quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Renault confirma o lançamento de Fluence elétrico no Brasil


À espera de incentivos para carros elétricos, a Renault é uma das marcas mais dispostas a investir no nicho no Brasil. Junto com a companheira de grupo Nissan, a marca francesa investe por enquanto apenas nas vendas para frotistas. Além do início da montagem de 32 unidades do Twizy em kits pela Itaipu Binacional, a companhia francesa fechou a venda para fornecedora de energia CPFL das duas primeiras unidades do Fluence Z.E. (Zero Emission) no Brasil, vindos da Coréia do Sul. A compradora usará os carros para transporte dos seus executivos. Vincent Carré, vice-presidente mundial de Veículo Elétrico Renault, discorre sobre o panorama do carro elétrico no Brasil e no mundo, como será a expansão no futuro e outras tendências. Para ele, híbridos como o Prius estão mortos, as baterias vão triplicar de autonomia muito em breve e algumas idéias como o carro a hidrogênio não chegarão a massificar. 

Diz Vincent Carré: "Já há alguma mudança no mercado e nessa parte do mundo esperamos que os elétricos comecem a ser vendidos para outros clientes e não apenas para parceiros. Estamos esperando incentivos para massificar as vendas. Por enquanto, é o início e temos parceiros fortes que consomem a gama de elétricos da Renault, como Itaipu e Fedex. Começaremos primeiro a vender nossos elétricos abertamente. Depois faremos os carros no Brasil. É mais barato fazê-los aqui. Mas precisamos de incentivos, na Europa os governos cobrem parte do valor, o que aproxima o valor dos elétricos dos carros normais, cerca de 10% apenas de diferença. Na Inglaterra são cinco mil libras esterlinas de incentivo. O governo brasileiro precisa criar sistemas do tipo. Até pelo menos o preço de produção e de mercado dos elétricos ficar parecido com os modelos a combustão, o que deve acontecer talvez em cinco anos". 

Evidentemente, isso é uma chantagem. O governo não precisa pagar novamente mais um incentivo para montadoras de automóveis. Basta que mude a legislação impondo a substituição dos veículos com motores a explosão por elétricos e dê prazos. As montadoras ficarão obrigadas a promover as mudanças. Vincent Carré admite: "Os carros elétricos ainda são o melhor uso de energia. Nós temos que reduzir o custo, mas os clientes ajudam a popularizar os carros. Os elétricos são mais esportivos, os motores do tipo tem torque instantâneo, basta pisar para ter toda a força, modernos e silenciosos. Aqueles que têm recomendam o carro. Na França, a taxa de satisfação dos milhares dos compradores do Zoe chega a 98% e a taxa de recomendação é de 97%. Para você ter uma idéia, em geral um bom carro da Renault tem aprovação de 80% ou pouco mais. O comprador de um elétrico costuma até emprestar o carro para amigos, é um fenômeno completamente novo". 

Ele também comenta sobre os avanços do carro elétrico no mundo: "Em alguns países o avanço é rápido. Um a cada cinco carros vendidos na Noruega são elétricos. As emissões são zero e o motor elétrico é o que faz o melhor uso de energia. Além disso, você traz qualidade de vida nas grandes cidades. As vendas aumentam muito na Europa, devem ser ampliadas em 76% em comparação a 2013. Mas a China é a que mais investe por causa da poluição. Será um aumento de cinco vezes em relação a 2013. O mercado chinês de elétricos ultrapassará os Estados Unidos, atualmente o maior comprador, em 2015. O governo investe pesado para diminuir as emissões lá, onde até colégios chegam a usar domos de plástico para isolar a atmosfera. Para lá, queremos carros do tipo C como o Zoe".


Vincent Carré também é cético quanto aos carros híbridos: "Nós achamos que eles tem um bom sucesso, mas veja que os elétricos cresceram 25 vezes na projeção de vendas, enquanto o Toyota Prius apenas quatro. Há vários fabricantes que apostaram em novos elétricos e colaboraram com isso, como a BMW e o i3, Kia Soul EV, Smart Eletric Drive e Mercedes-Benz Classe B. Eles também são muito caros, pois tem dois motores, um a combustão e outro elétrico, um pack de baterias pequeno e tanque de combustível, por isso mesmo é transitório. O Prius está morto. Eles custam mais caros e emitem apenas de 10 a 60% menos, os elétricos nada. Os híbridos normais não vão atender as novas regras propostas pelo IPCC (NR: Painel Internacional de Mudanças Climáticas). A meta é a redução de 90% nas emissões até 2050".

Agora os plug-ins (híbridos que podem ser recarregados na tomada e tem baterias e autonomia maiores) são diferentes, eles rodam mais de 60 km apenas na eletricidade. Após o motorista rodar tranquilamente pela cidade, ele pode pegar uma estrada e contar com o motor a gasolina. Chegam a consumir muito pouco, uma economia de dezenas de quilômetros rodados por litro, e emitem bem menos. Os plug-in ainda serão transitórios para carros acima dos compactos. A Mitsubishi aposta neles para os utilitários. Até os modelos do tamanho do Sandero e até o Fluence, a eletricidade pura é o suficiente.

Há modelos movidos a pilha de combustível (fuel cell), abastecidos com hidrogênio. Os motores sozinhos custam mais de 25 mil euros. As estações de recarga que mantém o hidrogênio refrigerado custam de 500 mil a 1 milhão de euros. É tão caro que quase todos abandonaram. Não há perspectiva de barateamento, talvez se tiver alguma revolução na tecnologia valha a pena no futuro, daqui a 20 anos.

Existirão cinco ou seis novas tecnologias de bateria até 2020. A mais provável de ser adotada e se massificar, ficando mais barata, é a de zinco. Há mais fontes de zinco do que de lítio, o que é um entrave para as baterias de íons de lítio atuais. A capacidade dos packs de bateria vai dobrar até 2020 e triplicar até 2025. Pode-se esperar por uma autonomia de, no mínimo, 400 km e, depois, até 700 km. O custo das baterias deve cair pela metade também até 2020.

A tecnologia quick drop de troca do pack completo de baterias em minutos, que parecia o máximo, apresentou um problema que é a tecnologia muito cara. Diz Vincent Carré: "Você tem que estocar pelo menos dez packs de baterias, que são grandes. O preço das estações é muito alto, cerca de um milhão de euros. Com 50 mil euros você pode fazer uma estação de recarga rápida (quick charge) com seis pontos capaz de preencher 80% das baterias de um Twizy em apenas 10 minutos. É o mesmo tempo que levaria a troca das baterias em uma estação quick drop".

Segundo ele, será difícil os carros elétricos chegarem a vender mais que os convencionais: "Os elétricos devem representar 20 ou 25% do mercado entre 2020 e 2025. Até 2040 pode ser 50%. As pessoas vão carregar os seus carros que nem um smartphone, não será um incômodo. 40% dos europeus são compatíveis com a autonomia máxima média atual de 160 km, ou seja, teoricamente poderíamos vender até cinco milhões de carros no continente. Só vendemos para pessoas que tem esse perfil, nossos consumidores rodam em média de 40 a 50 km diariamente. Em termos de atitude do consumidor ele se sente em uma mudança cultural. Eu mesmo, em duas semanas deixei de me preocupar com a autonomia do meu elétrico. Se dirigirem tranquilos, é possível chegar aos 200 km e eu conheço os que chegam normalmente a 250 km. Virou um jogo para eles. Eu faço os 160 km sem moderar, porque é muito chato isso. Mas eu uso bem os freios regenerativos (capazes de recarregar as baterias com parte da energia gerada nas frenagens) para aumentar em até 20% a economia. Eu recarrego o carro a cada três dias". 

Na Europa, até o ano que vem a maioria das highways terá estações de recarga em quase todo o continente. Será possível viajar tranquilamente de Paris a Marselha sem se preocupar. É uma parceria entre vários fabricantes de elétricos como a Nissan, BMW e Volkswagen. 

Quanto ao custo das baterias, diz Vincent Carré: "As baterias estão durando mais do que esperávamos. Elas vão durar 10 ou 20 anos, o prazo de utilização do veículo. Depois desse tempo elas terão ainda pelo menos 75% da sua capacidade, um percentual que fica no limite para um carro elétrico. Nós somos responsáveis por isso, na Europa temos duas fábricas de reciclagem de baterias. Elas têm uma segunda via e podem ser adaptadas. Se tornam grandes pilhas e podem ser até nobreaks para companhias. O elétrico consome na recarga 3,7 kw/hora. Para você ter uma ideia, um típico chuveiro elétrico exige 5,8 kw/hora. Pensaram que teria um impacto na França (o maior mercado europeu de elétricos, seguido da Alemanha e Noruega), mas a maioria das pessoas carrega o carro em casa de noite. Depois das 10 horas da noite a eletricidade custa a metade. O Zoe (como o Leaf) você pode programar a hora certa que ele vai começar a recarregar. Você pode chegar às 7 da noite e plugar o carro na tomada, ele só começará a se recarregar quando o horário programado chegar. Se for bem feito, o impacto será zero". 

O carro elétrico terá impacto na alteração da vida cotidiana em vários aspectos: "Daqui a dez anos pode ser um problema. Temos que criar baterias para os postos de recarga reabastecerem apenas no horário certo e usando a carga armazenada durante o dia. Ou postos com painéis solares que sirvam para alimentar essas baterias. A concessionária de energia ainda não gosta da ideia de pagar por algo, mas teoricamente os carros e postos ligados na rede poderiam fornecer energia quando estivessem plugados em horário de pico e reabastecerem apenas quando a eletricidade estiver mais barata. Poderiam estocar e vender no pico, diminuindo a necessidade das usinas termoelétricas".

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