segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Lava Jato tem de acessar sistema para ver esquema de propina, diz delator da Odebrecht

Hilberto Mascarenhas, delator da Lava Jato, responsável pelo Setor de Operações Estruturadas, o "departamento de propinas" da empreiteira propineira Odebrecht, disse nesta segunda-feira (18) que o Ministério Público Federal terá de "abrir" o My Web Day, programa de contabilidade paralela da empreiteira para confirmar mais detalhes sobre subornos pagos em esquemas de corrupção. 

Em depoimento à Justiça Federal em Brasília, prestado por meio de videoconferência, ele afirmou que, dado o volume de pagamentos que gerenciava, não poderia precisar repasses feitos pela Odebrecht a André Luiz de Souza - ex-integrante do Comitê de Investimentos do FI-FGTS (Fundo de Investimentos do FGTS) que é réu em um processo de corrupção. 

"Se, por acaso, o Ministério Público conseguisse abrir o programa My Web Day, que está em poder do Ministério Público, lá dentro teria conta, codinome, valores pagos, local, tinha tudo. Mas está lá", respondeu, ao ser questionado sobre os valores eventualmente transferidos a "Muçulmano", codinome atribuído a Souza. 

O ex-executivo da Odebrecht, hoje aposentado, disse que, por orientação do então presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, era terminantemente proibido que os funcionários de seu setor soubessem as identidades dos agentes públicos beneficiários de propinas. 

O departamento recebia apenas os codinomes, os valores e os locais de entrega dos recursos, o que era registrado no sistema Drousys, que servia para a comunicação das ordens de pagamento. As informações desse banco de dados, complementadas com os depoimentos de 78 delatores, viabilizaram a abertura de investigações contra suspeitos de corrupção na Lava Jato. Mas o Ministério Público Federaç tem tido dificuldades para acessar os dados do My Web Day, com registro mais completo dos esquemas da Odebrecht. 

Só em agosto, em cumprimento ao acordo de leniência com a Lava Jato, o grupo entregou discos rígidos com cópia do sistema feita por autoridades suíças em servidor que fica naquele país. Souza é acusado de receber ao menos R$ 13,5 milhões em propinas por meio do Setor de Operações Estruturadas, em troca de facilitar investimentos do FI-FGTS para a Odebrecht. 

Mascarenhas alegou no depoimento que mal conhecia Souza e que "ninguém tem memória de oito anos" para poder responder sobre pagamentos a ele. Justificou que o departamento de propinas chegou a movimentar US$ 500 milhões em 2010. Apesar das dificuldades relatadas por Mascarenhas, outros executivos - Benedicto Júnior, Rogério Ibrahim e Henrique Valladares - confirmaram em depoimentos ter combinado o pagamento das vantagens com Souza, que teve contas descobertas na Suíça. Eles eram dirigentes das empresas do grupo Odebrecht e, por isso, tratavam diretamente de pagamentos ilícitos com agentes públicos.

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