sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Grupo de militares e civis se une à oposição violenta a Maduro


A divulgação de um novo vídeo por parte de um grupo de comando integrado por militares ativos, reformados e civis, na noite da última quarta-feira - no qual afirmam que "chegou a hora de atuar para livrar-se da ditadura comunista e narcotraficante" comandada pelo presidente Nicolás Maduro - aprofundou a tensão dentro da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), poucos dias depois da tomada do estratégico Forte Paramacay por parte da autodenominada "Operação David".

Ainda não existe uma rebelião expressiva dentro dos quartéis venezuelanos, explicaram especialistas, mas as ações isoladas vêm aumentando e existe enorme preocupação por parte do Palácio de Miraflores pelas armas roubadas no domingo, entre elas 85 fuzis russos. "O tempo do diálogo já passou, assim como o eleitoral. Senhores políticos, já chega de enganar o povo apenas por manter cotas de poder", declarou um porta-voz do grupo das redes sociais.

A declaração foi feita poucas horas após a Mesa de Unidade Democrática (MUD) confirmar a decisão de participar das eleições regionais em dezembro. No vídeo, os integrantes da autodenominada "Resistência" afirmaram, ainda, que "chegou a hora de agir: "É responsabilidade de todos os venezuelanos liberar-se da ditadura comunista e narcotraficante". O grupo ainda acusou o governo Maduro de fraude na eleição da ANC: "Isso não é um golpe de Estado, é um ato legítimo para recuperar a democracia", concluiu o vídeo.

"A Operação David é, até agora, a iniciativa mais importante para tentar provocar um levante em várias unidades militares. Eles estão organizados e a ocupação do Forte Paramacay mostrou a vulnerabilidade da FANB", disse a jornalista Sebastiana Barráez, que escreve no site "El Estímulo" e conhece como poucos os bastidores militares de seu país. "O forte está numa localização estratégica (centro do país) e lá estão armas e tanques russos. Caguaripano sabia e por isso escolheu esse alvo". Sebastiana conseguiu descobrir até mesmo o número de armas roubadas pelo grupo liderado pelo capitão Juan Carlos Caguaripano, acusado de traição à pátria em 2014, quando, segundo a FANB, teria participado de uma conspiração contra Maduro. Na época, Caguaripano conseguiu fugir do país (vários de seus colegas foram presos) e não se sabia nada dele até domingo. Hoje, é um dos homens mais buscados pelo governo.

Segundo a jornalista, o grupo de 28 pessoas que participou do assalto ao forte (das quais duas morreram e oito foram detidas) conseguiu apropriar-se de 89 fuzis AK-103, cinco lança-granadas, 140 granadas e seis revólveres, entre outras armas. Os integrantes que conseguiram escapar continuam foragidos e estão dentro do país: "A intenção do grupo era provocar uma rebelião em outros quartéis, mas esse objetivo não foi cumprido, porque o medo é maior. Existe um clima de pânico entre os militares e uma perseguição intensa na FANB. Hoje, mais de cem militares estão presos acusados de traição à pátria e rebelião". Existe, de acordo com ela, uma enorme rejeição à Constituinte entre os militares. Em alguns quartéis, contou, a cúpula militar colocou fotos de oficiais detidos, com a legenda "traidor".

Um dos presos militares mais importantes é o general Raúl Isaias Baduel, que foi ministro da Defesa de Hugo Chávez e até padrinho de uma das filhas do ex-presidente. Baduel foi peça chave no retorno de Chávez ao poder após o golpe de 11 de abril de 2002, mas, com o passar dos anos, a relação entre ambos deteriorou-se. Em 2009 o general, já afastado e crítico de Chávez, foi preso, acusado de corrupção. Quando a condenação de oito anos foi cumprida, Baduel foi novamente acusado, por traição à pátria, por supostamente ter participado de uma conspiração contra Maduro - a mesma de Caguaripano - e detido novamente. Após o ataque ao Forte Paramacay, foi retirado da prisão militar de Ramo Verde e está há mais de 24 horas está desaparecido.

Especula-se que o governo escondeu Baduel acreditando que ele tenha alguma relação com o grupo liderado por Caguaripano. A Confederação Episcopal Venezuelana pediu ao Executivo que informe onde ele está. "O ministro da Defesa, Padrino López, deveria renunciar, porque foi incapaz, até agora, de explicar a ação do comando que roubou as armas e munições do Forte Paramacay", disse José Machillanda, especialista em sociologia militar e professor da Universidade Simón Bolívar. Para o general reformado Cliver Alcalá Cordones, que participou do levante militar de 1992 e hoje integra o chamado chavismo crítico, a Operação David e outros grupos semelhantes ainda não podem ser considerados parte de uma rebelião militar".

"A participação de militares ativos é mínima. Pela História contemporânea, na qual tivemos vários levantes, o que estamos vendo ainda está longe de ser um. São ações isoladas", afirmou Alcalá Cordones, que acusa o governo de "violar sistematicamente a Constituição". Em meio à tensão no mundo militar, na quinta-feira um ciberataque deixou mais da metade dos usuários da companhia estatal de celulares sem serviço. Na segunda-feira, outro ataque tirou do ar dezenas de sites de organismos públicos do país. 

Nenhum comentário: