terça-feira, 4 de julho de 2017

Crise de estaleiros paralisa obras de US$ 6 bilhões no Rio de Janeiro


Navios com obras paralisadas no estaleiro Mauá. Cada navio tem custo aproximado de R$ 300 milhões 

Pelo menos uma vez por semana, trabalhadores do Estaleiro Mauá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, precisam usar uma bomba para retirar dos tanques de um navio atracado no cais água que entra por uma fissura no casco. Ainda inacabada, a embarcação está com as obras paralisadas há dois anos, desde que o Mauá fechou as portas em 3 de julho de 2015, e sofre com a falta de reparo do problema e de manutenção. "A cada dia em que o navio fica parado, é mais um dinheiro que vai ter que ser gasto na sua recuperação depois", lamenta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, Edson Rocha.

Apenas no Mauá, são três navios inacabados, parte de uma lista de esqueletos gerados pela falência da indústria naval do País, após a descoberta do esquema de corrupção montado na Petrobras. Levantamento mostra que, como eles, existem outros três navios, sete sondas, um casco de plataforma e quatro comboios hidroviários — formados, cada um, por quatro barcaças e um empurrador – parados em estaleiros no País, em diferentes estágios de construção.

Juntas, essas encomendas somam US$ 6 bilhões e esperam pela solução de problemas contratuais ou judiciais. Além do fechamento de vagas com a suspensão das obras, a paralisia aumenta o custo de embarcações, que já haviam sido contratadas a preços superiores aos praticados no mercado internacional. Os navios da Transpetro no Mauá foram contratados por US$ 87 milhões, cada um. São parte de uma encomenda de quatro embarcações, uma das quais foi entregue antes da suspensão das obras.

"São barcos praticamente prontos e enferrujados", diz o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Construção e Reparo Naval (Sinaval), Sérgio Bacci: "Para concluir, vai ter que gastar mais dinheiro". Controlado pelo mesmo dono do Mauá, o empresário German Efromovich, o Estaleiro Ilha (Eisa) tem outros três navios inacabados, que foram encomendados pela Log-In, única empresa privada a apoiar o programa de retomada da indústria naval. Nos dois casos, os estaleiros alegaram não ter mais dinheiro para tocar as obras e logo depois pediram recuperação judicial, recorrendo à Justiça em busca de proteção para negociar com credores.

As sondas estão distribuídas em três estaleiros — Brasfels, Jurong Aracruz e Estaleiro Atlântico Sul— e tiveram as obras paralisadas por falta de pagamento da Sete Brasil. Criada com apoio do governo em 2010 para ser a principal fornecedora da Petrobras no pré-sal, a empresa também está em recuperação judicial. O casco da plataforma P-71 está no Rio Grande do Sul, enquanto a Petrobras e o estaleiro Ecovix discutem a rescisão do contrato. Já os comboios hidroviários estão parados no rio Tietê, em Araçatuba (SP), desde que a Justiça Federal determinou a suspensão do contrato assinado pela Transpetro, por suspeita de fraude nas licitações.

A situação remete à primeira grande falência da indústria naval brasileira, no final dos anos 1980, quando problemas financeiros provocaram paralisações em obras. O último navio entregue naquela época, o Livramento, por exemplo, demorou dez anos para ser construído. Na época, empresários do setor naval foram acusados de embolsar dinheiro do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e deixar os estaleiros sem recursos para concluir as embarcações. O sindicato da indústria rechaça a comparação. Diz que, desta vez, a paralisação reflete a mudança na estratégia do governo e da Petrobras. "O problema é que o contratante mudou de ideia", afirma Sérgio Bacci.

O Sindicato da Indústria de Construção Naval e Offshore (Sinaval) se reuniu na última semana com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para pedir a formação de um grupo que avalie medidas para destravar obras e fomentar novas encomendas. O vice-presidente da entidade, Sergio Bacci, argumenta que o banco tem grande exposição ao setor e poderia sofrer com calotes de estaleiros e armadores. Em dezembro, a carteira do BNDES de financiamentos atrelados ao Fundo de Marinha Mercante somava R$ 19 bilhões.

"A Petrobras diz que tem que reduzir sua dívida e prefere contratar mais barato. Mas não dá para resolver o problema da Petrobras e quebrar o País", diz Bacci, citando que 50 mil trabalhadores já foram demitidos no pós-crise. 

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