sábado, 28 de outubro de 2017

Jornal russo dará treinamento e armas para seus repórteres


Uma onda de violência contra opositores de Vladimir Putin, na Rússia, levou o principal jornal dissidente a planejar distribuir armas para seus funcionários. A decisão do Novaya Gazeta acontece depois que uma jornalista russa foi esfaqueada, no começo desta semana, na redação da rádio Ekho Moskvy. Dimitry Muratov, editor do Novaya, adiantou que os funcionários passarão por treinamento e que o jornal fornecerá armas não letais, com balas de borracha, para que possam se proteger de ataques potenciais. “Nós temos enfrentado uma série de tentativas de assassinato. O que eu posso fazer? Não vejo o Estado nos proteger”, disse Muratov na quarta-feira em entrevista à rádio Ekho: “Eu vou armar a redação”.

Desde 2001, segundo o jornal inglês The Times, seis jornalistas do Novaya foram assinados ou morreram em circunstâncias misteriosas, incluindo a repórter investigativa Anna Politkovskaya, que relatou abusos de direitos humanos na Chechênia e foi morta a tiros na entrada de seu apartamento em Moscou, em 2006. “Se o Estado não está pronto para nos proteger, nós nos protegeremos”, disse Sergei Sokolov, editor-adjunto do Novaya, ao jornal The Guardian. “Quando os jornalistas se encontram indefesos diante da ilegalidade nas ruas e da indisciplina dos órgãos responsáveis pela aplicação da lei, não há outra maneira”, completou.

No início desta semana, Tatyana Felgenhauer, de 32 anos, foi atacada e esfaqueada no pescoço na redação da rádio Ekho Moskvy, na capital russa. “Agradeço por todo o apoio e o carinho. Tudo vai ficar bem. Respirar por um tubo é até engraçado. Pela primeira vez em 16 anos na rádio pude dormir como é devido”, brincou a jornalista na terça-feira, após sair do coma induzido. Apesar da gravidade do ataque, os médicos insistiram desde o primeiro momento que a vida da jornalista não corria perigo, mas que seu estado é de “gravidade mediana”.

Alexei Venediktov, diretor da rádio, um dos meios de comunicação mais críticos ao Kremlin, assegurou que o agressor, identificado como Boris Grits, de 49 anos, com cidadania russa e israelense, tinha seguido a vítima e tinha um mapa da emissora. 

Alguns veículos de imprensa apontaram que o ataque à jornalista se enquadrava na nova campanha contra a oposição ao governo russo, algo que foi negado pelo Kremlin. “Tentar descrever este acontecimento trágico, e que realmente está ligado a um caso de loucura, como relacionado com outros assuntos é ilógico e, no nosso ponto de vista, provavelmente equivocado”, disse Dmitri Peskov, o porta-voz da presidência russa.

Grits, que foi detido logo após o ataque contra a jornalista, negou que tivesse a intenção de matá-la e alegou que se sentia “assediado sexualmente” pela vítima “através de um contato telepático”. A Justiça acusou formalmente Grits de “tentativa de assassinato” e o submeteu à prisão preventiva por um período de dois meses. 

Organizações de defesa dos jornalistas afirmaram que parte da culpa do ataque recai sobre a emissora de televisão estatal russa, depois que esta acusou diversas vezes a rádio Ekho Moskvy e Tatiana Felgenhauer de serem “agentes do Departamento de Estado dos Estados Unidos”.

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