quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Ministro destacou assessor para fazer proposta em licitação, diz marqueteiro Renato Pereira

O marqueteiro Renato Pereira disse em delação premiada que o ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), destacou um assessor para ajudar a sua empresa, a Prole Propaganda, a montar a proposta apresentada na licitação de publicidade aberta pela pasta em 2016. No depoimento em que detalha a suposta fraude, gravado em vídeo, Pereira diz que um "membro do Ministério do Esporte", indicado pelo peemedebista, viajou algumas vezes ao Rio de Janeiro, sede da agência, analisou a documentação que a Prole entregaria na concorrência e fez "correções".

Renato Pereira contou à Procuradoria-Geral da República que Picciani direcionou a licitação de publicidade da pasta para a Prole. O acerto, segundo ele, ocorreu no gabinete do ministro em Brasília. A agência, de fato, foi classificada como uma das duas vencedoras, aptas a dividir a conta de R$ 55 milhões, mas desistiu de assinar o contrato dias após a prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), pela Lava Jato. Oficialmente, alegou problemas financeiros.

Renato Pereira foi o principal marqueteiro do peemedebista e confessou ter participado de esquemas de corrupção que o envolvem. No depoimento, o delator afirmou que, no suposto encontro em Brasília, Picciani foi "muito receptivo" a dirigir a licitação para a Prole e indicou que também favoreceria a Nacional Propaganda, que ficou em primeiro lugar na disputa.

A agência pertence a Paulo de Tarso Lobão Morais, que foi marqueteiro de campanhas do deputado estadual fluminense licenciado Jorge Picciani (PMDB), pai do ministro. "A agência Nacional vai entrar, mas ela não tem nenhuma tradição de produção de conteúdo", teria dito o ministro. Conforme o relato de Pereira, após a conversa Picciani teria chamado um de seus assessores e avisado: "Tô combinando com o Renato que a Prole seja uma das agências que vença a licitação. Depois você cuida dos detalhes com ele".

O delator disse não saber quem foi o funcionário supostamente indicado por Picciani. Ele explicou que outras pessoas de sua agência trataram com ele depois daquele primeiro contato. O marqueteiro explicou que não houve cobrança de propina por parte do ministro e de seu assessor. Com a desistência da Prole, foi declarada vencedora, além da Nacional Propaganda, a Calia Y2, terceira classificada. A agência pertence a Gustavo Mouco, irmão de Elsinho Mouco, marqueteiro do presidente Michel Temer.

Pereira também deu detalhes de episódio no qual Picciani, em 2015, teria cobrado uma comissão para favorecer a Prole numa concorrência de publicidade do Ministério da Saúde. Na época, ele era líder do PMDB na Câmara e a bancada do partido havia indicado o deputado Marcelo Castro (PI) para o comando da pasta. O marqueteiro relatou que Picciani, inicialmente, pediu 4,5% do faturamento com o contrato. Esse percentual seria uma referência de circunstância anterior, quando agências teriam feito um pregão para definir propinas na pasta. "No final do ano de 2014, o Ministério de Saúde tinha de gastar uma verba que já estava disponibilizada. Houve uma disputa entre as agências para conseguir esses recursos, o máximo possível. Como é que a distribuição foi feita? Foi um leilão, quem dava mais para agentes públicos do ministério", contou Pereira, sem precisar quais servidores teriam sido subornados.

Ele disse ter explicado a Picciani ser inviável pagar comissão tão alta, ao que o então deputado teria concordado em baixá-la para 3%. Os planos de direcionar a licitação para a Prole não prosperaram, segundo ele, porque a o PMDB do Rio de Janeiro perdeu influência sobre a Saúde com o avanço do processo do impeachment.

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