segunda-feira, 31 de julho de 2017

O petista Bendine começa teatrinho na Lava Jato, antes de marchar para a delação premiada

O ex-executivo das estatais relatou que, em 2014, quando ocupava a presidência do Banco do Brasil, reuniu-se com o executivo da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. No encontro, intermediado pelo publicitário André Gustavo Vieira da Silva, também preso, Aldemir Bendine disse ter ouvido demandas de Reis por financiamento a obras em Angola e Portugal que, de acordo com ele, não foram atendidas pelo banco.

Bendine também citou entre episódios recentes que deixaram “algumas rusgas” com Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, a negativa do Banco do Brasil por financiamento da Arena Corinthians, em São Paulo, e a rejeição de garantias dadas pela empreiteira em outro projeto. Aldemir Bendine atribuiu as desavenças com o empresário à “personalidade difícil” do sinhozinho baiano Marcelo Odebrecht. Depois de sua nomeação à presidência da Petrobras, Bendine afirmou à Polícia Federal que se reuniu uma vez com Marcelo Odebrecht e Fernando Reis em Brasília, na casa de Vieira da Silva, e que também se encontrou com o grande babalorixá empresarial propineiro Emílio Odebrecht e Newton de Souza, ex-presidente do grupo, no escritório de Advocacia Matos Filho, em São Paulo.

No encontro com Marcelo Odebrecht, em maio de 2015, Aldemir Bendine relatou à Polícia Federal que o empreiteiro “praticamente se resumiu a reclamar da postura do governo em relação à Operação Lava Jato” e pretendia, com essa postura, fazer com que o ex-presidente da petrolífera levasse um recado ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Segundo Bendine, ele deixou claro a Odebrecht que não fazia parte “do executivo do governo”.

A reunião com o babalorixá empresarial propineiro Emílio Odebrecht, de acordo com o petista Aldemir Bendine, aconteceu em setembro de 2015 e foi “tensa, com reclamações pesadas por parte do grupo em função de uma série de cancelamentos de negócios”. Bendine afirmou à Polícia Federal que, “mesmo não explicitamente”, se sentiu ameaçado pelo tom da conversa.

Apesar das reuniões com representantes da empreiteira, o ex-presidente da Petrobras relatou à Polícia Federal que não retirou o bloqueio à Odebrecht em obras da petrolífera, endureceu as negociações com a Braskem, braço petroquímico da empresa, em um contrato de compra de nafta e deu um prejuízo de 5 bilhões de reais à empreiteira ao cancelar, “por motivos técnicos”, um contrato de afretamento sondas de perfuração. Em seus acordos de delação premiada, o sinhozinho Marcelo Odebrecht e Fernando Reis deram a versão de que Aldemir Bendine, por meio de André Gustavo Vieira da Silva, cobrou propina da empreiteira em dois momentos. No primeiro, quando Bendine estava à frente do Banco do Brasil, Vieira da Silva teria procurado a empresa e pedido 17 milhões de reais em troca do prolongamento de um empréstimo da Odebrecht Ambiental no banco estatal. Segundo os delatores, esse primeiro valor não foi pago.

Já em 2015, quando o executivo estava prestes a ser nomeado para o comando da Petrobras, Vieira da Silva teria voltado a fazer contato. Dessa vez, de acordo com Odebrecht e Reis, a solicitação foi de 3 milhões de reais e acabou cumprida, em três parcelas de 1 milhão de reais, entregues no apartamento de Antônio Carlos Vieira da Silva, irmão do publicitário. A contrapartida, dizem Odebrecht e Reis, era uma espécie de proteção à construtora dentro da petroleira em meio à Operação Lava Jato. Em seu depoimento, Aldemir Bendine negou que tenha encarregado André Gustavo Vieira da Silva a tratar de propina com a empreiteira e questionou a versão dos delatores. “Porque Marcelo Odebrecht] não perguntou se era verdadeiro que um terceiro estaria solicitando pagamentos indevidos em nome do depoente”, diz o relatório da oitiva de Bendine à Polícia Federal.

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