sábado, 28 de outubro de 2017

Epidemia de mortes por opiáceos vira emergência de saúde nos Estados Unidos

O presidente Donald Trump declarou na quinta-feira (27) que a epidemia de opiáceos nos Estados Unidos é uma emergência de saúde pública nacional, após muitas críticas sobre sua aparente indiferença à crise que matou 53.300 americanos no ano passado. Mas o fato de não ter classificado a epidemia como uma "emergência nacional", o que levaria à liberação imediata de recursos para iniciativas de combate a opiáceos, desagradou uma ala do governo e do Congresso, que quer medidas mais concretas.

"Estávamos esperando o presidente dizer que pediria US$ 100 bilhões ao Congresso para isso, coisas específicas", disse o senador democrata Edward Markey. "Mas só palavras sem ações não passam de promessas falsas". Sua declaração não garante mais recursos, mas permite que fundos sejam redirecionados, verbas cheguem mais rapidamente às comunidades atingidas e barreiras regulatórias sejam removidas.

Em discurso aberto pela primeira-dama, Melania, Trump usou a luta contra o alcoolismo de seu irmão mais velho, Fred, como um exemplo da dificuldade em lidar com o vício em drogas. Em um esforço calculado para abrandar seu estilo, Trump falou em "famílias dilaceradas" pelas drogas, "órfãos dos opióides" e de uma "geração desperdiçada" ao prometer liberar recursos para tratar viciados em heroína e analgésicos à base de opiáceos - os Estados Unidos são o país que mais consome esses medicamentos no mundo.

No ano passado, quase um milhão de americanos usaram heroína e 11 milhões abusaram de analgésicos opiáceos. No mesmo ano, 64 mil americanos morreram de overdose de drogas, sendo 53.300 de analgésicos opiáceos ou de drogas como heroína e fentanil.

"Estamos lidando com a maior crise de drogas da história dos Estados Unidos", disse o presidente, rodeado de pessoas que perderam amigos ou parentes para os opiáceos. "Overdoses agora são a principal causa de morte no país. Mais pessoas morrem de overdose do que em acidentes de carro ou mortas por armas de fogo". Trump disse que reverteria uma lei que proíbe que verbas do sistema público de saúde sejam usadas nesse tipo de tratamento e que exigirá novos treinamentos voltados a médicos.

Ele também disse que financiaria campanhas publicitárias antidrogas, pesquisas de tratamentos alternativos, analgésicos que não induzam ao vício e maior vigilância, tanto de pacotes enviados aos Estados Unidos quanto nas fronteiras, usando a crise atual dos opiáceos para defender a expansão do muro na divisa com o México, uma de suas maiores promessas de campanha.

"Por muito tempo, perigosos cartéis criminosos puderam se infiltrar em nosso país", disse Trump. "Vamos construir um muro que vai ajudar a acabar com o problema. E precisamos trabalhar com outros países para barrar as drogas na origem". Nesse ponto, ele mencionou a América Latina e a China, país conhecido por produzir fentanil, um opióide ainda mais potente que a heroína.

Trump adiantou que falaria do assunto com o presidente chinês, Xi Jinping, em sua visita ao país em breve. Trump fez campanha prometendo combater o vício em medicamentos opiáceos e, depois de assumir, criou uma comissão para estudar o problema. O colegiado recomendou que o presidente declarasse uma emergência nacional, o que levaria à liberação imediata de recursos e ampliaria o acesso para a droga antioverdose naloxona, que é cara e está em falta em vários Estados.

O ex-secretário de saúde, Tom Price, disse em agosto não achar necessário declarar emergência. Quando era deputado, Price se opôs a uma lei que obrigava os planos de saúde a cobrir tratamento para dependência. Ele não acreditava na eficácia dos tratamentos com metadona para viciados em heroína. Caiu dois meses depois. O primeiro indicado de Trump ao posto de "czar antidrogas", o deputado Tom Marino, abandonou o cargo na semana passada depois que vieram à tona revelações de ele teria atuado a favor da indústria farmacêutica contra medidas para restringir vendas de medicamentos que acabavam no mercado negro.

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