O ex-executivo das estatais relatou que, em 2014, quando
ocupava a presidência do Banco do Brasil, reuniu-se com o executivo da
Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. No encontro, intermediado pelo
publicitário André Gustavo Vieira da Silva, também preso, Aldemir
Bendine disse ter ouvido demandas de Reis por financiamento a obras em
Angola e Portugal que, de acordo com ele, não foram atendidas pelo
banco.
Bendine também citou entre episódios recentes que deixaram “algumas rusgas” com Marcelo Odebrecht,
ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, a negativa do Banco do
Brasil por financiamento da Arena Corinthians, em São Paulo, e a
rejeição de garantias dadas pela empreiteira em outro projeto. Aldemir
Bendine atribuiu as desavenças com o empresário à “personalidade
difícil” do sinhozinho baiano Marcelo Odebrecht. Depois de sua nomeação à presidência da Petrobras, Bendine
afirmou à Polícia Federal que se reuniu uma vez com Marcelo Odebrecht e Fernando Reis em
Brasília, na casa de Vieira da Silva, e que também se encontrou com o grande babalorixá empresarial propineiro Emílio Odebrecht e Newton de Souza, ex-presidente do grupo, no escritório de Advocacia Matos Filho, em São Paulo.
No encontro com Marcelo Odebrecht, em maio de 2015, Aldemir
Bendine relatou à Polícia Federal que o empreiteiro “praticamente se resumiu a
reclamar da postura do governo em relação à Operação Lava Jato” e
pretendia, com essa postura, fazer com que o ex-presidente da
petrolífera levasse um recado ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Segundo Bendine, ele deixou claro a Odebrecht que não fazia parte “do executivo do governo”.
A reunião com o babalorixá empresarial propineiro Emílio Odebrecht, de acordo com o petista Aldemir
Bendine, aconteceu em setembro de 2015 e foi “tensa, com reclamações
pesadas por parte do grupo em função de uma série de cancelamentos de
negócios”. Bendine afirmou à Polícia Federal que, “mesmo não
explicitamente”, se sentiu ameaçado pelo tom da conversa.
Apesar das reuniões com representantes da empreiteira, o
ex-presidente da Petrobras relatou à Polícia Federal que não retirou o bloqueio à
Odebrecht em obras da petrolífera, endureceu as negociações com a
Braskem, braço petroquímico da empresa, em um contrato de compra de
nafta e deu um prejuízo de 5 bilhões de reais à empreiteira ao cancelar,
“por motivos técnicos”, um contrato de afretamento sondas de
perfuração. Em seus acordos de delação premiada, o sinhozinho Marcelo Odebrecht e
Fernando Reis deram a versão de que Aldemir Bendine, por meio de André
Gustavo Vieira da Silva, cobrou propina da empreiteira em dois momentos.
No primeiro, quando Bendine estava à frente do Banco do Brasil, Vieira
da Silva teria procurado a empresa e pedido 17 milhões de reais em troca
do prolongamento de um empréstimo da Odebrecht Ambiental no banco
estatal. Segundo os delatores, esse primeiro valor não foi pago.
Já em 2015, quando o executivo estava prestes a ser nomeado
para o comando da Petrobras, Vieira da Silva teria voltado a fazer
contato. Dessa vez, de acordo com Odebrecht e Reis, a solicitação foi de
3 milhões de reais e acabou cumprida, em três parcelas de 1 milhão de
reais, entregues no apartamento de Antônio Carlos Vieira da Silva, irmão
do publicitário. A contrapartida, dizem Odebrecht e Reis, era uma
espécie de proteção à construtora dentro da petroleira em meio à
Operação Lava Jato. Em seu depoimento, Aldemir Bendine negou que tenha
encarregado André Gustavo Vieira da Silva a tratar de propina com a
empreiteira e questionou a versão dos delatores. “Porque Marcelo
Odebrecht] não perguntou se era verdadeiro que um terceiro estaria
solicitando pagamentos indevidos em nome do depoente”, diz o relatório
da oitiva de Bendine à Polícia Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário