sábado, 23 de dezembro de 2017

Brasil é o maior produtor de lixo da América Latina

A Terra tem 7,4 bilhões de habitantes, 510 milhões de quilômetros quadrados e 1,3 bilhão de toneladas de lixo. Essa é a quantidade de resíduos sólidos produzidos anualmente, segundo relatório do Banco Mundial. Com o planeta se industrializando em ritmo acelerado, cada vez mais essa pilha de descarte é composta por eletrônicos. Desde grandes máquinas a celulares, o lixo eletrônico está crescendo, segundo relatório feito pela Universidade das Nações Unidas, em parceria com outras instituições. O Global E-waste Monitor 2017 revelou que, em 2016, foram eliminados 3,3 milhões de toneladas de produtos com bateria ou plug, número 8% maior que o gerado em 2014.

Para se ter idéia dessa quantidade difícil de visualizar, se todo o lixo eletrônico fosse colocado em um único lugar, seria formada uma montanha com o peso de nove pirâmides de Giza e de 4.500 torres Eiffel. Os produtos encheriam 1,23 milhão de caminhões de 18 rodas, com capacidade de 40 toneladas, cada um, que, se enfileirados, fariam o trajeto Nova York-Bangcoc — ida e volta.

“O problema mundial do e-lixo continua a crescer. Melhorias na mensuração desse problema é essencial para criarmos e monitorarmos metas, identificando políticas eficazes”, comenta Jakob Rhyner, vice-reitor da UNU. Ele atenta para a necessidade de se produzir dados nacionais, pois o relatório identificou que muitos países não têm estatísticas a respeito. Estimativas regionais e globais existentes são baseadas na produção e no comércio, e não cobrem adequadamente todos os riscos ambientais e à saúde impostos pelo tratamento não seguro e o descarte por aterro ou incineração”, observa.

De acordo com o Global E-waste Monitor 2017, o Brasil é o maior produtor de lixo eletrônico da América Latina, com mais de 2 milhões de toneladas em 2016. Em relação ao relatório de 2014, o crescimento foi de quase 10%. Segundo a ONU, o País não tem estatísticas padronizadas nem políticas de abrangência nacional para o manejo desse tipo de descarte.

Além do enorme problema ambiental, o lixo eletrônico descartado de qualquer maneira é um desperdício de recursos. Os aparelhos elétricos e eletrônicos contêm cerca de 60 elementos como ouro, prata, cobre, platina e outros materiais recuperáveis. Caso o e-lixo produzido no ano passado tivesse sido tratado adequadamente, o relatório estima que seriam gerados US$ 55 bilhões, que é mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países.

Baseados no rápido crescimento da cadeia de lixo doméstica, os autores do relatório global prevêem muito mais “sujeira eletrônica” no futuro próximo — um aumento de 17%, o equivalente a 52,2 milhões de toneladas — em 2021. “Vivemos em um tempo de transição para um mundo mais digital, onde automação, sensores e inteligência artificial estão transformando todas as indústrias, nosso cotidiano e nossas sociedades. O lixo eletrônico é o mais emblemático subproduto dessa transição, e tudo indica que isso vai continuar a crescer a taxas sem precedentes”, afirma Antonis Mavropoulos, presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), que também assina o relatório. “Descobrir soluções apropriadas para o manejo do e-lixo vai medir nossa habilidade de usar os avanços tecnológicos para estimular um futuro sem desperdício e fazer da economia circular uma realidade para essa cadeia complexa que contém recursos valorosos.”

Porém, o relatório mostra que o mundo está bem distante desse ideal. Somente 20% do lixo eletrônico produzido em 2016 foi recolhido e reciclado. Cerca de 4% foram jogados em lixões, e 76% (ou 34,1 milhões de toneladas) acabaram incinerados, aterrados, reciclados informalmente (e, portanto, de maneira insegura) ou continuaram armazenado nos lares. “Os bens eletrônicos estão crescendo exponencialmente em número, variedade e complexidade, todos eles contendo tanto material valoroso quanto perigoso. O desafio de reusar, reciclar e dar um destino adequado ainda é enorme e vai crescer. Esteja o lixo eletrônico dentro dos lares, no setor privado ou em lixões ao redor do mundo. Precisamos pensar nisso com muito cuidado e implementar soluções para o problema”, alertou, em nota, Keith Alverson, presidente do Centro Internacional de Tecnologia Ambiental, das Nações Unidas.

Embora mais países estejam adotando legislação sobre o e-lixo (o Brasil não está nesse meio), apenas 41 nações quantificam os despejos eletrônicos. Nos países em que não há regulamento a respeito, o lixo é tratado como qualquer outro, levando a um aumento de risco ambiental e aos seres humanos, pois equipamentos eletrônicos têm muitos elementos tóxicos, como cobre, que, caso não receba preparo adequado, pode contaminar o ambiente por séculos.

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