quarta-feira, 14 de junho de 2017

Temer, na vice-presidência, usou helicóptero de construtora investigada na Lava Jato


A viagem à Bahia em 2011 em um jatinho da JBS não foi a única vez que o presidente Michel Temer usou aeronave de empresa privada para seu deslocamento. Em 2014, o então vice-presidente foi a Tietê, no interior de São Paulo, em um helicóptero pertencente à Juquis Agropecuária Ltda. Temer estava na cidade em compromisso oficial, conforme registra a agenda da Vice-Presidência da República do dia 9 de março de 2014.

O Palácio do Planalto disse que Temer viajou em um helicóptero da FAB, o que contraria relatos de testemunhas e as próprias fotografias do então vice-presidente descendo da aeronave da Juquis. Quando indagado sobre a viagem de Temer à Bahia em 2011, no avião da JBS, o Planalto também afirmou que o deslocamento havia sido feito em aeronave da FAB. No dia seguinte, porém, o governo admitiu que a viagem ocorreu no jatinho Learjet PR-JBS da empresa de Joesley Batista. Em nota oficial, a Secretaria de Comunicação Social informou que Temer "não sabia a quem pertencia a aeronave" e que não pagou pelo serviço.

Nove de março de 2014 era um domingo e o município, terra natal do peemedebista, festejava 172 anos de emancipação. Temer chegou pela manhã, após um voo de cerca de 40 minutos desde São Paulo. Ele desembarcou do helicóptero Bell prefixo PR-VDN no aeroclube de Tietê, acompanhado de auxiliares e do amigo e futuro assessor José Yunes — que pediria demissão no final de 2016, após ser citado nas delações da Odebrecht por supostamente ter recebido R$ 1 milhão para campanhas do PMDB.


Quase ao mesmo tempo, chegou à cidade o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). O tucano, contudo, viajou em um helicóptero do governo do Estado. Na ocasião, também participou do evento o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que a convite de Temer se preparava para disputar pelo PMDB o governo de São Paulo. A quatro meses do início da campanha eleitoral, Temer foi recepcionado com festa em Tietê. Recebeu homenagens da prefeitura e assistiu a uma apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica, regida pelo maestro João Carlos Martins. 

Ao final do evento, Temer embarcou novamente no Bell PR-VDN cinza e seguiu de volta à capital paulista. De acordo com os registros da Força Aérea Brasileira, no mesmo 9 de março de 2014, pelo menos sete ministros e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal requisitaram aeronaves oficiais para viagens a serviço. Temer, contudo, preferiu o helicóptero da Juquis, empresa com sede em São Paulo.

Segundo registrado na Receita Federal, a principal atividade econômica da Juquis é o cultivo de cana-de-açúcar, soja, eucalipto e milho, além da criação de bovinos de corte e equinos. A agropecuária tem como sócio-administrador Vanderlei de Natale, empresário com atuação em diversos segmentos, como construção civil, energia, empreendimentos imobiliários e estacionamento. Uma das empresas que ele administra é a Construbase Engenharia, investigada na Lava-Jato.

A empreiteira é suspeita de ter participado de cartel para vencer a licitação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o Consórcio Novo Cenpes, integrado por Construbase, OAS, Carioca Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS, teria pago R$ 39 milhões em propina para obter o contrato com a Petrobras.

Alvo de mandado de prisão preventiva na Lava-Jato, o diretor da Construbase, Genésio Schiavinato Junior, se entregou à Polícia Federal em Curitiba em 4 de julho do ano passado, sendo libertado quatro dias depois. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem de dinheiro. O contrato firmado pelo Consórcio Novo Cenpes com a Petrobras tinha previsão inicial de custo de R$ 850 milhões, mas uma série de aditivos levou o montante final a superar R$ 1 bilhão.

Na eleição de 2014, a Construbase doou oficialmente R$ 2,25 milhões a campanhas presidenciais. O PT recebeu R$ 500 mil. O R$ 1,75 milhão restante foi repassado ao PSDB. A doação rendeu ao partido um apontamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao analisar a prestação de contas da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB-MG), a Corte verificou que o candidato declarou ter recebido apenas R$ 500 mil, o que depois foi corrigido pelo tucano. Curiosamente, entre as obras da Construbase está o prédio-sede da Justiça Federal em Curitiba, no qual despacha o juiz Sergio Moro. 

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