domingo, 12 de novembro de 2017

Após quase três anos no vermelho, economia de Caxias do Sul volta a respirar


Os últimos três anos foram os mais difíceis da história da economia caxiense. Depois da crise que atingiu em cheio a principal matriz econômica da cidade, o setor metalmecânico, Caxias do Sul sai do buraco, mas ainda cambaleando. Foram 39 meses de queda vertiginosa. O fundo do poço foi alcançado em janeiro de 2016. O índice negativo ultrapassou a casa dos 18% no acumulado dos 12 meses. De lá pra cá, começou o lento caminho de volta. Em setembro, finalmente, alcançou a borda e voltou a respirar: alta de 1,1%. A previsão dos economistas, porém, é de uma recuperação frágil e vulnerável. Isso significa que ela pode voltar ao vermelho.

O poder de compra do caxiense caiu e a inadimplência subiu. Em 2014, o PIB da cidade era R$ 22,3 bilhões — per capita de R$ 47.587,00. A previsão para 2017 é de R$ 26 bilhões — ou R$ 53.788,00 per capita , considerando a estimativa populacional de 2016, de 483.377. Alta de 13%. A inflação do período passa dos 26%. Em setembro, 77,5 mil caxienses estavam endividados. 

O setor metalmecânico, que só tinha sentido na pele a passageira crise mundial de 2009, viu mais de 500 empresas fecharem as portas e um exército de trabalhadores ser demitido. Em 2015, o setor desligou, em média, 2 mil trabalhadores por mês. De 2013 a 2017, foram fechados 21 mil postos de trabalho. Os empresários da área viram o faturamento despencar pela metade. Em 2013, chegou a R$ 24 bilhões. Em 2017, a previsão (otimista) é de chegar a R$ R$ 10 bilhões. Comércio e serviços foram os últimos a sentir a crise. E estão sendo os últimos a sentir a retomada. Em setembro, o comércio fechou em 3% e os serviços - 1.

Em 2013, mais de 183 mil pessoas atuavam no mercado caxiense com carteira assinada. Hoje, o número é de 159,5 mil. São 23,6 mil postos a menos. Nestes dados não estão incluídos os profissionais que estão se formando e entrando no mercado. O Centro de Integração Empresa Escola (Ciee) de Caxias informa que conta com mais de 24 mil cadastros de pessoas procurando o primeiro emprego. 

Os empresários estão voltando a andar com suas próprias pernas, diz a doutora em economia Maria Carolina Gullo. Ou seja, perceberam que o modelo esgotou e que não dá mais para depender somente das medidas de incentivo anunciadas pelo governo federal. "Estão agindo por conta própria", afirma ela. Para o economista Astor Milton Schmitt, a crise serviu para dar um sopro nas brasas que estavam apagadas: "Nossas deficiências ficaram evidentes".

Os empresários também foram obrigados a sair da zona de conforto e a quebrar paradigmas. Já é possível perceber um movimento no meio empresarial de busca de novos nichos de mercado e tecnologias atualizadas. Também há empresas, mesmo em número ainda reduzido, que estão diversificando sua produção. "Se a vocação de Caxias é a indústria, temos de buscar opções dentro deste setor e fornecer para outras áreas. Se o nosso entrave é a logística, precisamos vislumbrar alternativas para ganhar de outra forma. Não dá mais para ficar esperando por milagres. Está na hora de agir", alerta Maria Carolina. 

Começar o processo de reindustrialização é uma das saídas. Com o atual valor do dólar (R$ 3,24), não está mais valendo a pena produzir na China e somente embalar o produto no Brasil. É uma esperança de que a produção interna retome e de que a capacidade ociosa de 28% seja reduzida.  A economista acredita neste movimento: "O caminho é longo e árduo. Mas é preciso começar". 

Ficou claro que a cidade não pode depender somente de um setor para crescer e desenvolver. Atualmente, 80% da indústria ainda são representados pelo automotivo pesado, que depende de renovações de frotas e linhas de financiamento federais. Nos últimos 12 meses, este segmento ainda acumula queda de 6%. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Reomar Slaviero, são poucos clientes e, se eles param de comprar, a produção também para. "Depender de poucas empresas é um perigo. O risco é muito alto", declara.

No final de 2010 e início de 2011, o setor metalmecânico deu um salto e cresceu 30,8%. Em janeiro de 2016, a queda chegou a 23,9%: "Crescemos muito. Por causa disso, o tombo do setor foi maior e mais sentido". A prova está na queda do setor em setembro, que recuou 3%. A esperança está nas exportações. Em setembro, elas recuaram 13% em relação a agosto. Mas, no acumulado dos últimos 12 meses, cresceram 0,8%.


O comércio e serviços representam 51% do PIB de Caxias do Sul. Foram os últimos a sentir a maior crise enfrentada por Caxias e ainda estão sentindo os reflexos. Em setembro, o comércio fechou em queda de 7,1% em relação a agosto. No acumulado dos últimos 12 meses, está 3% no azul. Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias (CDL), Ivonei Pioner, a crise está deixando um aprendizado: "Aprendemos que o comércio é muito mais que vender. É preciso ter gestão e mecanismos de controle". Quem não criou pontes, informa, não conseguiu se movimentar e não sobreviveu à crise. O perfil do consumidor também mudou. As necessidades são outras.

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