminosos para lavagem de capital, o que os donos da instituição negam.

A juíza Mingorance manteve sob seu foco o ex-vice-ministro de Energia de Chávez entre 2004 e 2006, Nervis Villalobos. A investigação revela que ele fez 12 depósitos no BPA e firmou 11 sociedades no processo. Suas contas receberam € 124, milhões, segundo a Polícia de Andorra. Ele foi detido em Madri em outubro em um processo diferente dos Estados Unidos, que exigem sua extradição. Villalobos também é alvo de uma investigação da Audiência Nacional da Espanha por subornos à empresa de energia espanhola Duro Felguera. 

Já Javier Alvarado, ex-vice-ministro de Energia e Petróleo e ex-diretor entre 2007 e 2010 da Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) realizou cinco depósitos e quatro sociedades que obtiveram € 46,5 milhões. Uma de suas contas foi aberta em julho de 2008, quando ainda fazia parte do governo de Chávez.


Diego José Salazar, primo de Rafael Ramírez, ex-ministro de Energia, ex-presidente da PDSVA e representante venezuelano na ONU do governo do atual ditador Nicolás Maduro até duas semanas atrás, quando foi demitido, acumulou sete contas e seis sociedades, que movimentaram € 21,2 milhões. Ele foi preso na semana passada pela participação no esquema. A Procuradoria da Venezuela anunciou na última terça-feira que investiga Ramírez, que era próximo de Chávez, pelos supostos negócios petroleiros com seu primo. Ele não tem contas no BPA, nem está entre os investigados da juíza.

A polícia também investiga as contas ocultas do magnata venezuelano Omar Farias, empresário do setor de seguros próximo a autoridades do governo. Suas contas receberam € 586 milhões, segundo a polícia. Rodney Cabeza, vice-presidente da empresa de Farias, a Seguros Constitución, disse ao "El País" que a origem do dinheiro do empresário "responde a operações de resseguros totalmente legais" e que a companhia gerenciou a apólice de seguro de PDVSA apenas em 2006. O diretor disse ainda que Farias não tem relação com o ex-ministros, mas admitiu que 50% dos clientes da empresa são funcionários públicos.

O gestor financeiro de Salazar, Luis Mariano Rodríguez, também está sendo investigado por ter movimentado € 626 milhões em contas do BPA. O representante de Salazar e Farias, José Luis Zabala também é alvo de suspeita, por ter recebido € 27 milhões, bem como o ex-adovgado da PDVSA, Luis Carlos de León Pérez, preso em Madri em outubro por outro caso de corrupção.

Como no caso da Odebrecht, no Brasil, o BPA recorreu a sua filial BPA Serveis SA para criar uma rede de sociedades de fachada no Panamá a fim de dificultar o rastreamento do fluxo de fundos milionários. O alerta sobre o esquema de corrupção veio após a França advertir a Andorra sobre uma transferência suspeita de € 89 mil. O beneficiário do dinheiro teria sido um hotel francês como "presente por serviços prestados". Após a operação, emergiu uma empresa de Diego Salazar, primo de Ramírez, ex-embaixador venezuelano na ONU.

O segundo passo suspeito foi em 2012, quando Salazar tenta enviar € 40 milhões da Suíça para França para comprar uma propriedade. A juíza de Andorra bloqueou a operação e, em todos os casos, aparecia o nome do BPA, que está sendo investigado no Principado por vários motivos.

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